Veneza pode ser rebaixada à 'patrimônio em perigo' pela Unesco; Ucrânia pede proteção de monumentos

A Unesco começa a analisar neste domingo (10) sua lista de Patrimônios Mundiais, bem como aqueles elencados como "patrimônio em perigo". A lista final deverá ser confirmada dia 25 de setembro, quando locais potencialmente ameaçados descobrirão se entraram para a lista de Patrimônio Mundial da Unesco em uma reunião em Riade, capital da Arábia Saudita.

Turistas embarcam em uma das famosas gôndolas na lagoa de Veneza. REUTERS - MANUEL SILVESTRI

O caso da cidade italiana de Veneza chama a atenção, já que a mesma, listada como Patrimônio Mundial da Unesco desde 1987, pode ser trocada de tabela. Veneza e sua lagoa sofrem com a ineficácia das autoridades públicas diante das mudanças climáticas e da devastação causada pelo turismo de massa. No final de julho, a Unesco recomendou que a localidade fosse "rebaixada" à “patrimônio em perigo”, argumentando que "os impactos das mudanças climáticas e do turismo de massa ameaçam causar mudanças irreversíveis no valor universal excepcional" da cidade.

A agência da ONU recomendou a extensão do perímetro de proteção de Veneza para o continente, o que poderia ameaçar os projetos de desenvolvimento econômico do município. Segundo o enviado da RFI à Roma, “entrar para a lista de patrimônios em perigo seria, sem dúvida, um tapa na cara das autoridades italianas, que são notavelmente incapazes de regular o excesso de turismo”.

No auge do verão, cerca de 100 mil pessoas visitam a cidade diariamente, o dobro do número de venezianos. Dois anos atrás, a Unesco chegou a recomendar que a cidade fosse adicionada à lista de locais ameaçados, mas para evitar o "rebaixamento" as autoridades italianas proibiram navios de cruzeiro de grande porte de entrar na lagoa de Veneza e prometeram, "seguir" as medidas recomendadas pela Unesco.

Entretanto, medidas efetivas têm sido difíceis de serem tomadas, como a cobrança de bilhete de aceso para a cidade, que está sendo planejado há cinco anos. Conforme informações recentes, a taxa poderia entrar em vigor no próximo ano, após sucessivos adiamentos.

Além disso, a Convenção do Patrimônio Mundial aponta que o paredão construído para combater o aumento do nível das águas e inundações ainda não foi concluído, e a proibição de grandes navios de cruzeiro ainda não foi totalmente implementada. 

Ucrânia pede apoio 

Na Ucrânia, os monumentos históricos e o patrimônio cultural não foram poupados pela guerra. Desde o início da invasão russa em grande escala do país, o Ministério da Cultura da Ucrânia listou mais de 1.600 locais culturais danificados ou destruídos pelas forças russas.

Conforme informações da correspondente da RFI em Kiev, Emmanuelle Chaze, entre os monumentos mais notáveis estão os edifícios no centro histórico de Odessa, recentemente classificados como Patrimônio Mundial da Unesco.

Para proteger o que ainda é possível ser salvo, a Ucrânia solicitou ao órgão que acrescentasse outros 20 monumentos à lista internacional de locais sob proteção reforçada, incluindo igrejas de madeira na região dos Cárpatos, todo o centro histórico de Lviv - a parte medieval já está sob proteção desde a década de 1990 - o túmulo do poeta Taras Shevchenko, o edifício Derzhprom em Kharkiv, o primeiro arranha-céu a ser construído na União Soviética, e em Kiev o mosteiro Pechersk Lavra e a catedral de Santa Sofia.

Segundo o mecanismo de proteção estabelecido pela Unesco, qualquer pessoa que não respeite essa posição de proteção aprimorada está sujeita a sanções criminais. A destruição intencional de locais protegidos pode constituir um crime de guerra.

As avaliações da Unesco

A lista de Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco abrange um total de 1.121 locais em todo o mundo, divididos em 869 sítios culturais, 213 sítios naturais e 39 locais mistos. No entanto, a organização mantém uma lista menos prestigiada, que reúne locais considerados em risco, constituída por 55 áreas e poderá ser alargada no próximo ano.

Já a lista de Patrimônio Mundial em Perigo inclui diversos locais situados em zonas de guerra ou em países instáveis, como Síria, Líbano, Palestina, Afeganistão, Iraque, Iémen, Venezuela, Líbia, Mali e Ucrânia. 

Também foram emitidos alertas sobre Budapeste, na Hungria; Zanzibar, na Tanzânia; e a Grande Barreira de Coral australiana, que também serão avaliadas pela Unesco sob risco de ingressar na lista de Patrimônio Mundial em Perigo.

Por conta do intenso terremoto que deixou mais de dois mil mortos no Marrocos na sexta-feira (8), houve danos na cidade velha de Marrakech e seu patrimônio tombado pela Unesco, que incluem muralhas datadas do século XII e a emblemática mesquita Koutoubia.

(Com RFI, AFP e agências)