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Alemanha apresenta plano para a legalização da maconha recreativa

A Alemanha quer legalizar o uso da maconha para fins pessoais e dentro de certos limites, em uma das reformas sociais mais simbólicas do Governo, que poderá entrar em vigor dentro de alguns meses. O ministro da Saúde apresentou as linhas gerais de seu plano nesta quarta-feira (16), e o Parlamento ainda precisa analisá-lo. Berlim quer evitar problemas, especialmente os do modelo holandês, mas muitos estão criticando o sistema por ser "burocrático demais".

Plantas de cannabis cultivadas na Alemanha por uma empresa farmacêutica, em novembro de 2022 (Imagem ilustrativa).
Plantas de cannabis cultivadas na Alemanha por uma empresa farmacêutica, em novembro de 2022 (Imagem ilustrativa). © JENS SCHLUETER / AFP
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"Um ponto de virada em uma política que infelizmente havia fracassado": o ministro da Saúde da Alemanha, Karl Lauterbach, elogiou os méritos de seu projeto de lei, propondo um modelo que ele considera melhor do que o de outros países.

A atual política repressiva é um beco sem saída, de acordo com o ministro: o mercado paralelo de entorpecentes e da maconha está crescendo, os produtos vendidos nem sempre são de boa qualidade e a polícia e o sistema judiciário estão sobrecarregados. Chegou a hora do pragmatismo e da semiliberalização, de acordo com as informações do correspondente da RFI em Berlim, Pascal Thibaut.

O texto, que ainda precisa ser votado pelo Parlamento nos próximos meses, foi apresentado pela coalizão social-democrata de Olaf Scholz com os ecologistas e liberais como a "melhor tentativa de legalizar a maconha" entre as medidas já em vigor em outros países.

Ao contrário do modelo de seu vizinho, a Holanda, não haverá vendas sem receita em lojas ou cafeterias na Alemanha. Para obter a cannabis, a passoa precisará ser membro de um clube, que produzirá a planta de forma controlada: Berlim se inspira em parte no modelo espanhol.

Os adultos poderão comprar 25 gramas por dia e até 50 gramas por mês, e as pessoas físicas poderão ser autorizadas a ter três plantas para uso próprio.

De acordo com o ministro da Saúde, outra parte da legislação que ainda está por vir prevê projetos-piloto envolvendo vendas em lojas, a serem apresentados "no segundo semestre do ano".

Críticas à legalização

As propostas desta quarta-feira foram amplamente criticadas. Os defensores de uma liberalização mais ampla estão desapontados e acreditam que o mercado ilegal permanecerá inabalável. A direita denunciou uma "perda de controle do Estado" e um incentivo ao uso de drogas mais pesadas, principalmente para os jovens.

Os médicos apontam para os danos psicológicos de longo prazo. A Associação de Pediatras da Alemanha condenou "veementemente" o plano apresentado por Karl Lauterbach, ele próprio médico e pai de uma adolescente.

O ministro também está planejando lançar uma grande campanha para conscientizar os jovens sobre os perigos da maconha. "É um assunto tabu até agora", disse ele. "Como o cérebro dos jovens continua a mudar até os 25 anos de idade, o uso regular de maconha pode levar a problemas irreversíveis de concentração e psicose", ele alertou.

Juízes e policiais consideram o esquema "burocrático demais", temendo que o monitoramento de regras muito detalhadas lhes dê ainda mais trabalho, em vez de aliviar sua carga de trabalho.

Para Steffen Geyer, presidente da Federação de Clubes Sociais de Cannabis, a nova legislação é "muito complicada". "Queremos que os usuários de cannabis sejam colocados em pé de igualdade com os usuários de álcool e tabaco", declarou durante uma manifestação em Berlim no sábado (12).

Legislação detalhada, consumo regulamentado

O atual governo alemão fez da legalização controlada um dos projetos mais importantes de seu mandato, mas teve que reduzir seus planos diante das reservas da União Europeia. Mesmo assim, a Alemanha terá uma das legislações mais liberais da Europa, seguindo os passos de Malta e Luxemburgo, que legalizaram a maconha para fins recreativos em 2021 e 2023, respectivamente.

Na Holanda, um dos pioneiros da liberalização por meio de suas famosas cafeterias, a posse para uso pessoal é descriminalizada, ou seja, sem processo legal até 30 gramas.

A nova lei prevê a criação de associações sem fins lucrativos em que membros adultos poderão cultivar a planta exclusivamente para consumo próprio, sob a supervisão das autoridades públicas.

Esses "Clubes Sociais de Cannabis", como se autodenominaram, terão suas atividades regulamentadas e monitoradas constantemente pelas autoridades: só poderão fornecer a seus membros 25 gramas por dia, com um máximo de 50 gramas por mês. Os jovens com idade entre 18 e 21 anos terão um limite menor: 30 gramas por mês.

De acordo com o site da Federação de Clubes Sociais de Cannabis, pelo menos 111 associações já foram criadas, com o Governo limitando seu número a 500. Espera-se que essas associações cobrem de seus membros uma taxa "muito pequena" e que eles recebam a maconha a preço de custo, explicou o ministro da Saúde, Karl Lauterbach.

O consumo de cannabis teria de ocorrer fora desses clubes e seria proibido a menos de 200 metros de suas instalações, bem como em escolas, playgrounds, campos esportivos e associações de jovens.

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