Acessar o conteúdo principal

Kremlin 'lamenta' morte de jornalista da AFP na Ucrânia e pede esclarecimentos sobre 'circunstâncias'

O Kremlin pediu nesta quarta-feira (10) esclarecimentos sobre as "circunstâncias" da morte, na terça-feira (9), do jornalista da Agence France-Presse (AFP) Arman Soldin, de 32 anos, em um ataque às posições das forças de Kiev na Ucrânia, e expressou sua "tristeza" sobre o episódio.

Uma selfie do jornalista francês de origem bósnia Arman Soldin durante uma missão da AFP na Ucrânia, onde morreu em 9 de maio de 2023, aos 32 anos, vítima de um ataque russo perto de Bakhmut.
Uma selfie do jornalista francês de origem bósnia Arman Soldin durante uma missão da AFP na Ucrânia, onde morreu em 9 de maio de 2023, aos 32 anos, vítima de um ataque russo perto de Bakhmut. © Arman SOLDIN / AFP/Archivos
Publicidade

"Precisamos entender as circunstâncias da morte deste jornalista", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, pedindo para não "tomar por verdade absoluta" as versões ucranianas que apontam os russos como os responsáveis pelo ataque mortal. “Só podemos lamentar” a morte do coordenador de vídeo da AFP na Ucrânia, ele acrescentou.

As primeiras informações apontam que o jornalista, que era francês, foi morto em um ataque com projétil russo no leste da Ucrânia, perto da cidade sitiada de Bakhmout. À noite, o presidente Emmanuel Macron prestou homenagem a Soldin. "Um jornalista da Agence France-Presse, um de nossos compatriotas, Arman Soldin, foi morto na Ucrânia. Com coragem, desde as primeiras horas do conflito, ele esteve no front para apurar os fatos, para nos informar", twittou o chefe de Estado francês.

Pouco depois, o Ministério da Defesa ucraniano apresentou suas “sinceras condolências à família e aos colegas”, acrescentando na mesma rede social: “Dedicou sua vida a relatar a verdade ao mundo”.

Arman Soldin fazia parte de uma equipe de cinco repórteres da AFP que acompanhava soldados ucranianos na frente mais ativa da guerra, em torno de Chassiv Iar, uma cidade ucraniana perto de Bakhmout e alvo diário das forças russas.

A salva de foguetes Grad que o atingiu foi disparada por volta das 16h30 (horário local). Ele foi atingido enquanto estava deitado no chão tentando se proteger. O resto da equipe escapou ileso.

“Sua morte é um lembrete terrível”

"A agência como um todo entrou em colapso", afirmou Fabrice Fries, CEO da AFP. "Sua morte é um lembrete terrível dos riscos e perigos enfrentados pelos jornalistas diariamente ao cobrir o conflito na Ucrânia."

Phil Chetwynd, diretor de notícias da AFP, elogiou a memória de um jornalista "corajoso, criativo e tenaz". "O trabalho brilhante de Arman resumiu tudo o que nos deixa orgulhosos do jornalismo da AFP na Ucrânia", ele continuou.

Experiente repórter de imagens, anteriormente trabalhando em Londres, Arman Soldin era o coordenador de vídeo na Ucrânia desde setembro de 2022, e viajava regularmente para as linhas de frente. Ele também fez parte da equipe da AFP que cobriu os primeiros dias da invasão russa.

"Arman era entusiasmado, dinâmico, corajoso. Ele era um verdadeiro repórter de campo, sempre pronto para ir, mesmo para as áreas mais difíceis", disse a diretora da AFP Europa, Christine Buhagiar.

"O mundo está em dívida com Arman"

Na Assembleia Nacional Francesa, deputados de todos os grupos se levantaram na noite de terça-feira para aplaudir Soldin. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), uma organização sediada nos Estados Unidos, pediu no Twitter que "as autoridades russas e ucranianas investiguem rigorosamente as circunstâncias" de sua morte.

"O mundo está em dívida com Arman" e com "os outros dez repórteres e funcionários da mídia que perderam suas vidas" cobrindo o conflito, reagiu Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca, na terça-feira. “O jornalismo é um dos alicerces de uma sociedade livre”, observou ela.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, por sua vez, declarou estar "arrasado" com o anúncio de sua morte. "Tantos jornalistas trabalham para expor e relatar a verdade em condições extremamente perigosas", disse ele.

Resgatado de Sarajevo

Recrutado em Roma em 2015 como estagiário, antes de ingressar no escritório de Londres no mesmo ano, Arman, de nacionalidade francesa e origem bósnia, nasceu em Sarajevo. Ele foi uma das primeiras pessoas retiradas pela França em 1992, no início do cerco à cidade. Ele tinha apenas um ano de idade.

"As histórias de refugiados me tocam", revelou ele em 2022 para o blog Making Of da AFP, entrevistado de Kiev enquanto se iluminava à luz de velas. Ele falava francês, inglês e italiano fluentemente, mas suas origens o ajudaram em seu trabalho na Ucrânia: "Eu falo um pouco em bósnio, também é uma língua eslava, nos entendemos um pouco (...) "Muitas mulheres se chamam Oksana, minha mãe também".

Jogador de futebol talentoso, ele jogou, quando mais jovem, no Estádio Rennais, no oeste da França, mas não quis seguir a carreira profissional no esporte. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, Arman se ofereceu para estar entre os primeiros enviados especiais da agência.

“Quase um ano desde a minha chegada pela primeira vez à Ucrânia, que mudou a minha vida”, afirmou em fevereiro, se dizendo “muito orgulhoso e emocionado com o trabalho, o esforço e as lágrimas que lhe dedicamos com meus colegas". "Não acabou", acrescentou.

Arman Soldin é o 11° repórter, intermediário ou motorista de jornalistas morto na Ucrânia desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro de 2022, de acordo com a contagem das ONGs especializadas Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.