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Finlândia: futuro premiê, Petteri Orpo terá desafio de formar governo e agradar base eleitoral

Após vitória nas eleições legislativas no domingo (2), o líder do partido de centro-direita Coalizão Nacional, Petteri Orpo, 53, promete fazer da gestão do orçamento a maior prioridade do seu governo.

O líder do partido da Coalizão Nacional, Petteri Orpo, entre a presidente do SDP, Sanna Marin (à esquerda) e a presidente do partido finlandês, Riikka Purra, durante coletiva de imprensa  após a divulgação do resultado das eleições legislativas, no Parlamento finlandês em Helsinque, no domingo, 2 de abril de 2023.
O líder do partido da Coalizão Nacional, Petteri Orpo, entre a presidente do SDP, Sanna Marin (à esquerda) e a presidente do partido finlandês, Riikka Purra, durante coletiva de imprensa após a divulgação do resultado das eleições legislativas, no Parlamento finlandês em Helsinque, no domingo, 2 de abril de 2023. © AP / Heikki Saukkomaa
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Este ex-ministro experiente, que conseguiu se manter à frente do partido apesar de uma derrota nas eleições legislativas de 2019, obteve sucesso desta vez ao superar sua popular rival social-democrata, a atual chefe do governo, Sanna Marin, bem como os nacionalistas anti-imigração do Partido dos Finlandeses, que também esperavam conquistar o posto.

“É uma grande vitória”, saboreou Orpo, que também é filho de político, à frente de militantes, após uma noite eleitoral cheia de suspense.

A Finlândia é reconhecida por sua sobriedade e economia severas, ficando ao lado de outros países da União Europeia preocupados com o rigor orçamentário. A chegada do novo chefe de Governo pode significar mais polêmica em Bruxelas quando as despesas do grupo estiverem em pauta.

"O mais importante (...) é pararmos de aumentar a dívida", declarou Orpo ainda em campanha. Mesmo correspondendo a 73% do PIB, a dívida pública da Finlândia ainda permanece bem abaixo dos níveis de outros países europeus.

Reserva de € 6 bilhões

Mas Petteri Orpo parece ter conseguido convencer a opinião pública de que esse patamar, que aumentou cerca de 10 pontos em quatro anos, era alarmante, e que era imprescindível um plano de reserva de € 6 bilhões.

Diante das boas avaliações do governo de Sanna Marin em outras questões importantes - gestão da pandemia de Covid, adesão à Otan, firmeza diante de Moscou e apoio comprometido à Ucrânia - ele parece ter encontrado o que considera ser o calcanhar de Aquiles da líder de 37 anos.

"Quero consertar nossa economia, quero impulsionar o crescimento econômico", declarou o cientista político e economista. Sanna Marin “não se preocupa com a economia, não se preocupa com a dívida”, insistiu, atraindo em troca a acusação da rival de querer “tirar dos pobres para dar aos ricos”.

Filho de um ex-executivo do "Kokoomus", o partido histórico da direita finlandesa, Petteri Orpo fez campanha no topo das pesquisas, mas sua vantagem havia diminuído nas últimas semanas, resultando em uma batalha a três muito acirrada.

Desafio de formar maioria no Eduskunta

Com o primeiro lugar na eleição, este homem natural do sudoeste do país herda, salvo surpresas, o cargo de primeiro-ministro. Mas ele se vê diante de um dilema para formar a maioria no parlamento de 200 assentos, o Eduskunta.

Ou ele negocia à sua esquerda com Sanna Marin, para formar um governo "azul-vermelho" que não seria um tabu para uma classe política finlandesa – mas que pareceria incoerente depois de disparar contra a política econômica dos social-democratas. Ou, mais provavelmente, se aproxima da extrema direita do partido nacionalista dos finlandeses, em que a linha anti-imigração também será difícil de conciliar com a dele.

"Na minha opinião, a Finlândia não pode sobreviver sem mais imigração trabalhista", afirmou ele também durante sua campanha. "Quero que a Finlândia continue sendo um país aberto e internacional, é disso que vivemos, das exportações."

Apesar destas e de outras divergências sobre a UE e o clima, seu partido e a formação nacionalista "têm muito em comum", disse ainda durante a campanha. "Não há partido de extrema direita na Finlândia", revelou ele à imprensa estrangeira na noite de domingo.

“Eleitores difíceis de se agradar ao mesmo tempo”

Mas a formação de governo não deve ser o único desafio do provável futuro premiê, ele também terá que “orquestrar” sua base eleitoral. É o que avalia Louis Clerc, historiador e professor da Universidade de Turku, na Finlândia, em entrevista à RFI.

“Seu partido tem eleitorado principalmente entre os desempregados, a classe trabalhadora, mas também uma grande parte da pequena classe média rural. Será difícil agradar a todos os eleitores ao mesmo tempo. Mas, chegando ao governo, ele terá as mesmas dificuldades com a direita radical, que ostenta um discurso extremamente crítico sobre a imigração, sobre a modernidade social e, em termos de valor, um discurso extremamente crítico sobre a União Europeia", diz o historiador. 

A essas questões se soma ainda uma forte hostilidade em relação à luta contra as mudanças climáticas, acrescenta Clerc. “É um partido que representa os interesses da parte da população que se opõe às medidas mais eficazes contra o aquecimento global, principalmente no que diz respeito à utilização de automóveis, às restrições a certas formas de agricultura”, explica o historiador.

Óculos largos, cabelos curtos, o estilo de Petteri Orpo é bem convencional. Amante da natureza, da pesca e de caminhadas, ele é casado e pai de dois filhos. Envolvido na política na adolescência, demorou 12 anos para concluir o mestrado, muito ocupado com o ativismo.

Tranquilo e urbano

A longevidade deste homem tranquilo e urbano, no entanto, suscita dúvidas em um mundo político implacável. Sua calma aparente às vezes é um trunfo em discussões acaloradas, mas, muitas vezes, ele é encurralado por oradores mais incisivos.

Mesmo a idade e a experiência não o isentam de alguns erros, como quando teve que se desculpar por ter criticado os "gritos" de Marin e outro líder do partido durante um debate, atraindo acusações de sexismo.

Mas Orpo está acostumado a vencer adversários mais extravagantes ou mais conhecidos no exterior do que ele. Como quando conquistou a liderança do partido derrotando o ex-primeiro-ministro Alex Stubb.

(Com informações da AFP)

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