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Putin faz novas ameaças com arsenal nuclear; Ocidente acusa Moscou de abalar segurança pós-Guerra Fria

Assim que o presidente russo, Vladimir Putin, fez seu discurso à nação, em Moscou, nesta terça-feira (21), começaram as reações ocidentais ao que muitos países entenderam como ameaças à estabilidade mundial. A Ucrânia reforça a promessa de repelir os invasores, enquanto a Otan lamenta a decisão da Rússia de suspender sua participação no Tratado de não-proliferação de armas estratégicas, atitude que Washington classificou como “irresponsável”.

Uma mulher passa por um prédio de apartamentos em chamas após um bombardeio em Mariupol, Ucrânia, em 13 de março de 2022.
Uma mulher passa por um prédio de apartamentos em chamas após um bombardeio em Mariupol, Ucrânia, em 13 de março de 2022. AP - Evgeniy Maloletka
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Considerando o anúncio como "infeliz e irresponsável", o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que os Estados Unidos sempre tomariam as medidas necessárias para sua segurança e a de seus aliados. Falando a repórteres na Embaixada dos Estados Unidos em Atenas, Blinken reforçou que os EUA permanecem abertos ao diálogo. “É claro que continuamos prontos para discutir com a Rússia a limitação de armas estratégicas a qualquer momento", declarou.

“A crítica e a acusação dos erros ocidentais como a origem de tudo, além da depravação do ocidente, são recorrentes há mais de um ano [no discurso de Putin], não há surpresa", destaca Jean-François Bouthors, jornalista e autor do livro “Poutine, la logique de la force” (“Putin, a Lógica da Força”, em tradução liver). "É a continuidade de sua visão”, ele destaca em entrevista à RFI. O que chama a atenção do escrito, contudo, "é o tempo que Putin passou falando aos russos para afirmar a resiliência da nação e para explicar o que o governo podia fazer por eles”, acrescenta Bouthors.

O fato de o líder russo ter falado pouco sobre a Ucrânia mostra que Putin fez um discurso de coesão nacional. “Mesmo se há descontentamento em razão de vidas perdidas e das questões econômicas, a nação russa, pelo que podemos saber, parece ser solidária ao seu chefe, porque os russos vêm ouvindo esse discurso contra o inimigo desde os anos 1950”, analisa Bouthors sobre o apoio da opinião pública a uma guerra que já dura um ano.

“No fundo, ele não tem nada para anunciar de glorioso”, analisa o jornalista sobre o fato de Moscou não ter tido nenhuma grande vitória no terreno. Para o especialista, Vladimir Putin não pode voltar atrás em seus planos, o que poderia significar o fim de seu governo. “Hoje, há diversos grupos armados que coexistem na Rússia, que Putin usa para assustar o Ocidente no front. Mas se a guerra acabar, esses grupos um dia vão acertar contas dentro da Rússia e podemos pensar em conflitos internos. Por isso Putin não pode recuar. Se ele recua, ele acaba”, conclui.  

New Start 

No seu discurso desta terça-feira, o presidente russo emitiu novas ameaças nucleares implícitas aos países ocidentais que apoiam a Ucrânia, abrindo as portas para uma retomada dos testes nucleares russos, se os Estados Unidos fizerem o mesmo. “Ninguém deve abrigar perigosas ilusões de que a paridade estratégia global pode ser destruída", afirmou Putin.

"Sou obrigado a anunciar hoje que a Rússia está suspendendo sua participação no tratado de armas estratégicas", acrescentou o presidente Vladimir Putin, justificando esta decisão pelo fato de que Moscou não pode realizar inspeções para verificar sua aplicação pelos países ocidentais.

Ao anunciar a suspensão de sua participação no tratado de não-proliferação de armas estratégicas, Moscou esclarece que não se retira formalmente do acordo. Mesmo assim, a medida atraiu imediatamente críticas da Otan e de Washington.

O New Start (Strategic Arms Reduction Treaty, em inglês) ou Tratado de Redução de Armas Estratégicas foi assinado em 2010. O documento limita em 1.550 o número de ogivas nucleares que as duas ex-superpotências da guerra fria podem implantar em mísseis balísticos, navios, submarinos ou bombardeiros.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, convidou Moscou a reconsiderar a medida. "Lamento a decisão anunciada hoje pela Rússia de suspender sua participação no Tratado New Start", disse ele durante uma conferência de imprensa em Bruxelas. "Peço à Rússia que reconsidere sua posição", acrescentou Stoltenberg. "Mais armas nucleares e menos controle de armas tornam o mundo mais perigoso", ele afirmou.

O Tratado New Start é o último acordo bilateral desse tipo entre os Estados Unidos e a Rússia. Moscou já havia anunciado, no início de agosto, a suspensão das inspeções americanas planejadas em suas instalações militares, no âmbito do acordo.

"O anúncio da Rússia (...) é mais uma prova de que o país está apenas demolindo o sistema de segurança que foi construído após o fim da Guerra Fria", acrescentou Josep Borrell, chefe de diplomacia da União Europeia.

Ucrânia promete expulsar russos

No dia em que o presidente russo defendeu sua operação militar na Ucrânia, pelo menos cinco pessoas morreram em ataques em Kherson, cidade no sul do país invadido. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou que o exército russo "mata civis sem piedade" nesta cidade reconquistada pelas forças ucranianas em novembro.

A Ucrânia "caçará e punirá" a Rússia, reagiu Andriy Iermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, nesta terça-feira, após o discurso do chefe de Estado russo à nação. "Para resumir, [os russos] estão estrategicamente em um impasse. Nossa tarefa é expulsá-los da Ucrânia e puni-los por tudo", declarou Iermak pelo Telegram.

(Com informações da RFI e da AFP)

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