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Morre Bento 16, o papa conservador que renunciou à chefia da Igreja Católica

Morreu neste sábado (31) o papa emérito Bento 16, aos 95 anos. O ex-sumo pontífice estava gravemente doente e vivia no monastério Mater Ecclesiae, no Vaticano, desde que renunciou a seu posto à frente da Igreja Católica, em 2013.

O papa emérito Bento 16. Bento deixou o posto de chefe da Igreja em 2013, após oito anos de um pontificado marcado por crises. Desde então, ele vivia em um monastério na Cidade do Vaticano. Na foto, feita em 2014, ele participa da cerimônia de beatificação de seu antecessor, o papa João Paulo 2°
O papa emérito Bento 16. Bento deixou o posto de chefe da Igreja em 2013, após oito anos de um pontificado marcado por crises. Desde então, ele vivia em um monastério na Cidade do Vaticano. Na foto, feita em 2014, ele participa da cerimônia de beatificação de seu antecessor, o papa João Paulo 2° AP - Andrew Medichini
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"Lamentamos informar que o papa emérito Bento 16 morreu hoje às 9h34 no mosnastéiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Maiores informações serão enviadas o mais rápido possível", informou o porta-voz. Seu corpo descansará a partir de segunda-feira (2) na Basílica de São Pedro, anunciou o Vaticano.

Na quarta-feira (28), seu sucessor, o papa Francisco, havia anunciado o agravamento de seu estado de saúde e pedido orações aos fiéis para que o Senhor “o consolasse e o apoiasse”. Sua saúde fragilizada pela idade havia piorado rapidamente e Bento 16 estava sob cuidados médicos permanentes. 

Nomeado chefe da Igreja Católica em 2005, após a morte de João Paulo 2°, Joseph Ratzinger tinha 78 anos quando se tornou o primeiro papa de origem alemã da história moderna. Mas após um pontificado marcado por diversas crises, em 2013, surpreendeu o mundo ao anunciar sua renúncia por motivos de saúde.

Com a nomeação do argentino Francisco como pontífice, Bento se recolheu no monastério do Vaticano até o fim de sua vida. Nos últimos anos, o papa emérito continuava a receber visitas, apesar de seus problemas de saúde. As fotos mostravam um homem em cadeira de rodas e cada vez mais fraco.

Um papa conservador

Joseph Ratzinger nasceu em uma família católica da pequena cidade da Baviera Marktl-am-Inn em 1927, durante uma semana santa.

Após participar da Segunda Guerra Mundial como soldado e ser prisioneiro em um campo de trabalhos forçados, Ratzinger ingressou no curso de teologia em Munique com o fim do conflito mundial. Em 1951, ele foi ordenado padre e começou sua carreira como professor de teologia na Escola de Freising, onde se aprofundou no estudo dos estados de Santo Agostinho.

Ao longo de mais de 25 anos ele ensina teologia e participa ativamente das discussões filosóficas da Igreja. Em 1977, Ratzinger é nomeado arcebispo de Munique e, no mesmo ano, ganha o posto de cardeal. Na chefia do Dicastério para a Doutrina da Fé, em Roma, o alemão atua por mais de 20 anos como guardião do dogma da Igreja.

Ao ser escolhido como papa, Ratzinger adota o nome de Bento 16, indicando a linha conservadora de seu pontificado. Durante os oito anos à frente da Igreja Católica, o alemão adotou posições duras sobre o aborto, a homossexualidade e a eutanásia, evitando qualquer tipo de atualização das posições do Vaticano sobre as mudanças na sociedade.

Em 2010, durante uma visita à Espanha, por exemplo, Bento 16 chegou a pedir ao governo espanhol que não legalizasse o aborto e que protegesse o casamento heterossexual. Esse tipo de posicionamento político fez com que o pontificado de Bento 16 fosse marcado por protestos contra o papa ao redor do mundo, em um momento de crise do Catolicismo.

Seu papado também foi marcado por um escândalo financeiro. Em 2012, o vazamento de documentos secretos do Vaticano, conhecido como VaticanLeaks, revelou uma ampla rede de corrupção e nepotismo que beneficiava certos parceiros comerciais da Igreja em contratos superfaturados.

Escândalos de pedofilia relacionados à Igreja foram também razão de crise durante seu papado.

Bento 16 foi o primeiro para a renunciar em mais de 600 anos. O anúncio, feito em latim, dizia que ele não se sentia mais com forças suficientes para governar o "ministério de Pedro". "No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, quer do corpo quer do espírito", detalhou.

O papa Francisco durante visita ao papa emérito Bento 16 em 2013.
O papa Francisco durante visita ao papa emérito Bento 16 em 2013. REUTERS/Osservatore Romano

De Bento a Francisco

Com a vacância da Santa Sé, foi necessário um novo conclave apenas oito anos depois daquele feito após a morte de João Paulo 2°. A escolha dessa vez foi por um nome mais progressista, o do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que se tornou o papa Francisco.

A partir daí, Bento 16 tornou-se papa emérito e se recolheu dentro do Vaticano. No entanto, abriu as portas para diálogos teológicos com seu sucessor, mesmo sobre temas em que os dois religiosos pareciam não concordar. Segundo o papa Francisco, a relação dos dois era fraterna e afetuosa, marcada por numerosos encontros ao longo dos anos.

A história dessa misteriosa transição de poder instigou discussões em todo o mundo e, em 2019, a relação dos dois religiosos foi tema do filme "Dois Papas", dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.

Inércia em casos de pedofilia

Após anos de reclusão, o nome de Bento 16 voltou a aparecer na imprensa no início de 2022. O papa emérito foi acusado de não ter agido para afastar quatro religiosos suspeitos de pedofilia em sua arquidiocese quando era cardeal em Munique e Freising, entre 1977 e 1982. A acusação faz parte de um relatório independente que apontou quase 500 vítimas de abusos sexuais na arquidiocese de Munique-Freising.

À época, o papa emérito expressou sua comoção e disse se sentir envergonhado pelos abusos cometidos por clérigos contra menores de idade. A maioria das vítimas eram meninos de até 14 anos.

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