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Sob forte esquema policial, parada LGBT+ reúne ucranianos e poloneses em Varsóvia

Ao som de músicas pop misturadas a sirenes de carros policiais, milhares de pessoas marcharam em pleno centro da capital da Polônia, país onde os direitos LGBT+ são quase inexistentes. As vítimas do ataque a um bar gay em Oslo na noite de sexta-feira (24) foram homenageadas. 

Sob forte esquema de segurança, milhares de pessoas desfilaram em Varsóvia durante uma parada LGBTQ+ que reuniu duas capitais: Kiev e Varsóvia, além de homenagear mortos em ataque a bar em Oslo. Em 25 de junho de 2022.
Sob forte esquema de segurança, milhares de pessoas desfilaram em Varsóvia durante uma parada LGBTQ+ que reuniu duas capitais: Kiev e Varsóvia, além de homenagear mortos em ataque a bar em Oslo. Em 25 de junho de 2022. © Gábi Fürst
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Gábi Fürst, de Varsóvia 

A parada foi palco de protestos de poloneses e ucranianos contra a guerra na Ucrânia e a pressão do governo de Varsóvia declaradamente contra os direitos LGBTQIA+.

No meio da multidão estavam duas ucranianas segurando cartazes, em silêncio. Mariia Klyus, advogada, e Khrystyna Morozova, assessora política, saíram de Kiev exclusivamente para a parada na Polônia. Em um dos cartazes estava estampado o rosto do soldado ucraniano Viktor, abertamente LGBT e que ajuda outros militares na mesma condição. Ele está na linha de frente dos combates no leste da Ucrânia, local mais tenso do conflito desde o início da guerra.

“A gente precisa de armas, não é possível lutar mais, nos sentimos sozinhos na guerra e na guerra diária de sermos quem somos”, afirmam as ucranianas apontando para um cartaz com o tema da parada: "Kiev e Varsóvia: marchando juntos pela paz".

As ucranianas  Mariia Klyus e Khrystyna Morozova saíram de Kiev exclusivamente para a parada na Polônia. Elas mostram um cartaz do militar ucraniano Viktor, abertamente LGBT que ajuda outros militares na mesma condição. Em 25 de junho de 2022.
As ucranianas Mariia Klyus e Khrystyna Morozova saíram de Kiev exclusivamente para a parada na Polônia. Elas mostram um cartaz do militar ucraniano Viktor, abertamente LGBT que ajuda outros militares na mesma condição. Em 25 de junho de 2022. © Gábi Fürst

A tarefa foi árdua para os organizadores do evento, para que as duas capitais pudessem se manifestar e celebrar a diversidade da sigla que engloba lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, interssexuais e assexuais. 

As notícias envolvendo a população LGBT+ dos dois países geralmente são ruins, já que homossexuais não têm acesso legal ao casamento e encontram dificuldades até mesmo para registrar queixa na polícia por agressão física nas ruas ou em casa.

Longe dos direitos básicos LGBT+

Num país de grande influência católica e conservadora como a Polônia, os participantes da parada já saem de casa preparados para enfrentar o ódio nas ruas. “Eu tive que sair sozinha do meu apartamento, só encontrei um amigo na concentração do protesto. Eu saio mais coberta e apenas aqui eu me torno o que que quero ser, com roupas mais confortáveis”, conta Agneszka, polonesa, que se identifica como lésbica abertamente e mora nos arredores de Varsóvia.

"Me sinto empoderada por estar aqui, é especial, como uma drag queen”, conta Mateusz Mirowski, que veio da cidade de Wroclaw, no interior da Polônia.

Do outro lado da grande marcha, sob os 31ºC do início do verão polonês, estava o casal de dança burlesca, Red Juliette, de 38 anos, e Dildolette, de 33.

“A celebração alegre e colorida carrega também o medo de como seguirá a luta pelos direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros após o que vem acontecendo na Rússia, Hungria e Ucrânia”, lembra com tristeza Dildolette, que mora a poucos metros do local.

O governo polonês do presidente Andrzej Duda vem, desde 2019, atacando cada vez mais a comunidade LGBTQIA+. A segregação tem sido usada como forma de campanha política e ajudou a manter os atuais políticos no poder, aponta Slava Melnyk, diretor da organização polonesa de campanha contra a homofobia KpH. 

De origem ucraniana, Slava trabalha há 10 anos, como voluntário na organização sem fins lucrativos na Polônia.

Para o ativista, a comunidade gay, lésbica e trans está ainda mais engajada, enquanto os políticos usam o ódio como método populista. “Esta parada de Kiev com Varsóvia nos ensina como nos momentos mais difíceis devemos reagir. Muitos ucranianos também estão ajudando os outros, mesmo também passando por problemas extremos como a falta de moradia e perspectivas de vida”, completa o ativista.

Ucrânia e Oslo

Jakob Friis Storborg estava com duas bandeiras nas mãos, a da Ucrânia e da Noruega onde mora. “Todos os meus amigos estão nas ruas mesmo depois do incidente, porque não é o momento de estar em casa. O ódio contra LGBTQIA+ tem que acabar, isso não é normal. Temos que lutar”, afirma Jakob. O morador de Oslo disse ter chorado muito durante a parada de Varsóvia. “A guerra da Ucrânia me afetou muito devido aos amigos que tenho lá", disse.

Jakob Friis Storborg, morador de Oslo estava na parada com bandeiras da Ucrânia, da Noruega e da Polônia, em Varsóvia, em 24 de junho de 2022.
Jakob Friis Storborg, morador de Oslo estava na parada com bandeiras da Ucrânia, da Noruega e da Polônia, em Varsóvia, em 24 de junho de 2022. © Gábi Fürst

Um forte esquema policial foi mobilizado para proteger os manifestantes. Agentes foram destacados para percorrer todo o trajeto ao lado dos trios elétricos com manifestantes ucranianos. Cerca de trinta carros da polícia abriram a parada para dar passagem aos manifestantes.

Entretanto, desde a primeira parada de Varsóvia, em 2001, os poloneses tornaram-se mais abertos à questão dos direitos LGBT+. A adesão da Polônia à União Europeia e as influências culturais de outras nações, como a Alemanha e os países escandinavos ajudaram a mudar os comportamentos.

“Esta marcha de apenas duas horas de duração mostra como é a nossa força, mesmo diante de um governo tão difícil e com pessoas que não nos querem felizes”, afirma Julia Szymczakiewicz, estudante de direito. Ela veio acompanhada da amiga Karolina Kozieradzki e decidiram na última hora comprar uma grande bandeira do arco-íris. O símbolo gay não é facilmente exposto na Polônia.

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