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Entre alívio e preocupação, Espanha entra na fase 1 da saída do confinamento

A partir desta segunda-feira (11), 51% dos espanhóis poderão saborear um café nas mesinhas nas calçadas, fazer compras em lojas com menos de 400 metros quadrados e até visitar membros da família. Mas esta não será a realidade de todo o país. As medidas de flexibilização do confinamento alcançam regiões e setores de maneiras distintas, seus impactos também são diferenciados, dividindo a opinião da população.

Pessoas passeiam em Las Ramblas, em Barcelona. A cidade não está entre as regiões contempladas na fase 1 da flexibilização do confinamento na Espanha.
Pessoas passeiam em Las Ramblas, em Barcelona. A cidade não está entre as regiões contempladas na fase 1 da flexibilização do confinamento na Espanha. AFP - PAU BARRENA
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O número de vítimas fatais pelo novo coronavírus continua a cair no país, mas não o suficiente em cidades como Madri e Barcelona. Por isso mesmo, o governo de Pedro Sánchez determinou que essas duas localidades, além de algumas outras, não participarão ainda desta primeira fase do processo de saída do confinamento, iniciado nesta segunda-feira, o que causou forte reação por parte do Partido Popular, encarregado da comunidade de Madri. Muitas pessoas na capital sentem, ao mesmo tempo, alívio e preocupação.

Puente de Vallecas, um bairro popular no sul de Madri, por exemplo, tem uma grande concentração e circulação de pessoas. O fato da população de Madri não ingressar na chamada fase 1 tranquiliza Jessica, que trabalha como assistente em um hospital.

"Eu prefiro que não (se saia do confinamento). Acho que haverá um segundo surto e que será ainda mais forte. Como se pode ver, há pessoas conscientes, que usam máscaras, e outras não. Todos deveriam usar máscaras, tanto no transporte quanto na rua, obrigatoriamente", defende Jessica à RFI.

Pelo menos € 50 por dia

Em um café no centro de Madri, onde os clientes só podem comprar para levar, a funcionária Mikaela está decepcionada. "Preferiria ficar aqui e, mesmo que recebesse € 50 por dia, pelo menos até o final do mês ganharia algo. Eu tenho uma garotinha e ela precisa comer. Eu acho que eles poderiam deixar pelo menos as mesas externas funcionando. Eu sei que é perigoso sairmos à rua, mas as pessoas precisam trabalhar", lamenta Mikaela.

Não muito longe dali, na estreita rua Huertas, Gloria e seu marido estão desarmando a placa de seu pequeno restaurante turístico, que decidiram fechar permanentemente. "Estamos fechando porque é inviável", asseguram à RFI.

"Não há turismo, não se pode pagar € 4 mil de aluguel, então estamos fechando. A rua Huertas não tem espaço para trabalharmos do lado de fora, então teríamos que esperar até julho ou agosto, nem sabemos ao certo até quando. Talvez os restaurantes de bairro tenham mais chance, porque têm calçadas, têm clientes, mas aqui no centro é muito difícil”, compara Gloria.

Medidas iguais, impactos diferentes

A polêmica em torno da flexibilização das medidas de segurança sanitária evidencia os alcances desiguais que estas têm sobre diferentes setores, em que empresas com atividades que podem ser realizadas remotamente são menos impactadas. Para a analista financeira Tania, a principal, talvez única, mudança por trabalhar em casa está na infraestrutura. “As condições de trabalho não são as mesmas, no entanto, temos mais flexibilidade. Mas sei que essa não é a realidade de todos. Para quem tem filhos, por exemplo, pode ser muito difícil conciliar o trabalho com o cuidado com as crianças”, exemplifica.

A declaração de Tania ainda traz à tona um outro aspecto: as muitas especificidades que sempre tornarão medidas generalistas mais prejudiciais para uns do que para outros. A analista, que trabalha em uma empresa globalizada de mídia e entretenimento, conta que mora próximo ao local de trabalho. Se a empresa decidir acolher os funcionários presencialmente a partir da próxima semana, ela não precisaria usar o transporte público para se deslocar, estando menos exposta às situações de contágio.

“Mas e os outros funcionários? Eles se sentirão seguros para se deslocarem pelas ruas? Mas, por outro lado, se dependermos de nos sentirmos seguros, ficaremos confinados para sempre?”, se pergunta Tania.

Com informações da RFI Espanha.

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