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Rio 2016

Países rivais boicotam atletas de Israel na Olimpíada

Os Jogos Olímpicos costumam ser palco de rivalidades diplomáticas que às vezes passam despercebidas da maioria do público. A Olimpíada do Rio não é uma exceção. Os atletas israelenses são os mais visados por discriminações. A imprensa francesa fez um levantamento.

O judoca egípcio Islam El Shehaby (de branco) recebeu forte pressão nas redes sociais para não disputar uma luta nesta sexta-feira (12) contra o israelense Or Sasson, mas respeitou o espírito olímpico.
O judoca egípcio Islam El Shehaby (de branco) recebeu forte pressão nas redes sociais para não disputar uma luta nesta sexta-feira (12) contra o israelense Or Sasson, mas respeitou o espírito olímpico. REUTERS/Toru Hanai
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A Carta Olímpica é clara: "qualquer forma de discriminação que diga respeito a um país ou a uma pessoa em termos de raça, religião, política, gênero ou outra é incompatível com a associação ao Movimento Olímpico". O espírito olímpico irradia cordialidade no papel, mas a realidade é outra. Historicamente, os conflitos no Oriente Médio provocam o cancelamento de encontros entre atletas de países em guerra.

O site francês Atlantico conta que, no último domingo (7), a judoca saudita Joud Fahmy não disputou uma prova prevista contra Christianne Legentil, das Ilhas Maurício. Pouco antes da luta, a delegação saudita anunciou pelo Twitter que a atleta tinha "machucado os braços e as pernas no treinamento". Dando uma olhada na chave, ficou evidente que o motivo dissimulado era outro. Se vencesse a adversária, a judoca saudita se veria diante da atleta israelense Gili Cohen.

Arábia Saudita e Israel não mantêm relações diplomáticas. O reino saudita não autoriza seus habitantes a visitar Israel e não concede vistos a israelenses, observa o site Atlantico. A Carta Olímpica levou uma rasteira.

Internautas fazem pressão nas redes sociais

Ainda no judô, o egípcio Islam Al Shehaby lutou nesta sexta-feira (12) contra o israelense Or Sasson, na categoria acima de 100 kg. O site Cairoscene revelou que, antes do combate, o judoca egípcio foi pressionado nas redes sociais a evitar o adversário hebreu no tatame. Um internauta escreveu: "Sei que é uma decisão difícil, mas é melhor do que regularizar [nossas relações] com quem mata nosso povo". Outros defenderam a disputa. Com sorte, o Egito poderia marcar uma vitória sobre Israel.

As chances eram, na verdade, pequenas: o israelense ocupa o 5° lugar no ranking mundial, enquanto o egípcio é o 25°. Islam Al Shehaby foi derrotado por Or Sasson. Nesse caso, prevaleceu o bom-senso do presidente do Comitê Olímpico do Egito. Em nota, ele declarou que embora fosse desagradável enfrentar Israel, "ninguém tem o direito de roubar o sonho olímpico de um jovem egípcio simplesmente porque o rival é israelense".

O primeiro incidente diplomático aconteceu no dia da abertura dos Jogos. Atletas libaneses rejeitaram a presença de atletas israelenses no mesmo ônibus que os levaria ao Maracanã. Oficialmente, Líbano e Israel estão em guerra e não mantêm relações diplomáticas. O chefe da delegação libanesa, Salim al-Haj Nicolas, disse à revista francesa L'Obs que pediu ao motorista para fechar a porta do ônibus, apesar da insistência dos israelenses em querer entrar. No final, as duas delegações foram para o estádio em ônibus diferentes.

Nas redes sociais, o técnico da equipe de vela de Israel, Udi Gal, desabafou: "A delegação libanesa não foi contra tudo o que representa o olimpismo?" Num segundo post, declarou: "Esse incidente vergonhoso só aumenta nossa motivação. O espírito olímpico é a única coisa que importa e nós estamos aqui para defendê-lo com orgulho".

Boicotar Israel é quase uma tradição

L'Obs relata conflitos semelhantes com atletas israelenses em outros Jogos Olimpícos. Em 2004, em Atenas, o judoca iraniano Arash Miresmaeili se recusou a lutar contra um adversário israelense. Ele acabou recompensado pelo governo iraniano com um prêmio em dinheiro de US$ 115.000, segundo o jornal americano Washington Post, soma normalmente reservada aos vencedores.

O nadador iraniano Mohamed Ali Rezaei, especialista nos 100 m, já boicotou provas em dois campeonatos mundiais devido à presença de israelenses na piscina, além de um confronto olímpico pela mesma razão.

Selfie da paz entre as coreanas

A ginasta sul-coreana Lee Eun-Ju (à direita) tira selfie com a norte-coreana Hong Un Jong.
A ginasta sul-coreana Lee Eun-Ju (à direita) tira selfie com a norte-coreana Hong Un Jong. REUTERS/Dylan Martinez

A discriminação contra atletas israelenses, segundo orientações diplomáticas, acontece até em competições de menor expressão. Em 2013, num torneio no Uzbequistão, o tenista tunisiano Malek Jaziri recebeu um email de sua federação avisando que ele não deveria jogar contra o israelense Amir Weintraub, como estava previsto na chave. A proibição foi determinada apesar de Jaziri e Weintraub se admirarem e serem amigos. Incidente semelhante aconteceu em 2015, num torneio desta vez em Montpellier, no sul da França. O tunisiano Jaziri desistiu de uma partida contra o n° 1 de Israel, Dudi Sela.

Para a revista francesa, felizmente a Olimpíada também representa uma ocasião de superar as rivalidades. A prova é o selfie de duas ginastas, uma sul e uma norte-coreana, esta semana no Rio. O público torce para que a foto de confraternização entre as "inimigas" não cause uma punição à norte-coreana Hong Un-jong quando ela voltar para casa.

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