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Governo lança cartilha nas Olimpíadas para combater racismo

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“Por Olimpíadas sem racismo”. Este é o nome da cartilha a ser lançada nesta quinta-feira (11) pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) na Casa Brasil, no Rio de Janeiro. O objetivo é sensibilizar brasileiros e turistas na luta contra o fenômeno que atinge o Brasil e vários outros países presentes nos Jogos.

A Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luislinda Valois.
A Secretária Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luislinda Valois. Foto: RFI Brasil
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Do enviado especial ao Rio de Janeiro.

Segundo a secretária Luislinda Valois, que assumiu a pasta no dia 6 de julho, o objetivo é aproveitar o evento para divulgar o combate e informações sobre um crime passível de penas de prisão no Brasil.

“É o momento apropriado para que nós digamos ao mundo: abominem o racismo, ele não traz nada de bom para ninguém. Eu sempre digo que o racismo destrói a alma e o físico da vítima”, disse em entrevista à RFI. A cartilha vinha sendo elaborada há algum tempo pelo governo anterior, e sofreu algumas “adaptações” segundo a secretaria, mas sem dar maiores detalhes das mudanças.

“Esse momento de Olimpíadas, de alegria, de trocas de força e de energia e do bem pensar, entendi que era o momento de lançar essa cartilha para que as pessoas tenham o conhecimento dessa realidade”, afirmou.

Elaborada em parceria com o ministério dos Esportes, a cartilha tem 52 páginas e um objetivo bem pedagógico. Traz definições de racismo, explica as diferenças entre racismo e injúria racial, as diversas sanções previstas por lei, traz exemplos e oferece indicações sobre a quem recorrer para denunciar as agressões e crimes.
Cerca de 50 mil exemplares serão distribuídos em diferentes locais do Rio de Janeiro e Brasília.

Judoca Rafaela Silva e goleiro Aranha testemunham casos de racismo

Na véspera da cerimônia oficial de lançamento, a cartilha foi anunciada pela secretária Luislinda Valois durante uma conferência de imprensa no Rio Media Center com a presença da medalha de ouro no judô, Rafaela Silva, e o goleiro da Ponte Preta, Aranha, ambos vítimas de racismo.

A judoca que ganhou a primeira medalha de ouro para o Brasil na Rio 2016, lembrou que quando perdeu a luta e foi eliminada nas Olimpíadas de Londres, em 2012, recebeu insultos racistas por meio de redes sociais. “Disseram que lugar de macaco era na jaula e não nas Olimpíadas. Quatro anos depois mostrei ser capaz de conquistar o ouro olímpico”, disse a atleta lembrando que deu a volta por cima depois de tratamento psicológico.

Rafaela, no entanto, disse nunca ter sofrido nenhum tipo de preconceito no esporte. “Fora do tatame, não devem existir coisas que ainda acontecem no Brasil”, disse. Ela também fez questão de ressaltar sua disposição em abordar o tema do racismo ao celebrar sua conquista olímpica: “É muito importante. Não é sempre que a gente tem oportunidade de mostrar nosso trabalho. Quando sai matéria de negro, é de que está roubando, assaltando. É o momento de mostrar o que a gente tem de melhor”, declarou.

O goleiro Aranha, que sofreu injúrias racistas de uma torcedora do Grêmio quando atuava pelo Santos durante um jogo pela Copa do Brasil, em 2014, em Porto Alegre, falou da importância de conscientizar a população. “Racismo é racismo, seja no futebol, no vôlei, ou qualquer outro esporte. Muitas vezes está camuflado, a gente não percebe. Nós fomos condicionados a tratar isso como normal. O próprio negro fica com medo de se posicionar”, destacou o goleiro que hoje atua pela Ponte Preta (SP).

Rafaela Silva, Luislinda Valois e o goleiro Aranha durante conferência de imprensa no Rio de Janeiro.
Rafaela Silva, Luislinda Valois e o goleiro Aranha durante conferência de imprensa no Rio de Janeiro. Foto: RFI Brasil

Rafaela e Aranha comentaram a importância das oportunidades para os negros na sociedade. “Onde o governo não chega, o crime se instala, como qualquer doença. A primeira solução é a igualdade de direitos e de oportunidades”, disse o goleiro.

Rafaela, que nasceu na Cidade de Deus, comunidade pobre e violenta da zona oeste do Rio, relatou a passagem de sua infância sem perspectiva até atingir o alto nível no esporte por meio do Instituto Reação, criado pelo ex-judoca Flávio Canto para comunidades carentes.

“Eu não tinha objetivo, nunca pensei que fosse sair de dentro da comunidade e passear na zona sul, ir para São Paulo e conhecer outros países. Muitas pessoas dizem que não temos oportunidade. A gente tem, só que sem sempre as pessoas aproveitam. Eu aproveitei a minha. Eu tinha uma agressividade que foi canalizada para o esporte, que me salvou”, contou.

Durante a conferência, a secretária Luislinda chegou a se emocionar ao citar o exemplo dos dois esportistas no combate ao racismo. “Nossa juventude está precisando de parâmetros e dois deles estão aqui. Por isso posso chamar de filhos de coração. Eles são exemplos que devem ser seguidos”, declarou.
 

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