Participação na eleição argentina pode definir segundo turno entre Massa e Milei, em meio a feriadão
A Argentina vai às urnas neste domingo (19) para o segundo turno das eleições presidenciais, em uma escolha entre o ultraliberal Javier Milei, o candidato antissistema, e o peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia, representando a esquerda. Os dois estão tecnicamente empatados e a decisão pode vir de outros elementos além da vontade popular, como o índice de participação de eleitores, o feriado desta segunda-feira, no país, e a fiscalização de fraudes.
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Os resultados começam a ser divulgados a partir das 21h, mas a paridade pode levar a espera até a apuração atingir 98,5% dos votos contabilizados. Numa disputa tão acirrada, voto a voto, a ponto de todas as pesquisas preverem um empate técnico, qualquer mínima vantagem pode representar a vitória de Javier Milei ou de Sergio Massa. Se a participação do eleitorado for maior do que 70%, Javier Milei aumenta as chances de vencer.
“O parâmetro que pode definir a eleição é a participação eleitoral, porque o eleitorado de Sergio Massa é mais consolidado", explica à RFI o cientista político Cristian Buttié, diretor da consultora CB Opinião Pública, uma das quatro que acertaram o resultado do primeiro turno.
A última pesquisa da CB Opinião Pública indica a vitória de Javier Milei com 46,3% dos votos, e Sergio Massa chegaria a 43,1%. Os indecisos somariam 5,7% e os votos em branco, 4,9%. A projeção de indecisos e brancos aponta a 51,8% para Milei e para 48,2% para Massa.
Impacto do feriadão
Um aspecto que pode pesar é o feriado desta segunda-feira (20) no país, em celebração ao Dia da Soberania Nacional. Os eleitores de Javier Milei, mais de classe média, podem aproveitar a ocasião para viajar e não votar.
Nos principais centros turísticos do país, a média de ocupação nos hotéis é de 50%, um número baixo para um feriadão, mas relevante para uma jornada eleitoral.
“Há gente que, naturalmente, não vai votar porque viajou na sexta ou no sábado e só retorna na segunda-feira. O governo está usando todos os tipos de artimanhas para beneficiar o seu candidato”, afirma à RFI o cientista político Patricio Giusto, diretor da consultora Diagnóstico Político e professor na Universidade Católica Argentina e na Universidade de La Plata.
A Câmara Eleitoral sugeriu que o feriado fosse adiado para aumentar a participação, mas o governo rejeitou a medida.
Confiança nas urnas
Outro ponto crucial é a fiscalização. O sistema de votação na Argentina é arcaico e permite microfraudes, como roubo de células e compra de votos. Qualquer mínima vantagem, numa disputa acirrada, pode definir o vencedor.
Para evitar fraudes, os partidos precisam de um ou dois fiscais próprios em cada uma das 104.577 mil mesas de votação, algo comum para o Peronismo, mas impossível para uma força política nova como a de Javier Milei, que se apoia agora nos fiscais cedidos pelos novos aliados, a candidata derrotada Patricia Bullrich e o ex-presidente Mauricio Macri.
O partido do candidato antissistema, A Liberdade Avança, pediu para a Justiça Eleitoral tomar medidas para evitar irregularidades que incluem desde o roubo de cédulas ao conteúdo das urnas, passando pela adulteração de documentos da contabilidade.
Já Sergio Massa acusou o adversário de imitar as práticas de Donald Trump e de Jair Bolsonaro, de não aceitar o resultado.
O secretário da Câmara Eleitoral, Sebastián Schimmel, classificou as denúncias de "infundadas" e ressaltou que as versões de fraude geram a "desconfiança" dos eleitores. “Esclareceram que não são denúncias, mas pedidos de medidas preventivas de proteção das urnas. Essas suspeitas levam desconfiança ao sistema”, disse Schimmel.
Às 21h, está prevista a divulgação do primeiro boletim com resultados, já com uma tendência. Mas a Câmara Eleitoral não descarta que seja necessário esperar até a apuração atingir os 98,5% dos votos. Se a diferença foi mínima, o resultado da votação pode demorar até a apuração definitiva, dias depois.
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