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Linha Direta

Massa ou Milei? Eleitores indecisos podem definir futuro da Argentina no domingo

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A 48 horas da eleição mais tecnicamente empatada dos últimos 40 anos, desde a recuperação da democracia, os argentinos vão escolher neste domingo (19) o próximo presidente do país, uma decisão que pode alterar a matriz da economia. Uma Argentina polarizada alinha-se atrás da mudança radical que significa a vitória do ultraliberal Javier Milei ou da continuidade do peronismo no poder que representa a vitória de Sergio Massa.

Os candidatos à presidência da Argentina Sergio Massa, do partido Union por la Patria, e Javier Milei, do partido La Libertad Avanza, interagem durante o debate presidencial antes das eleições gerais
Os candidatos à presidência da Argentina Sergio Massa, do partido Union por la Patria, e Javier Milei, do partido La Libertad Avanza, interagem durante o debate presidencial antes das eleições gerais de 19 de novembro, na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, em Buenos Aires, Argentina, em 12 de novembro de 2023. via REUTERS - POOL
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

As urnas vão revelar o tipo de modelo econômico e político que a Argentina terá pelos próximos quatro anos. Se continua o atual ou se adota um modelo liberal. Em questão, está o tamanho e o papel do Estado.

“São dois modelos de país, sobre como se administra a máquina pública. Um modelo mais privatizado, por parte de Javier Milei, ou um Estado com vocação intervencionista, pelo lado de Sergio Massa”, explica à RFI a analista política Shila Vilker, diretora da consultora Trespuntozero.

A média das 12 pesquisas às quais a RFI teve acesso deixa Javier Milei com 44,6% das intenções de voto, contra 42,6% de Sergio Massa, uma diferença de dois pontos, dentro da margem de erro. Os votos voláteis e os indecisos rondam os 10%.

A sondagem da consultora Giacobbe & Asociados, por exemplo, indica que 48,3% votarão em Javier Milei, 43,3% em Sergio Massa e 5,5% estão indecisos. Mas o especialista em opinião pública Jorge Giacobbe, diretor do escritório, admite que as pesquisas não têm conseguido medir bem o eleitorado porque pouca gente aceita respondê-las. Também aponta a dificuldades para se chegar a determinados segmentos sociais.

Eleitores de Javier Milei manifestam-se antes do debate eleitoral de domingo 12 de novembro
Eleitores de Javier Milei manifestam-se antes do debate eleitoral de domingo 12 de novembro. © Marcio Resende

O prazo para divulgação pública de pesquisas acabou há uma semana (dia 10). Depois disso, já houve um debate eleitoral (12) e uma intensificação das campanhas, agressivas dos dois lados.

No primeiro turno, em 22 de outubro, o candidato Javier Milei obteve 30% dos votos. Para Jorge Giacobbe, tudo o que o candidato ultraliberal cresceu desde então vem de eleitores contrários ao chamado ‘kirchnerismo’, a corrente política liderada pela vice-presidente Cristina Kirchner, aliada de Sergio Massa.

Para esses novos eleitores, Javier Milei não é a melhor opção, mas é a única que permite uma mudança. “Não é que Milei lhes represente a esperança. Entre o fracasso atual e a loucura, preferem a loucura. Milei é a única ferramenta que lhes restou para parar o kirchnerismo”, afirma Giacobbe.

A analista Shila Vilker indica que, no primeiro turno, os indecisos definiram o voto nos últimos quatro dias, tendência que deve se repetir nestas horas. Para a especialista, os novos eleitores de Javier Milei são pragmáticos.

“É um voto com raciocínio pragmático. Entre mudar ou continuar, o único que pode mudar é Milei”, resume.

Impacto do debate

No debate entre candidatos no domingo passado, Massa foi muito mais sólido, preparado e profissional do que Milei. Os próprios eleitores do opositor reconhecem essa superioridade no debate.

Porém, para boa parcela dos eleitores, Massa também foi arrogante e estrategista contra um Milei que parecia inocente diante das artimanhas políticas.

Curiosamente, as pessoas identificam nessa falta de profissionalismo uma autenticidade, alguém que vem de fora da política. Esse é justamente um dos lemas de Milei: ser contra a casta política.

O analista Jorge Giacobbe acredita que o debate não tenha alterado o panorama eleitoral; Massa ganhou o debate, mas não os votos. “Do ponto de vista do voto, nenhum dos dois ganhou”, avalia Giacobbe.

“Medimos o resultado do debate. Há uma avaliação majoritária de que Massa ganhou o debate, mas, ao mesmo tempo, o comportamento eleitoral se manteve. Não houve uma incidência sobre o voto”, concorda Vilker.

Intensificação da campanha

As duas campanhas apelam para a estratégia do medo. Além de candidato a presidente, Sergio Massa é o atual ministro de uma Economia com 142,7% de inflação nos últimos 12 meses e 42% de pobreza. Sem trunfos para exibir, ele busca advertir a população que embarcar numa aventura com Javier Milei significaria um pulo no precipício.

Por sua vez, o economista ultraliberal também apela ao medo quando alerta que continuar com Massa poderá levar o país à hiperinflação e torná-lo uma Venezuela.

Quem usa o transporte público em Buenos Aires vê no visor de cobrança um aviso de que a tarifa paga, se não tivesse subsídio, custaria 20 vezes mais. O alerta é um recado de que Milei se opõe aos subsídios. Na campanha de Massa há mais peças publicitárias contra Milei do que a favor do próprio peronista. 

Essas propagandas usam declarações anteriores de Milei para apontar que, se o libertário ganhar, haverá um mercado de venda de órgãos, o porte de armas será liberado, a Educação e a Saúde, hoje gratuitas, serão pagas, entre outras medidas.

Estratégias de apoio

Com o respaldo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), a candidata derrotada no primeiro turno Patricia Bullrich (23,8%) manifestou o seu apoio a Javier Milei. A decisão, no entanto, dividiu a principal coalizão opositora, Juntos pela Mudança. Para alguns líderes dessa coligação, especialmente o centenário partido União Cívica Radical, a extrema-direita de Javier Milei é um limite intransponível.

Para aumentar esse racha e seduzir os descontentes, Sergio Massa tem dito que vai formar um governo de união nacional, a exemplo da estratégia de Lula, no Brasil, ao tentar formar uma frente democrática em 2022.

O analista Jorge Giacobbe explica que, sendo agressivo, Javier Milei conseguiu os 30% dos votos no primeiro turno. O problema é que também conseguiu que 70% não votassem nele, dos quais muitos ficaram com medo.

Os apoios de Macri e de Bullrich ajudaram Javier Milei a obter a maior parte dos votos da candidata derrotada e a passar a imagem de que 'aquele louco agora ficou menos louco' porque agora tem, por trás, líderes que o contêm.

Como Patricia Bullrich representava a mudança, Milei incorporou o lema “Mudança x Continuidade”, pondo para segundo plano o lema principal até o primeiro turno “Casta x Anti-casta”, no qual o outsider concluía que “uma mudança no país não é possível com a mesma casta política de sempre”.

“A demanda de mudança está ganhando a disputa”, observa Shila Vilker, que realiza a última pesquisa antes da votação de domingo, a ser divulgada apenas para os clientes.

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