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França espera esclarecimento do governo do Burkina Faso sobre pedido de retirada de tropas

A França aguarda esclarecimentos do presidente da transição do Burkina Faso sobre o pedido de seu ministério das Relações Exteriores para que tropas francesas se retirem do país africano no prazo de um mês. A informação foi divulgada por um porta-voz da diplomacia francesa na segunda-feira (23). Os soldados enviados por Paris estão no país para lutar contra o jihad. Nos últimos meses, o governo burquinense vem se aproximando de Moscou.

Pessoas seguram um cartaz em manifestação para mostrar seu apoio ao novo líder militar de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, e exigir a partida do embaixador francês, na Praça da Nação em Uagadugu, em Burkina Faso, em 20 de janeiro de 2023. A placa diz: "Exército da França, saia de nosso país".
Pessoas seguram um cartaz em manifestação para mostrar seu apoio ao novo líder militar de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, e exigir a partida do embaixador francês, na Praça da Nação em Uagadugu, em Burkina Faso, em 20 de janeiro de 2023. A placa diz: "Exército da França, saia de nosso país". REUTERS - VINCENT BADO
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"Recebemos a nota verbal (do ministério do Burkina Faso) enviada a nossa embaixada", declarou à AFP a porta-voz da diplomacia francesa, Anne-Claire Legendre, por meio de um comunicado.

"Como o Presidente da República (Emmanuel Macron) disse ontem, esperamos que o Presidente da transição burquinense (Ibrahim Traoré) esclareça o alcance desta nota", acrescentou ela. As últimas reuniões bilaterais entre Traoré e a Secretária de Estado encarregada do Desenvolvimento da Francofonia e de Parcerias Internacionais francesa, Chrysoula Zacharopoulou, ocorreram em 10 de janeiro.  

"O que estamos questionando é o acordo que permite a presença de forças francesas em Burkina Faso. Não se trata do fim das relações diplomáticas entre Burkina Faso e a França", declarou mais cedo em entrevista à Radio-Télévision du Burkina (RTB), o porta-voz do governo do Burkina Faso, Jean-Emmanuel Ouédraogo.

 "As forças francesas estão baseadas em Uagadugu a pedido do Burkina Faso e de suas autoridades. Este pedido está na ordem normal das coisas, está prevista nos termos do acordo militar", continuou, indicando que a França tinha "um mês para aceder a este pedido".

Reajustes

Mas Paris quer que o pedido de saída seja confirmado pelo próprio Ibrahim Traoré antes de tomar oficialmente conhecimento. Existem rumores de desacordo dentro do governo de Burkina Faso sobre a manutenção ou não das tropas francesas no país.

“A França reajusta, consultando seus parceiros, seu sistema no Sahel para se manter ao lado dos países empenhados na luta contra o terrorismo”, recordou também segunda-feira a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês.

O Burkina Faso atualmente abriga um contingente de cerca de 400 forças especiais francesas, chamadas de força Sabre.

Durante visita a Uagadugu, a secretária de Estado francesa insistiu que a França não iria impor nada, mas que estava "disponível para construir um futuro juntos".

“Não vim aqui para influenciar qualquer escolha ou decisão, ninguém pode ditar suas escolhas no Burkina” e “concordamos com o Presidente Traoré em avançarmos juntos neste estado de espírito”, declarou.

Confirmação

As autoridades do Burkina Faso confirmaram segunda-feira que solicitaram a saída das tropas francesas baseadas no país africano. Em uma carta do Ministério das Relações Exteriores burquinense dirigida a Paris e datada de quarta-feira (18), Uagadugu "denuncia e põe fim em sua totalidade ao acordo" de 17 de dezembro de 2018 "relativo ao status das forças armadas francesas intervindo" na luta antijihadista no país do Sahel.

No domingo (22) à tarde, Emmanuel Macron disse que esperava "esclarecimentos" de Burkina. À noite, a presidência francesa acrescentou esperar por uma confirmação da posição de Burkina Faso no "mais alto nível".

"No estágio atual, não vemos como deixar isso mais claro", disse Ouédraogo na segunda-feira. Segundo ele, esse pedido de saída das forças francesas "não está ligado a um evento particular".

"Está ligado à vontade, hoje, das autoridades da transição e de todos os burquinenses de serem os primeiros atores na reconquista do nosso território", acrescentou, especificando esperar dos países amigos "especialmente o apoio material" para ajudar as forças de segurança.

Partida do embaixador

A França, uma ex-potência colonial, tem sido contestada em Burkina Faso há meses.

Em dezembro, as autoridades de Uagadugu pediram a Paris que substituísse o embaixador francês, Luc Hallade, por ter informado sobre a deterioração da situação de segurança no país.

Na segunda-feira, Ouédraogo indicou que o governo "recebeu todas as garantias de que as autoridades francesas atenderão a este pedido esta semana".

Desde que chegou ao poder, em setembro, na sequência de um golpe de Estado, o segundo em oito meses, o capitão Ibrahim Traoré e seu governo têm manifestado a intenção de diversificar suas parcerias, sobretudo na luta contra o jihadismo, que mina o país desde 2015.

As novas autoridades iniciaram nas últimas semanas uma reaproximação com a Rússia. A situação lembra as relações da França com o Mali. Em 2022, a junta no poder em Bamako ordenou que as forças francesas deixassem o país após nove anos de presença.

Várias fontes relatam que as autoridades do Mali começaram a trazer para o país o grupo paramilitar russo Wagner, no final de 2021, cujas ações são denunciadas em vários países, o que a junta nega.

(Com informações da AFP)

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