Jihadismo na África: Burkina Faso decreta luto nacional após ataques que deixaram mais de 70 mortos
Nos últimos dias, os ataques jihadistas têm aumentado no norte e leste de Burkina Faso. O mais mortal foi o que atingiu a cidade de Seytenga, perto da fronteira com o Níger, na quinta-feira (9). Posteriormente, os pistoleiros voltaram a atacar durante as noites de 11 e 12 de junho. Após o ataque à brigada do exército na última quinta-feira, as forças de segurança haviam deixado o local, após uma longa varredura pelas forças armadas. O governo decretou luto nacional de três dias.
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Foi após a partida do exército que os homens armados, que chegaram em motocicletas, invadiram a localidade de Seytenga para atacar a população, massacrando muitos civis.
"Eu estava na frente da minha porta quando eles chegaram. Procurei meu filho e encontrei muitas pessoas mortas no chão. Eu podia ouvir tiros", disse um morador ao correspondente da RFI em Dori.
"Procurei no mercado, na mesquita e no banco... Finalmente consegui alcançar meu filho e fomos juntos para casa. Naquele momento, os jihadistas estavam reunindo os rebanhos de vacas, cabras e ovelhas. Nós os vimos, eles levaram tudo com eles", acrescentou a mulher.
"Alguém com medo não pára para contar os mortos"
Os homens armados semearam a morte em seu caminho: "Eles passaram pelo mercado, pela estrada asfaltada, e em todos os lugares por onde passavam, matavam pessoas. Em todos os lugares da rua havia mortos. Eles passaram a noite inteira aqui e saíram no dia seguinte. Eles mataram um dos meus irmãozinhos", disse o morador.
Segundo ela, as mulheres foram levadas pelo grupo. "Havia minhas duas primas que estavam carregando seus filhos nas costas. Eles os levaram, lhes fizeram perguntas e os torturaram antes de soltá-los", relata a moradora.
O medo já havia tomado conta da cidade desde o ataque à estação de polícia, quando civis começaram a fugir em direção a Dori, a cerca de 50 km a oeste.
Alguns temiam uma expedição punitiva. "Eles acabaram por vir e entrar em minha casa. Havia dito à minha esposa que se perguntassem onde eu estava, deveria dizer que eu estava fora há quatro, seis ou sete meses. Eles quebraram tudo na região: as lojas, a farmácia, a escola, o hospital... Houve muitas mortes, mas não sei quantas, porque alguém que tem medo não pára para contar", declarou um morador à reportagem.
Número de mortes pode aumentar
O governo anunciou na segunda-feira (13) que cerca de 50 corpos haviam sido encontrados, além dos 11 policiais mortos. Nesta terça-feira (14), 29 novas vítimas foram descobertas, elevando o número de mortos para 79.
Mas "a busca continua", disse o porta-voz do governo, Lionel Bilgo, em uma entrevista coletiva, sugerindo que o número de vítimas poderia aumentar. "Por via aérea e terrestre, as forças de defesa e segurança aterrissaram em Seytenga. Eles continuam a procurar casa por casa, lote por lote", disse.
Embora o ataque tenha desalojado muitas pessoas, várias voltaram ao vilarejo. "O exército está, portanto, pedindo a todas as pessoas que colaborem e lhes permitam fazer uma contagem a fim de fazer uma avaliação definitiva deste ataque desprezível", disse o porta-voz, pedindo aos residentes que informem se algum de seus parentes foi morto pelos pistoleiros.
Cerca de 3.000 pessoas deslocadas
O ataque causou o deslocamento de cerca de 3.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, que foram acolhidas em Dori, a cerca de 40 quilômetros de distância, relata o correspondente da RFI em Uagadugu. Estes deslocados estão instalados em cerca de dez locais. Os habitantes de Seytenga e seus arredores chegam em burros, carrinhos, triciclos ou a pé, e por vezes, fazem longos desvios para evitar a estrada principal.
"O povo está sendo acolhido graças ao exército e à ação humanitária da parte de Dori", continuou o porta-voz do governo. "Todos aqueles que precisavam de assistência médica foram atendidos, e todos aqueles que precisavam de alimentação ou outra assistência foram atendidos. Uma unidade psicológica também foi posicionada em Dori para acompanhar essas vítimas", declarou.
Por sua vez, a sociedade civil e as autoridades locais em Dori prometeram cuidar dos deslocados, principalmente mulheres e crianças.
Diante da situação, o porta-voz do governo pediu aos habitantes de Burkina Faso que "enterrassem todas as suas diferenças" e se unissem em torno da defesa do território nacional. "O país está de luto, fomos atingidos e estes atos parecem de retaliação, porque nas últimas semanas, o exército criou uma hemorragia nas fileiras dos terroristas", afirmou ainda o porta-voz.
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