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Fórum Mundial da Água discute crise hídrica causada por aquecimento global

A 9ª edição do Fórum Mundial da Água começou nesta segunda-feira (21) em Dakar e é considerado um dos eventos mais importantes sobre o tema. Criado pelo Conselho Mundial da Água e gerenciado pelas grandes empresas do setor, o fórum acontece a cada três anos e dura cerca de uma semana. Esta é primeira vez que o encontro ocorre na África subsahariana. 

Criança enche galões de água em Uganda. Segundo a ONU, apenas 30% da população da África subsahariana têm acesso a água potável.
Criança enche galões de água em Uganda. Segundo a ONU, apenas 30% da população da África subsahariana têm acesso a água potável. Photothek via Getty Images - Ute Grabowsky
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Géraud Bosman-Delzons, da RFI

Em entrevista à RFI, o secretário-executivo do evento, Abdoulaye Sene, explicou que a tomada de consciência em relação à moderação do consumo demorou porque a água foi, durante muito tempo, considerada como um recurso ilimitado. 

RFI -  A crise da água se tornará de fato mais grave com as mudanças climáticas?

Abdoulaye Sene -  Durante muito tempo, consideramos a água como um recurso ilimitado e percebemos como o consumo individual ocorria sem nenhuma parcimônia. Em alguns países, como os Estados Unidos, o consumo por habitante pode ultrapassar 500 litros por pessoa. A média considerada como essencial para o homem é de 50 litros por dia e por pessoa.  Agora a seca se espalha, as grandes fontes de água estão secando e deixando as grandes cidades "com sede."

Percebemos que, com o aumento da população, a demanda cresce, mas o acesso é mais limitado. Invariavelmente isso levará a uma situação de conflito, se não instituírmos modalidades e mecanismos de governança cooperativa e solidária. Com o avanço do aquecimento global, o crescimento da população e a necessidade de aumentar a produtividade da agricultura, principalmente de consumo, a água se posicionará como um elemento prioritário para a paz e a segurança no mundo.

RFI- Quais serão as questões e os objetivos colocados no evento?

AS - Trata-se de questionar a importância da água para a segurança das nações mas, sobretudo, para o bem-estar das populações. O fórum também abordará a questão da água para o desenvolvimento rural. A agricultura é uma questão extremamente importante, na África, em particular. Dos anos 1970 aos 1990, o Sahel registrou uma de suas piores secas. A água é um dos melhores parâmetros das mudanças climáticas e de suas consequências, que podem gerar, num outro extremo, inundações momentâneas.

Abordaremos, dessa forma, a maneira como poderemos garantir esse recurso, estocando, com barragens, ou recuperando a água da chuva, com programas de cisternas no mundo rural, mas também adaptando a agricultura às técnicas de irrigação econômicas, do ponto de vista hídrico. Com recursos cada vez mais raros, é comum que as fontes hidráulicas gerem conflitos entre agricultores e criadores de animais, por exemplo.

O fórum é questionado com frequência pela falta de comunicação política em nível nacional e internacional, para que medidas eficazes sejam tomadas pelos Estados. As populações aguardam soluções concretas para seus problemas.

Cartaz da 9ª edição do Fórum Mundial da Água, no Senegal.
Cartaz da 9ª edição do Fórum Mundial da Água, no Senegal. © worldwaterforum.org

RFI- Quais respostas à população o fórum poderá trazer essa questão? 

AS - Nessa edição, haverá encontros políticos de alto nível com chefes de Estado, de grandes instituições internacionais, de financiamento, que estarão presentes para lançar iniciativas concretas a serviço do acesso à àgua. As populações senegalesas, africanas e do mundo poderão, ao deixar o Fórum, beneficiar de novos programas, iniciativas e projetos que permitirão melhorar o acesso à água e ao saneamento, que são direitos humanos. O evento é organizado pelo Conselho Mundial da Água, que tem origem no setor privado. A ONU é uma simples parceira.

RFI- A questão da água não deveria ser gerenciada pelas Nações Unidas, como é o caso do clima, da biodiversidade e da desertificação? 

AS - Com certeza, e é por isso que o Senegal espera que o fórum contribua para a preparação da segunda grande conferência mundial da ONU sobre a água, em 2023.  A primeira aconteceu em 1977, em Mar del Plata. Isso revela o desejo das Nações Unidas de retomar o controle dessa questão fundamental, que hoje tem uma dimensão geopolítica própria. 

RFI - Alguns atores da sociedade civil contestam a legitimidade do Fórum Mundial da Água e temem a privatização do recurso. Por isso haverá um fórum alternativo, organizado por ONGs, ecologistas e e cientistas. 

AS - É um ponto de vista que ouço, respeito, mas gostaria de ressaltar que o Fórum Mundial da Água de Dakar será inclusivo. Teremos diálogos com a sociedade civil, que está sendo bastante representada. É evidente que não se trata de discutir a privatização da água, mas dos serviços de fornecimento. Mas a questão essencial é que água seja tratada como um patrimônio nacional, mundial. De maneira alguma, no Senegal, queríamos organizar um debate que pudesse gerar dúvidas sobre nossas intenções em promover a privatização de um bem tão insubstituível, essencial e vital como a água. Queremos um fórum histórico, que se traduza em respostas, compromissos. Esperamos receber mais de mil participantes. 

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