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Mali: morte de ex-presidente Ibrahim Bubacar Keita revela um legado de altos e baixos

O ex-presidente do Mali Ibrahim Bubacar Keita morreu neste domingo (16) aos 76 anos em sua casa de Bamako, a capital do país, segundo informações de familiares. Eleito em 2013, Keita governou o Mali até agosto de 2020, quando foi derrubado por um golpe de Estado militar. A atuação de Keita à frente dessa ex-colônia francesa revelou habilidade política, mas também foi criticada por não ter livrado a população da pobreza, da corrupção e da violência jihadista e de criminosos comuns.

Ibrahim Bubacar Keita foi eleito duas vezes na presidência do Mali, até de ser derrubado por um golpe de Estado militar em agosto de 2020.
Ibrahim Bubacar Keita foi eleito duas vezes na presidência do Mali, até de ser derrubado por um golpe de Estado militar em agosto de 2020. ETIENNE LAURENT POOL/AFP/File
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Tirthankar Chanda, da RFI

A causa da morte de Keita não foi revelada, mas não era segredo no país que ele estava doente desde 2015, quando desapareceu da mídia para fazer um tratamento em Istambul, na Turquia. No ano seguinte, IBK, como era chamado, foi operado para a extração de "um tumor benigno" em Paris, segundo o comunicado oficial divulgado na época. Em setembro de 2020, sofreu um acidente vascular cerebral que exigiu transferência para um hospital nos Emirados Árabes Unidos. A nota publicada neste domingo pelo governo de transição no Mali, liderado pelo primeiro-ministro Choguel Kokalla Maiga, sugere que IBK morreu em decorrência de um câncer.

O primeiro mandato do ex-presidente malinense, que se reivindicava de esquerda e foi eleito com 78% de votos, foi marcado por altos e baixos. Pouco antes de sua chegada ao poder, a França iniciou uma intervenção militar no país, em janeiro de 2013, a pedido das autoridades de transição da época, com o objetivo de ajudar o Exército local a controlar uma ofensiva jihadista, que tinha partido do norte em direção ao sul e à capital, Bamako. A operação militar francesa "Serval" foi parcialmente bem-sucedida e conseguiu estabilizar temporariamente a situação.

O acordo de paz e de reconciliação assinado em 2015 entre Bamako e ex-rebeldes tuaregues no norte é sem dúvida a conquista mais importante do primeiro mandato de IBK. O acordo prevê medidas para isolar os jihadistas de uma vez por todas, ao mesmo tempo em que concede poderes de decisão às populações locais.

Mas essas medidas demoram para se traduzir em mudanças concretas para a população. O ritmo lento das reformas e outros problemas fundamentais relacionados à justiça, corrupção, pobreza, insegurança e a conflitos intercomunitários alimentaram a revolta popular. Mesmo assim, Keita foi reeleito presidente em 2018, com 67% dos votos.

Porém, desde o início, o segundo mandato do IBK é assombrado pelos problemas que o chefe de Estado do Mali não conseguiu resolver durante seu primeiro mandato de cinco anos: a instituição de uma paz duradoura e a questão da insegurança. Apesar das intervenções estrangeiras, a violência jihadista continuou e se espalhou pelo centro do Mali e países vizinhos. Além disso, a situação social piorou em 2020 sob o duplo impacto da crise econômica e da pandemia de Covid-19.

Descontentamento popular

Em junho de 2020, aproveitando o descontentamento popular, a oposição maliense, há muito tempo dividida, formou uma coalizão heterogênea reunindo opositores políticos, líderes religiosos e membros da sociedade civil. O "Movimento 5 de junho" organizou várias manifestações, exigindo a demissão do presidente Keïta, acusado de má administração e corrupção.

Em 18 de agosto, depois de ser contestado nas ruas durante semanas, o presidente maliense foi preso por soldados que haviam se juntado aos manifestantes. Foram os mediadores da Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) que obrigaram a junta militar agora no poder em Bamako a liberar o chefe de Estado deposto para que ele pudesse voltar para casa e receber tratamento para seus problemas de saúde. O golpe que o derrubou em agosto de 2020 foi seguido de um segundo golpe, em maio de 2021

"Tenho muito a dar para o Mali", gostava de dizer Bubacar Keita. O ex-presidente se definia como um "muçulmano cartesiano". Mas, apesar dessa convicção, ele não teve tempo nem energia para cumprir sua promessa de reconstruir o Estado maliense.

Recentemente, a junta militar liderada pelo coronel Assimi Goita anunciou a intenção de governar o Mali por vários anos, embora tivesse se comprometido previamente a realizar eleições presidenciais e legislativas em 27 de fevereiro para permitir o retorno dos civis ao poder. Essa ambição assumida fez com organizações regionais adotassem esta semana duras sanções econômicas e diplomáticas contra a junta. 

O chefe da diplomacia do Mali, Abdulaye Diop, disse estar "entristecido ao saber da morte do ex-presidente Keita" e saudou sua memória em uma mensagem publicada em sua conta no Twitter. Na mesma rede social, o presidente do Senegal, Macky Sall, afirmou que estava "triste ao saber da morte" de Keita.

O ex-presidente do Níger Mahamadu Issufu, um camarada de Keita na Internacional Socialista, saudou o colega morto como "um homem culto, um grande patriota e um panafricanista".

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