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Ocidentais se opõem à presença de mercenários russos no Mali com apoio de Moscou

Os mercenários russos da empresa paramilitar Wagner iniciaram seu destacamento no Mali, com a ajuda de Moscou, denunciaram nesta quinta-feira (23) cerca de 15 potências ocidentais envolvidas na luta anti-jihadista e na formação de soldados neste país.

Tropas francesas enviadas ao Mali em 2013 para enfrentar uma insurgência jihadista no norte do país.
Tropas francesas enviadas ao Mali em 2013 para enfrentar uma insurgência jihadista no norte do país. Thomas COEX AFP/File
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Os signatários, no entanto, não ameaçam diretamente Bamako com a saída das forças estrangeiras, ainda que Paris já tivesse prevenido que a chegada ao território do Mali dos paramilitares de Wagner seria "incompatível" com a manutenção dos soldados franceses destacados no país. Essa perspectiva tem sido há meses motivo tensões crescentes entre a junta do Mali no poder e a França. O presidente francês, Emmanuel Macron, desistiu de ir à capital Bamako na última segunda-feira (20).

“Nós (...) condenamos veementemente o envio de mercenários ao território do Mali”, destaca um comunicado conjunto entre diversos países, incluindo França, Alemanha, Reino Unido e Canadá, denunciando “o envolvimento do governo da Federação Russa no fornecimento de apoio material à implantação do grupo Wagner no Mali”.

De acordo com uma fonte do governo francês, "hoje podemos ver repetidas rotações aéreas no local com aviões de transporte militar pertencentes ao exército russo, instalações no aeroporto de Bamako que permitem a recepção de um número significativo de mercenários, visitas frequentes de executivos de Wagner a Bamako e as atividades dos geólogos russos conhecidos por sua proximidade com Wagner".

Nesta quarta-feira (22), o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, já havia alertado o Mali sobre as consequências financeiras e a desestabilização do país, já atormentado pela violência, caso o governo recrutasse Wagner, grupo conhecido por ser próximo ao Kremlin.

“Forma responsável e construtiva”

"Lamentamos profundamente a decisão das autoridades de transição do Mali de usar fundos públicos já limitados para remunerar os mercenários estrangeiros em vez de apoiar as forças armadas e os serviços públicos do país em benefício do seu povo" e "apelamos à Rússia a se comportar de forma responsável e construtiva na região”, insiste o comunicado de imprensa também assinado por uma dezena de países europeus que se empenharam, ao lado de Paris, no novo grupamento de forças especiais Takuba, que deve ajudar o exército do Mali a ganhar força.

“Este desdobramento só pode acentuar a deterioração da situação de segurança na África Ocidental, levar a um agravamento da condição dos direitos humanos no Mali”, lamentam os signatários, em uma referência velada à presença de Wagner na República Centro-Africana, onde a empresa é acusada de abusos e pilhagem de recursos minerais.

A União Europeia sancionou na segunda-feira o grupo Wagner, assim como oito pessoas e três empresas a ele ligadas, por “ações de desestabilização” realizadas em diversos países africanos, incluindo o Mali, e na Ucrânia.

Os países ocidentais também estão pedindo à junta maliana para organizar "eleições o mais rápido possível" para devolver o poder aos civis, mas a junta está se arrastando para apresentar um cronograma de transição, para a decepção dos membros da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao).

Obstrução à transição política

"A crise atual está principalmente ligada à atitude de obstrução à transição política, em que o desdobramento em curso de Wagner é apenas um sintoma, testemunhando a vontade das autoridades de transição de ali permanecer " no Mali, comenta uma fonte do governo francês.

Apesar da relutância do regime golpista do Mali em deixar o poder e do deslocamento contínuo de mercenários russos, que até então eram uma linha vermelha para Paris, “reafirmamos nossa determinação em continuar nossa ação para proteger os civis, apoiando a luta contra o terrorismo no Sahel e ajudando a estabelecer a estabilidade a longo prazo”, afirmam os 15 países.

Após quase nove anos de presença no Sahel, a França começou em junho a reorganizar seu sistema militar, deixando suas três bases mais ao norte em Mali (Tessalit, Kidal e Timbuktu) para se concentrar novamente em Gao e Ménaka, nas fronteiras do Níger e Burkina Faso. Este plano prevê a redução do efetivo francês no Sahel de 5 mil para cerca de 2,5 mil até 2023.

Apesar dos esforços militares, o Mali continua entregue às ações de grupos afiliados à Al-Qaeda, à organização do Estado Islâmico e à violência perpetrada por autoproclamadas milícias de autodefesa.

(Com informações da AFP)

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