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Premiê do Sudão retoma funções após golpe; defensores da democracia rejeitam acordo

O primeiro-ministro do Sudão, Abdullah Hamdok, retoma as rédeas do processo de transição do poder, após um acordo alcançado neste domingo (21) com o general Abdel Fattah al-Burhan, chefe do exército e autor do golpe que o depôs, em 25 de outubro. Milhares de pessoas continuam se manifestando contra a crise política.

Manifestantes protestam contra golpe militar no Sudão e prometem continuar nas ruas, apesar do retorno do premiê  Abdalla Hamdok (17/11/2021).
Manifestantes protestam contra golpe militar no Sudão e prometem continuar nas ruas, apesar do retorno do premiê Abdalla Hamdok (17/11/2021). © AP Photo/Marwan Ali
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Logo ao sair da prisão domiciliar, Abdallah Hamdok se dirigiu ao palácio presidencial para uma cerimônia de assinatura de um acordo com o general al-Burhan. O ato foi retransmitido ao vivo pela televisão, informa a correspondente regional da RFI, Florence Morice. Ambos discursaram e se comprometeram a colocar o Sudão nos trilhos de uma transição democrática – o que significa voltar a uma partilha do poder entre civis e militares, como determina um pacto de 2019. O acordo deste domingo prevê a libertação de políticos presos desde o golpe de outubro, inclusive ministros e líderes civis.

Em frente ao palácio, as forças de segurança lançaram granadas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes que gritavam "não ao poder militar". A mobilização foi intensa em Cartum, como no resto do país.

Os organizadores que promoveram a revolta que encerrou a ditadura de 30 anos de Omar al Bashir, em 2019, anunciaram que rejeitam "qualquer acordo que permita aos golpistas permanecerem em qualquer autoridade de transição", segundo a Associação de Profissionais do Sudão, líder dos protestos há dois anos. Eles defendem a transferência total do poder para os civis.

“Fim do banho de sangue”

Desde o golpe militar de 25 de outubro, os protestos deixaram 40 mortos e centenas de feridos, de acordo com uma associação médica pró-democracia. Em sua primeira aparição pública desde o golpe, Hamdok prometeu "acabar primeiro com o derramamento de sangue no Sudão". O general Burhan o "agradeceu por sua paciência", já que o economista passou quase um mês em prisão domiciliar.

O anúncio deste domingo ocorre após semanas de mediação para tirar o país da crise. Durante esse período, embaixadores ocidentais, negociadores da ONU e personalidades da sociedade civil sudanesa se reuniram com civis e militares.

O objetivo era relançar uma transição que deveria levar o país a eleições livres em 2023, após 30 anos da ditadura militar de Bashir, destituído pelo Exército após massivas manifestações.

As Forças pela Liberdade e Mudança, o principal bloco de defesa dos direitos civis do Sudão, rejeitaram imediatamente o acordo. "Reiteramos claramente que não há possibilidade de negociação ou associação" com "os golpistas", disseram, pedindo que os generais sejam levados à justiça por sua repressão sangrenta aos protestos. O partido Oumma, o maior do país, afirmou "recusar qualquer acordo político que não aborde as raízes da crise gerada pelo golpe militar".

General aliado a comandante paramilitar

Semanas atrás, o general al-Burhan parecia determinado a se manter o poder, apesar da rejeição da comunidade internacional e dos manifestantes. Nesse sentido, nomeou um novo conselho de governo no qual manteve sua posição de força, junto com um poderoso comandante paramilitar, três altos oficiais militares, três ex-líderes rebeldes e um civil.

A comunidade internacional denunciou a repressão aos protestos em várias ocasiões, pedindo o retorno ao processo de transição democrática. A polícia afirma que nunca abriu fogo, apesar do elevado número de vítimas entre os manifestantes. Segundo as forças da ordem, os protestos deixaram apenas um morto e 30 feridos devido, segundo eles, ao gás lacrimogêneo.

Com informações da AFP

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