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Três manifestantes morrem e mais de 100 ficam feridos em protestos contra golpe no Sudão

Milhares de pessoas saíram às ruas de mais de 70 cidades do Sudão neste sábado (30) para exigir o retorno à transição democrática de governo após o golpe de Estado perpetrado na segunda-feira (25) pelo general Abdel Fattah al-Burhan. As manifestações deixaram três mortos e mais de 100 feridos. 

Protesto na cidade de Omdurman, a mais populosa do Sudão, neste sábado (30).
Protesto na cidade de Omdurman, a mais populosa do Sudão, neste sábado (30). © AFP
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Desde segunda-feira (25), quando a mobilização contra o golpe teve início, 12 pessoas morreram e 300 ficaram feridas. Há vários dias a ONU e os Estados Unidos vêm criticando o uso da força e da violência para reprimir os manifestantes.

A resposta do Exército está sendo observada por todo o mundo, alertou uma fonte dos Estados Unidos. "Será um verdadeiro teste das intenções dos militares", disse ele, alertando contra uma onda de violência.

Neste sábado, na capital Cartum, em Omdurman, a cidade mais populosa do país, e em dezenas de outras localidades, os protestos foram marcados por palavras de ordem contra o Exército. "Queremos um regime civil e não vamos aceitar a divisão do poder com os militares, tem que ser 100% civil", disse o manifestante Hashem al-Tayeb.

Apesar dos mortos e feridos pela repressão militar desde o golpe, o risco de um novo banho de sangue neste país dizimado por conflitos não abala a determinação da população, garante o militante pró-democracia Tahani Abbas. "Os militares não vão nos governar. Não temos mais medo", afirma. 

65 anos de governo militar

Em um país governado quase sem interrupção pelos militares em seus 65 anos de independência, a população decidiu enfrentar o general Burhan, que na segunda-feira dissolveu as instituições do governo de transição e prendeu a maioria dos líderes civis. 

O principal lema dos opositores é: "não há como voltar atrás", após a revolta que derrubou o ditador Omar al-Bashir em 2019, um general que chegou ao poder com outro golpe, há 30 anos, depois de seis meses de mobilização e mais de 250 mortos.   

Desde segunda-feira, muitos sudaneses obedeceram a convocação por "desobediência civil" e armaram barricadas. Eles enfrentam balas reais ou de borracha e gás lacrimogêneo disparados pelas forças de segurança. Muitas instituições públicas anunciaram que se juntariam à iniciativa, paralisando a capital Cartum por cinco dias.

Em uma publicação no Twitter, o ministro sudanês das Finanças, Jibril Ibrahim, que havia apoiado um protesto pró-Exército antes do golpe, alertou que "destruir propriedade pública não é uma manifestação pacífica". Ele sugeriu que as forças da ordem podem atirar novamente contra os manifestantes. 

"Os golpistas tentam realizar atos de sabotagem para encontrar um pretexto para desencadear a violência", acusou, por sua vez, o porta-voz do governo deposto no Facebook. Mas, desta vez, "os líderes militares não devem se enganar: o mundo está olhando e não vai tolerar mais sangue", advertiu a ONG Anistia Internacional.

Vários países vêm se manifestando contra a repressão no Sudão. Neste sábado, o emissário britânico Robert Fairweather fez um apelo às forças de segurança sudanesas para que "respeitem a liberdade e o direito de expressão". Já secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu "moderação para não causar mais vítimas".

Sanções internacionais 

O golpe liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan enterrou as esperanças de realizar eleições livres no final de 2023 e mergulhou o país em incertezas. Quase todos os líderes civis que faziam parte do governo de transição junto com os militares ainda estão detidos ou em prisão domiciliar.

Nove dias atrás, dezenas de milhares de sudaneses saíram em passeata gritando "fora Burhan", uma manifestação que provavelmente precipitou o movimento do Exército. Os militantes prometem continuar nas ruas, embora muitos deles tenham sido presos.

Especialistas avaliam que, graças aos protestos massivos de 2019 no Sudão, o movimento pró-democracia está mais bem organizado. Além disso, a mobilização conta com o apoio de uma comunidade internacional que multiplicou as sanções contra os generais.

Os Estados Unidos e o Banco Mundial suspenderam sua ajuda, vital para um país atolado em inflação galopante e pobreza endêmica. Já a União Africana suspendeu o Sudão e o Conselho de Segurança da ONU exige o retorno dos civis ao poder.

(Com informações da AFP)

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