Acessar o conteúdo principal
França

Terrorismo: homenagem a policial gay mostra avanços na polícia da França

"Uma polícia sem tabus". Esse é o desejo de um sindicato policial francês para acabar com o preconceito dentro de uma instituição com fama de homofóbica e repressora. A morte do policial francês Xavier Jugelé no atentado na avenida Champs-Elysées, na última sexta-feira (20), gay e militante LGBT, trouxe a questão à tona.

O presidente francês, François Hollande, durante cerimônia em homenagem a Xavier Jugelé, policial francês morto em atentado terrorista no dia 20 de abril em Paris.
O presidente francês, François Hollande, durante cerimônia em homenagem a Xavier Jugelé, policial francês morto em atentado terrorista no dia 20 de abril em Paris. REUTERS/Philippe Wojazer
Publicidade

Para Yves Lefebvre, secretário-geral do sindicato Unité-SGP Police FO, é inaceitável que o preconceito contra policiais homossexuais ainda exista hoje na França. "Nós temos uma polícia à imagem da nossa sociedade atual. Por isso, batalhamos por uma polícia sem tabus", disse, em entrevista à rádio France Info nesta manhã.

Segundo o sindicalista, o convite para o discurso de Etienne Cardiles, marido de Jugelé, durante a homenagem realizada pelo governo francês na manhã desta terça-feira (25), já mostra uma polícia "mais aberta, tolerante e progressista". "Apoiamos 100% nossos policiais homossexuais e eles sabem disso", reiterou.

No entanto, apesar da abertura na polícia, ainda falta tolerância em parte da população. A justiça francesa foi acionada depois que comentários homofóbicos contra Jugelé foram postados nas redes sociais, no dia 22 de abril.

De acordo com o ministro do Interior, Matthias Fekl, as publicações são “ignóbeis e intolerantes”. O autor delas pode ser acusado de “apologia ao crime” e “provocação ao ódio e violência devido à orientação social de um indivídio.

Homenagem de marido de policial emociona a França

Nesta manhã, Cardiles emocionou o país ao falar sobre o marido. Primeiro a discursar na cerimônia de homenagem, ele contou sobre os últimos momentos do casal juntos antes do fatídico incidente. Emocionado, revelou que ambos partiriam muito em breve em férias e que os detalhes da viagem foram o conteúdo da sua última conversa.

Descrito pelo viúvo como um amante da profissão de policial, Jugelé era "motivado pelo interesse público e pela proteção de todos". Mas, segundo Cardiles, o policial era "uma das facetas" de Jugelé. A outra era a de "um homem de cultura e alegria". Apaixonado por cinema e música, "chegou a ir em cinco sessões seguidas de cinema em um dia" e "acompanhava artistas em turnês". "Céline Dion era a sua musa. Zazie, Madonna, Britney Spears faziam as janelas de nossa casa vibrarem", lembrou. "Um vida de alegrias e sorrisos imensos, onde o amor e a tolerância eram seus mestres", reiterou.

Tolerância que levou Jugelé à reabertura da sala de espetáculos Bataclan, em novembro do ano passado, um ano depois de ter trabalhado como voluntário no socorro às vítimas do 13 de novembro de 2015. Em entrevista à revista americana People, que fazia a cobertura do show de Sting, durante a reinauguração do local, Jugelé declarou: "Estou feliz de estar aqui, feliz que o Bataclan está reabrindo. Vim como testemunha e para defender nossos valores cidadãos. Esse show é para a celebrar a vida e dizer não aos terroristas".

Militante LGBT e guardião da paz

Jugelé era integrante da associação francesa de policiais homossexuais Flag! e militava pela defesa dos direitos LGBT dentro da corporação. Em nota em sua página no Facebook, a organização se diz "chocada e magoada" com o drama. "Nunca esqueceremos Xavier", diz uma mensagem publicada ao lado do policial vestido com o uniforme da polícia francesa.

Em entrevista ao site Street Vox, o presidente da Flag!, o policial Mickaël Bucheron, descreve o colega como "uma pessoa engajada, sorridente, agradável e voluntário". "Ele amava sua profissão, se interessava pelos outros. Não entramos para essa profissão se não nos interessamos pelos outros", diz.

Natural da região de Loir-et-Cher, no centro da França, o policial era membro da 32a. companhia da Direção da Ordem Pública e da Circulação (DOPC) de Paris desde 2014. Antes disso, foi voluntário na polícia civil durante cinco anos, até entrar para a polícia nacional em 2010. Um ano depois, foi promovido à Guarda da Paz, função que diz respeito à proteção de controle e vigilância dentro das cidades. No próximo dia 2 de maio, ele seria transferido para outra unidade da polícia parisiense.

Entrevistados pela revista Marianne, vários colegas de Jugelé o descrevem como "alegre" e "servil". Já o policial que matou Karim Cheurfi, de 39 anos, autor do atentado na avenida Champs-Elysées, emociona-se ao relembrar da fatídica noite. Em entrevista ao jornal Le Parisien, o homem, cujo nome não é revelado, diz que jamais esquecerá o colega, morto com duas balas na cabeça. "Espero que Xavier não tenha sofrido. Sua memória viverá para sempre sempre através de nós. Os terroristas não nos privarão disso."

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.