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Vitória de Macron na França reforça reação da Europa contra o populismo

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A vitória do candidato social-liberal Emmanuel Macron no primeiro turno da eleição presidencial francesa, com 23,7% dos votos, causou alívio na União Europeia e nas principais economias mundiais. Macron vai disputar o segundo turno, no dia 7 de maio, com a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, que teve uma votação histórica de 21,5%.

Os cientistas políticos Alfredo Valladão e Gaspard Estrada, da Universidade Sciences Po, de Paris.
Os cientistas políticos Alfredo Valladão e Gaspard Estrada, da Universidade Sciences Po, de Paris. RFI
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Dois cientistas políticos, Alfredo Valladão e Gaspard Estrada, da Universidade Sciences Po, de Paris, analisaram o resultado da votação do primeiro turno e projetaram o país sob o comando do líder do movimento “Em Marcha!”, que aparece em todas as sondagens como vitorioso no segundo turno contra Le Pen.

Sondagens, aliás, que demonstraram ser confiáveis na França, depois de um período de questionamento sobre os institutos de pesquisas depois do “sim” dos britânicos ao Brexit e da vitória de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. “As sondagens bateram na mosca. Todos disseram que as sondagens não valiam mais nada, depois do Trump e do Brexit, mas não, elas continuam funcionando”, destaca Valladão.

Para o cientista político e também cronista da RFI, os resultados da votação revelaram que a França é o mais novo país a mostrar uma mobilização majoritária contra a subida do populismo em vários países europeus. “As últimas eleições na Áustria e na Holanda, depois do Brexit e da eleição de Trump, mostraram uma reação, por parte de muita gente, de defesa da Europa. Não é verdade que só os populistas estão ganhando”, destaca.

“É verdade que a Marine Le Pen teve a maior votação da história da Frente Nacional. Mas um jovem de 39 anos, sem partido, que tenta colocar a esquerda e a direita juntas, que foi o único realmente pró-europeu, o único que defende o mercado, a abertura econômica, social, cultural da França, etc. chegar em primeiro lugar mostra que ainda existe um movimento que busca defender os valores que fizeram da Europa um continente de paz nos últimos 40, 50 anos”, ressalta.

“A Europa é um dos lugares mais perigosos do mundo. Não vamos esquecer que no século passado foram quase 60 milhões de mortos em duas guerras mundiais. A construção europeia é importante. Ver um jovem, uma pessoa com otimismo, é uma boa coisa para a França”, acrescenta.

Gaspard Estrada destaca o clima político favorável que a eleição de Macron na França pode representar para a Europa em 2017, ano marcado também por eleições na Holanda, Áustria e futuramente na Alemanha e Itália. “Uma disputa política será travada este ano na Europa para que o continente ganhe uma nova dinâmica política, para sair da letargia e da inércia que existe no que diz respeito à construção e à renovação do projeto europeu”, disse.

Estrada lembra a importância da França como único país da União Europeia com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, após a saída do Reino Unido do bloco.

Eleições legislativas devem definir linha de atuação política

Projetando uma vitória de Macron no segundo turno, Estrada, que é diretor do Observatório Político da América Latina e do Caribe na Sciences Po, prevê um governo de transição e de gestão prática do cotidiano até as eleições legislativas de junho, quando os eleitores franceses irão renovar a Assembleia Nacional. Na França, o presidente eleito nomeia o chefe de governo de acordo com a maioria no Parlamento.

“Só com o resultado político das eleições legislativas vamos saber realmente qual será o equilíbrio das forças e, portanto, a iniciativa que ele poderá tomar. A grande vantagem que ele tem como candidato é que ele ainda pode falar para todo o espectro dos partidos republicanos. O que ainda não está claro, é qual deverá ser a equação política deste governo”, afirma. A grande dificuldade, segundo Estrada, será definir o seu chefe de governo após a realização das eleições legislativas.

Para Valladão, se Macron, uma vez eleito, não tiver maioria ou seu movimento “Em Marcha!” pouca representação no Parlamento, ele será obrigado a se aliar “com uma parte que sobrou do Partido Socialista e da direita republicana”. “O problema é que esses dois partidos tradicionais, da direita e os socialistas, estão implodindo. Muitos políticos desses partidos vão querer se unir ao movimento de Macron para serem eleitos. Não sabemos ainda se a direita republicana, que sempre foi relativamente majoritária no país, vai ter condições de ganhar as eleições legislativas, enquanto o Partido Socialista está profundamente fragmentado”, constata.
 

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