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Um pulo em Paris

Reforma da Previdência de Macron é considerada injusta entre gerações

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Ao final da aposentadoria, a geração de franceses que nasceu na década de 1950 e desfruta atualmente de uma vida mais tranquila – os chamados "baby boomers" – terá recebido um montante total de pensões duas vezes maior do que a soma das contribuições revertidas ao caixa da Previdência. Esta é uma das inúmeras injustiças apontadas por franceses contrários ao projeto de reforma apresentado pelo governo no início do mês, que levou mais de 1 milhão de pessoas às ruas do país, na quinta-feira (19).

Grupo de pensionistas reclama, em cartaz, das constribuições sociais elevadas também cobradas nas pensões de aposentadoria.
Grupo de pensionistas reclama, em cartaz, das constribuições sociais elevadas também cobradas nas pensões de aposentadoria. AFP - CHRISTOPHE ARCHAMBAULT
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A geração que nasceu nos anos 1950 e desfruta atualmente da aposentadoria na França pagou contribuições relativamente baixas ao sistema, parou de trabalhar cedo – aos 60 anos ou menos –, e recebe pensões razoavelmente dignas. Porém, com a variação da demografia nas décadas seguintes, o valor da contribuição foi aumentando, assim como o número de anos trabalhados para manter o equilíbrio do sistema. O resultado é que, hoje, para sustentar a aposentadoria dos pais, os filhos terão de pagar cotizações mais elevadas e trabalhar por mais tempo, para receber, no final, pensões de aposentadoria mais baixas. 

Este fenômeno pode ser explicado pela demografia francesa e por um efeito estrutural ligado à implementação do sistema de pagamento por repartição, baseado na solidariedade dos que trabalham para sustentar aqueles que cessaram a vida ativa. 

O economista Maxime Sbaihi mostrou essa projeção com um gráfico em sua conta no Twitter:

O objetivo do reforma é reequilibrar o caixa da Previdência, que aponta para uma previsão de déficit nos próximos anos. Um dos aspectos apontados como injusto para se alcançar essa meta é que o esforço financeiro recai basicamente sobre os trabalhadores, e não sobre os empregadores. Os sindicatos dizem que o aumento da taxa obrigatória de contribuição das empresas seria suficiente para não precisar elevar o período de contribuição – embora a medida pudesse ter impacto sobre o nível de emprego no país.

As manifestações ocorridas nessa quinta-feira contra o projeto de reforma, reafirmado como "justo e necessário" pelo presidente Emmanuel Macron, reuniu entre 1 e 2 milhões de pessoas nas ruas, 400 mil apenas em Paris. A queda de braço se instalou entre o governo e a frente sindical unida que convocou a greve, aliada aos 72% de franceses que rejeitam a reforma, segundo uma pesquisa do instituto Harris Interactive-Toluna, encomendada pela emissora RTL e a AEF Info.

O projeto de lei do governo aumenta a idade mínima legal de aposentadoria para 64 anos, contra 62 anos atualmente, e amplia para 43 anos o tempo de contribuição para acesso à pensão integral. Isto é, sem essas duas condições reunidas, a idade mínima e os 43 anos de contribuição quitados, o trabalhador é penalizado com descontos altíssimos nas pensões.

31 de janeiro: nova greve

As oito centrais sindicais que encabeçam o movimento convocaram um novo dia de greve e manifestações em 31 de janeiro. Até lá, elas pretendem mobilizar os assalariados que temem uma luta perdida. O direito à greve é uma garantia constitucional no país, mas o grevista tem o salário descontado pelo dia de ausência. Em tempos de inflação elevada, muitos não podem abrir mão de um dia trabalhado para pagar as contas no final do mês.

Até lá, as lideranças sindicais pretendem incitar debates internos nas empresas e discutir meios de ação alternativos, além da tradicional panfletagem nas feiras livres dos fins de semana. 

Saiba mais sobre este impopular projeto de reforma aqui.

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