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Um pulo em Paris

Adolescentes franceses são vítimas de violência em grupo na saída das escolas

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A semana na França foi marcada por casos graves de violência entre adolescentes na saída de escolas. São casos de vingança entre grupos de jovens que envolvem assédio nas redes sociais, falsificação ideológica e tentativa de assassinato. O presidente Emmanuel Macron disse que é preciso acabar com a "violência desinibida" que está tomando conta dos adolescentes franceses e que é preciso "proteger" as escolas da violência externa. 

A ministra da Educação francesa, Nicole Belloubet, determinou uma investigação administrativa para averiguar se houve negligência no colégio em Montpellier, em que uma aluna de 15 anos foi espancada na saída das aulas.
A ministra da Educação francesa, Nicole Belloubet, determinou uma investigação administrativa para averiguar se houve negligência no colégio em Montpellier, em que uma aluna de 15 anos foi espancada na saída das aulas. AFP - JULIEN DE ROSA
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Um estudante de 15 anos que tinha sido espancado ontem por um grupo de desconhecidos na saída do colégio em Viry-Chatillon, subúrbio ao sul de Paris, não resistiu aos ferimentos e morreu nesta sexta-feira (5). O prefeito da cidade e moradores estão revoltados, embora a área seja conhecida por brigas entre alunos das escolas locais e tráfico de drogas.

Shamseddine, o estudante morto, é descrito pelos colegas como um adolescente sorridente e calmo, sem antecedentes criminais. Ele foi espancado por um grupo de desconhecidos que o abordou na saída de uma aula de música. Os agressores estavam encapuzados e estão foragidos.

Na terça-feira (2), uma aluna de 13 anos chamada Samara, estudante de um colégio de Montpellier (sul), foi espancada durante uma hora na porta da escola, sem que nenhum adulto tenha aparecido para impedir a agressão. Ela foi hospitalizada em coma, já saiu desse quadro, mas está traumatizada. Três menores de 14 e 15 anos, dois de fora do colégio e uma aluna envolvidos na surra, foram detidos por tentativa de assassinato e confirmaram à polícia ter batido na menina. A colega de escola de Samara teve prisão preventiva decretada nesta sexta-feira e terá de responder por tentativa de homicídio.

Além desses dois casos graves, cinco meninas com idades de 11 a 15 anos que espancaram uma adolescente de 14 anos em Tours (centro) e filmaram a agressão numa rede social, segundo elas por causa de "uma história de menino", também foram apresentadas a um juiz nesta sexta para responder judicialmente pela agressão. 

Violência está em alta no meio escolar

Quase toda semana, a imprensa francesa traz uma história dramática relacionada com violência no meio escolar. No caso da Samara, tudo começou com uma fotografia publicada num perfil falso do Snapchat atribuído à adolescente, mas que foi criado por outros alunos da escola para incitar uma onda de violência contra ela. Uma amiga da estudante disse que a armadilha foi premeditada. 

Dois estudos divulgados em fevereiro pelo Ministério da Educação francês apontam um aumento da violência no ambiente escolar. Um deles analisou relatos de incidentes graves em escolas de ensino fundamental e médio, públicas e privadas. O segundo levantamento revelou os resultados preliminares da pesquisa sobre assédio que o governo tinha lançado em novembro, após um caso de suicídio de aluno que teve forte repercussão

Os resultados não são nada animadores: no ano escolar de 2022-2023, os incidentes graves de violência nas escolas francesas aumentaram 50%. O tipo de violência mais frequente continua sendo o verbal, mas também foram notificadas agressões físicas. 

Os inspetores nacionais de educação (IEN) declararam 13,7 incidentes graves por 1.000 crianças e adolescentes. Um dado curioso é que esses eventos são menos frequentes nas escolas públicas.

Alunos têm medo de ir à escola

Depois do anúncio da morte do jovem Shamseddine, o governo denunciou um crime de "extrema violência" e prometeu que os responsáveis serão identificados e punidos.

“Não podem fazer isto a um jovem de 15 anos”, lamentou Omar (nome modificado) à reportagem da AFP. Amigo da vítima, Omar diz que "Shams", como era chamado, era “um tipo sem problemas”. No colégio localizado num bairro supostamente tranquilo deste subúrbio ao sul da capital, o estudante morto nunca sofreu de assédio escolar, acrescenta o adolescente de 15 anos. “Quando me disseram que era Shams quem havia apanhado, não pude acreditar, ninguém acredita”, repete o amigo.

Com uma bola de futebol na mão, Mathéo, 12 anos, sente-se “estressado e triste”. O aluno do 5º ano descreve uma escola “bastante calma”. Ele confessa que tem “medo” que os agressores de Shamseddine “voltem”.

No caso da jovem Samara, de Montpellier, o Ministério da Educação abriu uma investigação interna para averiguar omissões do corpo docente e da direção, depois que a mãe da estudante disse em entrevistas que a filha de 13 anos era há meses assediada pela aluna que bateu nela.

Entrevistados depois do incidente, os professores do colégio se defenderam, alegando que ficam totalmente impotentes diante dessas intrigas de ódio e assédio que acontecem no mundo virtual das redes sociais ao qual não têm acesso. 

Especialistas dizem que esse fenômeno de "chamados para vinganças em grupo", muitas vezes alimentados por perfis fake criados nas redes só para difamar as vítimas, têm crescido. Os suicídios de alunos vítimas de assédio também aumentaram. Por mais que se fale do assunto, estudos mostram que 80% dos pais franceses não sabem o que os filhos menores fazem nas redes sociais. É uma arena sem moderação de adultos.

Na França, os menores de 15 anos não têm, em princípio, o direito de criar um perfil nas redes sociais desde a aprovação de uma lei votada em julho de 2023 sobre a maioria digital, cujo objetivo é lutar contra o assédio online. Mas a criação de perfis falsos mostra que tem algo errado na aplicação dessa legislação, seja no controle executado pelas próprias redes, seja na fiscalização do governo. 

Médicos temem transtornos por vício de adolescentes nas redes sociais

Os médicos franceses andam preocupadíssimos com o vício de crianças e adolescentes nas redes sociais e os problemas decorrentes dessa exposição. Ansiedade, fobia escolar e queda de aprendizagem estão entre os transtornos que já se manifestam nesta geração. Ao mesmo tempo, as crianças francesas ganham celulares cada vez mais cedo, às vezes aos 8 anos, principalmente os francesinhos que vão sozinhos para a escola. 

Depois, na adolescência fica complicado controlar o uso do celular e o jovem se construiu vendo conteúdos inadequados, que levam a comportamentos que os pais sequer imaginam. Muitos pais se sentem despreparados para conversar com os filhos sobre as redes porque sabem que a meninada é mais esperta com as novas tecnologias. Essa perda de influência dos adultos sobre situações que comprometem o desenvolvimento afetivo e psíquico dos adolescentes se torna um problema sério para as sociedades, advertem os médicos. 

De acordo com o Código Penal francês, a gravidade, as circunstâncias do delito e a personalidade do seu autor podem levar um juiz a considerar um jovem como adulto a partir dos 16 anos, enquanto a maioridade penal é normalmente aos 18 anos na França.

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