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Um pulo em Paris

Caso de deputado condenado por violências domésticas gera racha em partido da esquerda na França

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O caso do deputado francês Adrien Quatennens, condenado por violências domésticas em dezembro, suscita uma forte polêmica na França. Apesar das críticas e de ter sido temporariamente suspenso por seu partido França Insubmissa, ele resolveu retornar às atividades na Assembleia Nacional nesta semana. A atitude do político vem resultando em um racha na maior legenda da esquerda do país.

O deputado Adrien Quatennens (à esquerda), ao lado de Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa, na Assembleia Nacional Francesa (foto de março de 2020).
O deputado Adrien Quatennens (à esquerda), ao lado de Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa, na Assembleia Nacional Francesa (foto de março de 2020). AFP - LUDOVIC MARIN
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Para Jean-Luc Mélenchon, líder do partido França Insubmissa, Adrien Quatennens tem razão de retomar as atividades na Assembleia Nacional. Considerado como um tutor do deputado, o ex-candidato à presidência acredita que seu “afilhado” foi suficientemente punido, após ter sido condenado a quatro meses de prisão com sursis por violências domésticas, no final de dezembro, e ser suspenso até abril da legenda da esquerda radical.

Mas a opinião de Mélenchon não é unanimidade dentro do partido. Outras lideranças do França Insubmissa, principalmente mulheres, exigem a renúncia de Quatennens. É o caso da deputada Clémentine Autain e a eurodeputada Manon Aubry, que acreditam que ele não pode mais ocupar um cargo político e que a insistência em se agarrar à função de deputado está prejudicando a imagem do partido.

Já para a deputada Clémence Guetté, Quatennens não deveria mais ser associado ao partido “já que está suspenso até abril". “Ele não é deputado da França Insubmissa”, ressaltou, nesta semana, em entrevista à Franceinfo. No entanto, ela não descarta que o colega tenha “direito a uma reabilitação”, ressaltando “a exigência de respeitar os princípios feministas” do partido.

Outra liderança do França Insubmissa, o deputado Alexis Corbière, diz que o condenado poderá voltar a exercer suas atividades normalmente em três meses, mas impõe condições. “Dependendo da atitude de Quatennens, veremos se ele voltará ao grupo. Ele está suspenso até 13 de abril e depois haverá uma revisão, o que significa que vamos discutir tudo isso novamente”, disse, em entrevista ao canal de TV France 2.

Violências domésticas

Adrien Quatennens, 32 anos, foi condenado em dezembro passado a quatro meses de prisão com sursis por ter cometido violências contra a esposa entre outubro e dezembro de 2021. O caso veio à tona depois que o jornal francês Le Canard Enchaîné revelou que Céline Quatennens registrou uma queixa na polícia acusando o marido de a ter agredido quando ela anunciou sua intenção de se divorciar.

As revelações resultaram em uma imensa polêmica que mobilizou a classe política e deixou o partido França Insubmissa – célebre por seu posicionamento progressista e defesa de valores feministas – em uma situação delicada. Alguns dias depois, Quatennens publicou um comunicado no Twitter admitindo que havia agredido a esposa.

Em um longo relato, o deputado reconheceu ter protagonizado brigas e confrontos físicos com a mulher. Em um dos episódios, ele diz ter agarrado o pulso dela. Em outro, confiscou seu celular e a empurrou, resultando em um ferimento no cotovelo da esposa. Quatennens revelou também que um ano antes do pedido de divórcio, durante uma discussão com a mulher, deu um tapa em seu rosto.

No comunicado publicado no Twitter, Adrien Quatennens também pediu desculpas públicas, explicou que sua natureza não é violenta e disse se arrepender de ter protagonizado essas agressões. No mesmo documento, ele anunciou sua renúncia ao cargo de coordenador do partido França Insubmissa, se colocando à disposição da justiça francesa e indicando que o casal começaria o processo de separação.

Depois da condenação, Quatennens foi temporariamente suspenso da legenda, mas passou a mencionar a possibilidade de retornar às funções de deputado. Dizendo-se vítima de uma linchagem midiática, e apontando para a necessidade de honrar seu mandato. “Paguei caro em todos os planos. Não cederei”, afirmou, em entrevista ao jornal francês La Voix du Nord.

Retorno à Assembleia Nacional

Na quarta-feira (11), Quatennens suscitou uma forte indignação da classe política ao chegar na Assembleia para participar de uma comissão que discute a reforma do corpo diplomático francês. No entanto, suspenso por seu partido, ele pode apenas assistir às atividades parlamentares, sem o direito de se pronunciar ou de votar.

Muitos deputados não hesitaram em exaltar sua revolta com a atitude de Quatennens. Aurore Bergé, líder do partido governista Renascimento, majoritário na Assembleia, denuncia o retorno do esquerdista à Assembleia como algo “anormal”, que não pode ser considerado banal. O também centrista Sylvain Maillard afirmou que sua volta é “inaceitável”.

A líder da extrema direita Marine Le Pen sugeriu que Quatennens renuncie e tente retornar à vida política nas próximas eleições. Já a vereadora ecologista Raphaelle Rémy classificou a atitude do deputado como “vergonhosa” e se diz indignada contra todos os políticos que apoiam o comportamento do esquerdista.

Após o retorno de Quatennens, deputados do partido Renascimento anunciaram a criação de um projeto de lei para tornar inelegíveis pessoas condenadas por violências domésticas. O texto começará a ser debatido no próximo mês de março.

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