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Um pulo em Paris

Os franceses e Elizabeth II: uma história de admiração recíproca ao longo de 70 anos de reinado

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A amizade e a admiração entre a rainha Elizabeth II e os franceses era recíproca. A monarca britânica, falecida na última quinta-feira (8), adorava a França e demonstrou isso em cada uma das cinco visitas de Estado que fez a Paris e outras cidades. 

Elizabeth II tinha uma relação de cumplicidade com o presidente socialista francês François Mitterand.
Elizabeth II tinha uma relação de cumplicidade com o presidente socialista francês François Mitterand. AFP - JOEL ROBINE
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Autoridades, artistas, intelectuais, cidadãos e a imprensa francesa lamentaram o falecimento de Elizabeth II. Apesar de os franceses terem adotado o sistema republicano há mais de dois séculos e terem apego ao Estado laico, a rainha inspirava admiração e respeito do outro lado do Canal da Mancha. Em sinal de luto, a Torre Eiffel ficou apagada na noite que se seguiu à morte da monarca. No dia seguinte, as bandeiras amanheceram a meio-mastro, em todos os edifícios públicos franceses.  

Em um vídeo de 3 minutos, gravado em inglês, o presidente Emmanuel Macron se dirigiu diretamente aos britânicos. Na gravação, ele disse que a morte de Elizabeth II "deixava uma sensação de vazio nos franceses". Macron prometeu perpetuar os valores que a soberana nunca deixou de encarnar e promover "a força moral da democracia e da liberdade". 

Macron foi até a embaixada britânica, em Paris, que é vizinha do Palácio do Eliseu, no Faubourg Saint-Honoré, e assinou o livro de condolências aberto pela missão diplomática. Ele conversou durante alguns minutos com a embaixadora britânica e disse: "acredito que os franceses estão comovidos porque a rainha foi uma personalidade, uma presença que acompanhou 70 anos da vida dos britânicos e da Europa". 

Elizabeth II adorava a França e demonstrou isso em cada uma das cinco visitas de Estado que fez a Paris e a outras cidades francesas. Ela falava perfeitamente o francês, conhecia profundamente a história do país e, conforme lembrou o ex-ministro Jack Lang, "admirava a cultura francesa, os vinhos, a gastronomia, a famosa 'art de vivre à la française'", ou seja, a maneira como os franceses celebram a vida no cotidiano, além de ter sido uma pró-europeia convicta.

Para alguns, pode parecer contraditório que um povo que fez uma revolução sangrenta para derrubar a monarquia há mais de 200 anos, cortando cabeças de membros da família real da época, tenha essa relação de admiração pela monarca britânica falecida. Mas não é.

Tranquilidade e segurança

A estabilidade que Elizabeth II transmitia dentro e fora do país inspira essa admiração entre os herdeiros da Revolução Francesa, de 1789. O jornal Le Figaro publicou um editorial muito preciso sobre isso, na sexta-feira (9): "O mundo podia tremer, a identidade da Inglaterra ser ameaçada, a família real ser abalada por dramas e escândalos, mas o ar sereno e imperturbável da rainha transmitiam tranquilidade”. 

Essa qualidade de Elizabeth II, associada à relação de amizade particular que ela sempre demonstrou em relação à França, criaram esse laço forte e duradouro. 

Depois de ser coroada, a França foi o primeiro país que a rainha visitou fora da Comunidade de Nações britânica, o Commonwealth. Essa histórica visita a Paris aconteceu em 1956, quando ela tinha 30 anos. No discurso pronunciado num jantar de gala oferecido no Palácio do Eliseu, ela disse em um francês impecável que esperava que "a confiança e a compreensão mútua entre a República Francesa e o Reino Unido durassem para sempre". 

Elizabeth II conviveu com nove presidentes franceses

Em 70 anos de reinado, Elizabeth II conviveu com nove presidentes franceses. Em Paris ou Londres, ela sempre demonstrava estar contente de se reunir com os chefes de Estado franceses. Com alguns aconteceram discordâncias e gafes, porém logo superados. A história registra que a rainha tinha uma cumplicidade especial com o socialista François Mitterand, com quem conviveu durante dois mandatos consecutivos, de 1981 a 1995. A cultura do líder francês socialista encantava a monarca. Eles trabalharam juntos para construir o túnel sob o Canal da Mancha, que hoje liga a França à Grã-Bretanha. 

Apesar do Brexit, as expectativas do governo francês são positivas em relação ao rei Charles III. Com uma personalidade mais aberta e engajada, Charles III poderá redefinir a monarquia britânica. Ele é um ativo defensor do meio ambiente, e a França conta com esta convicção do novo soberano para influenciar o mundo a acelerar o combate à mudança climática.

Champagne preferido da rainha

O fabricante de champagne Pol Roger publicou uma nota de pesar pelo falecimento da rainha. A marca francesa, que primeiro conquistou o paladar do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill e depois o de Elizabeth II, tornou-se fornecedora oficial da coroa britânica há várias décadas.

A rainha gostava de degustar uma taça de Pol Roger "extra brut" nas recepções que oferecia no Castelo de Windsor. William e Kate Middleton serviram essa marca de champagne em seu casamento, em abril de 2011. Harry e Meghan Markle fizeram o mesmo em maio de 2018.

O fabricante francês, instalado em Épernay, na região de Champagne, tem orgulho de exibir em suas garrafas "Royal Warrant of Appointment", um selo concedido às empresas que fornecem produtos à coroa inglesa.

"A Maison Pol Roger está profundamente entristecida com a morte de Sua Majestade a Rainha Elizabeth II e agradecida por sua longa vida de dedicação e serviço", diz a nota publicada na home page do vinhedo.

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