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Líderes do Commonwealth, ex-colônias britânicas, lembram histórias de encontros com Elizabeth II

Os súditos da rainha não vivem apenas no Reino Unido. Elizabeth II, que morreu nesta quinta-feira (8), também dividiu sua história com as 56 nações do Commonweth. Dirigentes dos países-membros da organização homenagearam Elizabeth II.

A então princesa Elizabeth II e o príncipe Philip, na varanda de um hotel em Nairobi, no Quênia, em 1952
A então princesa Elizabeth II e o príncipe Philip, na varanda de um hotel em Nairobi, no Quênia, em 1952 © Getty Images/Central Press
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Após chegar ao trono, em 1952, a rainha assumiu o Commonwealth, um grupo de ex-territórios do Império Britânico distribuídos em seis continentes. A maioria dos 56 países membros do bloco obteve a independência durante seu reinado. Na época, diversos movimentos que pregavam a descolonização ganharam terreno na África e na Ásia. 

Até sua morte, a rainha ainda era considerada como a chefe de Estado de 15 reinos: Antígua e Barbuda, Austrália, Bahamas, Belize, Canadá, Granada, nas Antilhas, Jamaica, Nova Zelândia, Papua Nova Guiné, São Cristóvão e Neves, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Ilhas Salomão, Tuvalu e Reino Unido.

A rainha Elizabeth II ao lado do premiê Stephen Harper, em 29 de junho de 2010
A rainha Elizabeth II ao lado do premiê Stephen Harper, em 29 de junho de 2010 Reuters

Emoção para Justin Trudeau

Rainha do Canadá, Elizabeth II visitou pelo menos 22 vezes o país onde ela se sentia em casa, conta o correspondente da RFI no Québec, Pascale Guéricolas. Nesta quinta-feira (8), o primeiro-ministro falou sobre as lembranças que guardava da rainha.

"Nossas conversas vão me fazer muita falta", disse Trudeau, em uma declaração. Ele conheceu a soberana quando  ainda era criança e acompanhou seu pai, o ex-premiê canadense, Pierre-Elliot Trudeau, durante uma visita oficial a Londres.

O premiê lembrou como o país está ligado à Inglaterra, uma monarquia constitucional. "Ela foi nossa rainha durante quase metade do tempo de existência do Canadá. Ela tinha um afeto profundo, que era evidente, por todos os canadenses", declarou.

De acordo com a Constituição do país, o rei Charles III se tornará rei do Canadá, e o Parlamento vai jurar fidelidade ao soberano. Há canadenses que se consideram monarquistas, mas uma boa parte da população, principalmente no Quebec, é contra um sistema considerado ultrapassado. Mudar a Constituição, entretanto, é quase impossível. É preciso obter a aprovação de todas as províncias, mas a opinião da população sobre o tema nessas regiões é divergente.

Na Austrália, o premiê Anthony Albanese elogiou a "decência atemporal" da rainha e disse que sua morte marcava "o fim de uma época." Segundo ele, "os corações do povo australiano estão com o povo do Reino Unido, que está de luto hoje. Sabemos que eles têm o sentimento de terem perdido uma parte do que o representa a unidade da nação", disse Albanese.

Ele elogiou um reino histórico e uma longa vida dedicada a seus deveres, à família, à fé e ao trabalho. "É evidente que Sua Majestade tinha um lugar guardado no seu coração para a Austrália", acrescentou o premiê, dizendo que a população do país também reservava para ela um espaço em seus corações.

A Austrália foi colônia da Grã Bretanha durante mais de 100 anos. O  país obteve sua independência em 1901, mas nunca se tornou uma República de fato. Em 1999, os australianos votaram em um referendo, com pouca margem de votos, contra a destituição da rainha.

As pesquisas feitas antes da morte da rainha Elizabeth II mostraram que a maioria dos australianos eram favoráveis à instauração de uma República, mas não estão de acordo sobre a maneira de escolher o chefe de Estado. Após sua eleição, Anthony Albanese não descartou a possibilidade de organizar um novo referendo.

A premiê da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, falou sobre maternidade com a rainha Elizabeth II.
A premiê da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, falou sobre maternidade com a rainha Elizabeth II. Marty MELVILLE / AFP

Com premiê da Nova Zelândia, rainha falou sobre família e trabalho

Assim como os outros países do Commonwealth, a Nova Zelândia também está de luto. As bandeiras foram colocadas a meio mastro e vários livros de condolências estão à disposição nos prédios públicos e nas igrejas, explicou o correspondente da RFI em Washington, Richard Tindiller. Em homenagem à rainha, o 16º batalhão do Exército lançou, nesta sexta-feira, 96 tiros de canhão em Wellington, diante de milhares de pessoas. 

A primeira-ministra do país, Jacinda Ardern, disse que soube da morte da rainha por volta das 5h da manhã. Ela tinha lido a notícia sobre o estado de saúde preocupante da soberana antes de se deitar. "Quando fui acordada por um oficial de polícia, soube o que isso queria dizer", conta.  "Estou profundamente triste."

Aos jornalistas que perguntaram como era sua relação com Elizabeth II, Jacinda Ardern contou que se tornou mãe durante seu mandato e pediu, durante um encontro, conselhos à soberana sobre como administrar seu papel de mãe, avó e serviço ao país. A rainha respondeu simplesmente que não tinha escolha, e que tinha que fazer tudo ao mesmo tempo.

A primeira-ministra disse, em seguida, que aprendeu muito com ela a observando durante seus encontros, e mencionou também "o lado humano" da rainha durante essas conversas. Jacinda Arden disse, por exemplo, que durante o lockdown da epidemia de Covid-19, a rainha Elizabeth contou que ouvia um podcast sobre um prisioneiro político que ficou fechado durante anos. E que o lockdown não devia ser "nada" em comparação a essa experiência.

Jacinda Arden também se lembrou do bom humor da rainha. Em 1986, durante uma visita, alguns manifestantes jogaram ovos na soberana. No Parlamento, ela ironizou o incidente e disse que os ovos neozelandeses eram os "seus preferidos no café da manhã".

A rainha e o duque de Edimburgo na chegada à Índia, em 1961
A rainha e o duque de Edimburgo na chegada à Índia, em 1961 © Associated Press

Na Índia, homenagens ambivalentes

A imprensa na Índia deu destaque à relação da rainha com o país, conta o correspondente da RFI em Bangalore, Côme Bastin. Em sua última passagem por terras indianas, em 1997, ela quebrou um tabu abordando os "episódios difíceis da colonização."

O premiê indiano, Narendra Modi, lamentou a morte da soberana que, segundo ele, foi uma "guia inspiradora para sua nação e seu povo." Ele homenageou a rainha com uma história: em 1947, sem saber o que oferecer para o casamento de Elizabeth II com  Philip Mountbatten, Gandhi, que pregava o não-materialismo, bordou um lenço e escreveu "Vitória à Índia", algumas semanas depois da independência. O presente foi considerado "pouco apropriado."

A morte da rainha ocorre em meio a uma atmosfera anticolonialista crescente no país. Na véspera de sua morte,  Modi elogiou a retirada de uma estátua de George V e da mudança do nome da avenida Rajpath (Avenida dos Reis), renovada recentemente na capital.  

Arif Alvi, presidente do Paquistão, também homenageou a rainha. "Sua morte deixa um imenso vazio e sua lembrança ficará gravada nos anais da História Mundial", disse. Elizabeth II visitou o Paquistão duas vezes, em 1961 e 1997, quando o país comemorou 50 anos da indepedência do império britânico das Índias. 

O presidente das Maldivas, Mohamed Ibrahim Solih, declarou que a rainha era um exemplo brilhante para o serviço público, de resiliência e dedicação ao país."

A rainha e o presidente sul-africano Nelson Mandela, em 1996, durante sua visita ao Reino Unido
A rainha e o presidente sul-africano Nelson Mandela, em 1996, durante sua visita ao Reino Unido © Tim Graham/Getty Images

"Uma grande amiga da África"

O Gabão e o Togo, que fazem parte parte do Commonwealth há apenas três meses, também fizeram homenagens. Em um tweet, o presidente do Gabão, Ali Bongo, enviou suas "sinceras condolências ao povo britânico, à sua Majestade, o rei Charles III, e a sua família." O chefe de Estado do Togo, Faure Gnassingbé, descreveu uma "tristeza comum a todo o planeta, vendo a maneira como a soberana encarna a amizade universal entre os povos."

Os países anglófonos, como o Quênia, também reagiram à morte da soberana. Eleito há poucos dias, o novo presidente eleito, William Rudfo, elogiou sua liderança admirável dentro do Commonwealth, há sete décadas. "Sua Majestade, a rainha Elizabeth II foi um ícone, uma figura essencial não apenas para o Reino Unido e o Commomwealth, mas para o mundo inteiro."

Elizabeth II, na época princesa, visitou o Quênia em fevereiro de 1952, quando soube da morte de seu pai. O Quênia foi a primeira etapa de sua viagem ao Commonwealth, ao lado do seu marido, o princípe Philip, no lugar do seu pai, George VI, que estava doente. Eles tinham acabado de passar a noite no Treetops, um pavilhão no alto de uma figueira gigante no Parque Nacional de Aberdare, no centro do Quênia, quando a então princesa soube da morte do rei e que se tornaria rainha.

África do Sul

A rainha denunciou, durante muito tempo, o Apartheid na África do Sul. Ela se recusou a ir para o continente durante mais de 40 anos. Na quinta-feira à noite, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, citou uma personalidade "extraordinária", cujo engajamento continua sendo um "exemplo." Ele se lembrou dos últimos encontros, em 2018, onde ele e a rainha tinham olhado as cartas de Nelson Mandela enviadas para ela.

O presidente do Zimbábue, que se retirou do Commomwealth em 2003 após sua suspensão em razão de problemas relacionados aos direitos humanos e décadas de relações difíceis com o Reino Unido, apresentou suas condolências aos britânicos. "Que ela descanse em paz", escreveu Emmerson Mnangagwa.

O presidente do Malawi, Lazarus Chakwera, escreveu no Facebook: "Choramos a morte de uma grande monarca. Para nós como nação, sua memória ficará para sempre marcada em nossos corações e nas páginas de nossa história." A presidente da Tanzânia,  Samia Suluhu Hassan, disse no Twitter estar "profundamente triste com a morte da Elizabeth II", e acrescentou que o mundo inteiro se lembrará da rainha como um pilar de força, paz, unidade e estabilidade"

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