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Um pulo em Paris

Jovens franceses se angustiam com mudanças climáticas, mas mudar de hábitos é difícil

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Milhares de jovens ativistas protestaram em Glasgow, nesta sexta-feira (5), onde está acontecendo a Conferência da ONU sobre o clima. Vindos de vários países, eles acusaram os governos de fazer muito pouco para proteger o mundo das mudanças climáticas. Uma centena de jovens franceses acompanham as negociações da COP26 na Escócia, sem grandes expectativas que os líderes políticos tomem as decisões necessárias para conter o aquecimento da Terra a 1,5°C até 2100, como prevê o Acordo de Paris.

Jovens ativistas participam de um protesto contra o financiamento de combustíveis fósseis em frente ao Standard Chartered Bank em Londres, em 29 de outubro de 2021.
Jovens ativistas participam de um protesto contra o financiamento de combustíveis fósseis em frente ao Standard Chartered Bank em Londres, em 29 de outubro de 2021. AP - Alberto Pezzali
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A delegação do governo francês na COP26 escolheu dois estudantes para acompanhar as discussões oficiais. Uma delas é Lorelei Lankester, de 22 anos, que faz um mestrado em Ciências Políticas e Meio Ambiente na universidade Sciences Po, de Paris. Ela foi selecionada pelo Ministério da Transição Ecológica para apoiar a delegação francesa nas negociações por dois anos. O restante dos jovens franceses que acompanham as discussões atuam em fundações e ONGs de defesa do meio ambiente.

Em entrevista ao canal de TV France 24, Lorelei disse que não esperava uma "revolução" da COP26. Para a estudante, que pretende ter poder de decisão quando concluir sua formação, o importante é ganhar experiência observando os bastidores diplomáticos, para saber como defender no futuro suas pautas ecológicas. 

Deixando de lado os militantes aguerridos, os jovens franceses estão cada vez mais conscientes sobre os impactos do aquecimento global e até bastante angustiados com suas consequências. Uma pesquisa recente que ouviu jovens de 16 a 25 anos em dez países, entre eles Brasil e França – publicada na revista científica The Lancet Planetary Health –, mostrou que 74% dos jovens franceses imaginam um futuro "assustador" com as mudanças climáticas. Entre os jovens brasileiros da mesma faixa de idade, a preocupação é maior, apontada por 86% dos entrevistados. 

No plano político, da cobrança aos governantes, ainda existem algumas contradições entre os jovens franceses, que votam menos que os adultos nas eleições. No ano passado, 90% dos franceses de 18 a 24 anos que podiam escolher seus representantes nas eleições regionais não votaram. As regiões francesas têm peso importante na condução das políticas de transporte, um dos vilões do aquecimento global. Esse absenteísmo eleitoral, criticado com frequência na mídia, tem produzido efeitos. Segundo uma recente pesquisa do instituto Ipsos, a próxima eleição presidencial, em abril de 2022, poderá sinalizar uma mudança, já que 59% dos jovens dizem que estão "certos de votar".

A urgência climática pode estar por trás dessa mobilização. Segundo o sociólogo francês Maxime Gaborit, que estuda as ações de jovens ecologistas na França e na Europa desde a década de 1970-80, o aparecimento do movimento da Greta Thunberg, o Friday's for future (Sextas-feiras para o futuro, em português), em 2018, provocou uma evolução de comportamento. A militância juvenil, que antes era muito marcada pelo nível de educação do adolescente, geralmente nascido em uma família de pais com ensino superior e posicionamento político de esquerda, tem se ampliado para abarcar um público diversificado, graças à popularidade de Greta. 

Mas o último estudo nacional sobre hábitos de consumo dos jovens franceses mostrou que apesar da preocupação crescente com as mudanças climáticas, eles não estavam muito engajados em consumir menos produtos industrializados, reciclar o lixo e se alimentar com produtos locais. A pesquisa, realizada pelo Crédoc (Centro de pesquisa para o estudo e a observação das condições de vida), está provavelmente defasada, porque foi feita em 2019. Mesmo sem dispor de números atualizados, Gaborit nota que aumentou a preocupação com as atitudes individuais, com gestos respeitosos da natureza no cotidiano. Mas o sociólogo lembra que isso não será suficiente para resolver as emissões de gases que aquecem a Terra, um problema que exige decisões políticas abrangentes e em escala planetária, como as próprias ONGs sinalizam. 

Vegetarianismo cresce entre adolescentes franceses

A prática do vegetarianismo e do veganismo tem crescido entre adolescentes na França. Quando eles são interrogados sobre a razão dessa decisão, muitos denunciam em primeiro lugar os maus-tratos aos animais e depois evocam a questão ambiental. As imagens de sofrimento de aves e mamíferos criados em condições degradantes para o abate, como mostram com frequência reportagens e vídeos filmados por ONGs de defesa dos animais, têm forte impacto nos jovens. 

Segundo uma pesquisa do organismo France-AgriMer, do Ministério da Agricultura francês, 12% dos jovens franceses de 18 a 24 anos se declaram vegetarianos ou veganos, contra 2% dos adultos com mais de 55 anos. O fenômeno ainda é considerado marginal, mas médicos e nutricionistas apontam como uma tendência crescente.

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