Acessar o conteúdo principal
Saúde em dia

Cientistas identificam atividade cerebral que desencadeia crises depressivas

Publicado em:

Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Francisco, na Califórnia, fez uma descoberta que pode mudar o destino dos pacientes que sofrem de depressão severa e não respondem aos tratamentos convencionais. Tudo começou com a descrição do caso da americana Sarah, de 38 anos, relatado em um estudo publicado na revista Nature Medicine, no início de outubro. 

A depressão atinge cerca de 264 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS.
A depressão atinge cerca de 264 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS. Istock / Tadamichi
Publicidade

Taíssa Stivanin, da RFI

Os cientistas americanos implantaram cirurgicamente no cérebro de Sarah um pequeno dispositivo para detectar a atividade neuronal que desencadeava suas crises. O aparelho produz um estímulo elétrico profundo de seis segundos que irá perturbar a dinâmica cerebral que gera o processo depressivo.

A máquina foi instalada no hemisfério direito do cérebro da paciente e conectada através de dois eletrodos, posicionados em duas regiões: o striatum ventral, que gerencia emoções como a motivação, onde as ondas elétricas eliminaram sentimentos de depressão, e a amídala, que tem um papel preditivo na severidade dos sintomas.

A terapia é individualizada e, por hora, continua sendo experimental. O procedimento precisa passar pelas etapas que exigem um estudo clínico randomizado antes de ser submetido à aprovação para uso, o que pode demorar anos.

Para identificar a atividade neuronal específica à depressão de Sarah, os pesquisadores estimularam seu cérebro, de maneira intensiva, durante 10 dias. Eles instalaram os eletrodos em regiões diferentes perguntando, a cada vez, como ela se sentia, e se constatava alívio nos sintomas.

“Eu me lembro do momento em que acharam o local exato, senti uma sensação de alegria e minha depressão, por alguns instantes, tornou-se um pesadelo distante”, disse Sarah em um áudio gravado pela equipe durante a experiência, descrevendo o momento em que ela sentiu que a sensação depressiva estava sendo atenuada.

Os estudos mostram que cerca de 16% da população em geral terão um episódio depressivo durante a vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 264 milhões de pessoas sofrem do mal em todo o mundo. Desses pacientes, cerca de 50 poderão ter recaídas da doença e alguns serão resistentes aos tratamentos disponíveis, incluindo medicamentos ou métodos de estimulação cerebral, como a eletroconvulsoterapia.

Oscilações gama

A estimulação cerebral profunda na depressão é uma opção terapêutica usada em centros especializados há cerca de 16 anos. Mas, até agora, os estímulos elétricos eram contínuos, com parâmetros fixos, explica o psiquiatra francês Mircea Polosan, responsável do setor de patologias da emoção no hospital universitário de Grenoble, nos Alpes franceses.

A novidade do estudo da equipe americana, frisa o pesquisador francês, foi identificar as oscilações cerebrais gama, situadas na amídala, como sendo um biomarcador específico para a depressão, e adaptar o estímulo elétrico a essas oscilações.

“A equipe descobriu, dessa maneira, uma correlação muito interessante entre um tipo de atividade neuronal, as oscilações gama, situadas na amídala, e a sensação subjetiva ligada à depressão, seja ela relacionada à tristeza ou à ansiedade”, diz.

Em função da severidade dos sintomas de Sarah, explica, havia uma evolução na frequência das oscilações cerebrais. “Foi possível identificar, dessa forma, um biomarcador relacionado à intensidade da vivência subjetiva do paciente”, ressalta. Além disso, explica o especialista francês, a estimulação do striatum ventral, conectado à amídala, permitia modular a frequência gama e melhorar os sintomas clínicos de Sarah.

O tempo de estimulação é definido a partir do momento em que as ondas gama ultrapassam um certo limite. Os pesquisadores então concluíram que 300 estimulações curtas de seis segundos melhoravam bastante a depressão da paciente, com uma diminuição de cerca de 50% dos sintomas. Após 12 dias de tratamento, e alguns meses mais tarde, Sarah está em remissão, com projetos para o futuro.

“Quando os pesquisadores implantaram o aparelho e ligaram pela primeira vez, minha vida mudou da água para o vinho. Hobbies que serviam apenas para me distrair dos pensamentos suicidas tornaram-se novamente um prazer. Eu me senti capaz novamente de tomar pequenas decisões sobre o que comer, sem ficar bloqueda em um mar de indecisão por horas”, descreve Sarah.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.