“Para quem fazemos uma obra?”, questiona Ana Maria Tavares, artista brasileira que expõe em Paris
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O lugar do público nas obras modernistas, principalmente na arquitetura, as disputas de classe e outras questões sociais são contempladas na obra da artista visual brasileira Ana Maria Tavares, que expõe atualmente em Paris sua individual “Sortir du Silence: Au-delà de la Modernité” (“Sair do Silêncio: para além da Modernidade”, em tradução livre).
Andréia Gomes Durão, da RFI
Com quatro participações em Bienais de São Paulo no currículo, além das bienais de Havana, Pontevedra, Istambul e Singapura, a artista expõe nos mais renomados museus do Brasil e do mundo, e suas obras integram importantes coleções nacionais e internacionais, como a do Museu de Arte Moderna de São Paulo, mas também do Kröller-Müller Museum, na Holanda, e do Museu de Belas Artes de Houston, nos Estados Unidos.
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O modernismo é uma temática constante na produção de Ana Maria, em que ela aborda o movimento, mas com grande ênfase na arquitetura.
“É muito importante retomar a história para tentar ver as brechas, as coisas que não foram muito bem elaboradas, e não foram elaboradas por motivos políticos também. E retomarmos isso. Vivemos um momento de muitas mudanças atualmente no Brasil. Em que o racismo, por exemplo, é um assunto muito presente, muito atual. Eu vou buscar, por meio da arquitetura, as origens de tudo isso”, explica a artista.
Com isso, suas obras desconstroem conceitos da arquitetura modernista. “Por mais que a obra seja complexa, a pergunta é muito simples: para quem fazemos arquitetura? E a grande questão que eu tento apontar no meu trabalho é essa dissociação do projeto moderno inaugural, que é Brasília. [...] Esse projeto foi implantado sem considerar a população, sem considerar os problemas sociais que nós sempre tivemos. Nós fomos deixando isso de lado, adiando. Então, no meu trabalho, eu tento retomar”, continua Ana Maria.
“Juntar coisas que o modernismo separou”
A artista visual afirma que seu trabalho busca “trazer uma consciência crítica para o observador”, para que este possa “juntar coisas que o modernismo separou”. “O processo de modernização acontece primeiro com uma imagem que se cria desse país, e essa imagem foi a arquitetura. Eu trago o ornamento para dentro [das obras], exatamente para incluir aqueles que foram excluídos desse processo”, ela critica.
Ana Maria aponta a ausência de ornamentos na arquitetura modernista como uma evidência desse processo consciente e tendencioso de exclusão, e ousa promover esse “diálogo (antes) impossível” ao resgatar elementos da cultura popular.
“No começo do século 20, o arquiteto austríaco [Adolf] Loos escreve o manifesto Ornamento e Crime, que serve de base para um pensamento de exclusão. O barroco é completamente excluído [no modernismo]. E se começa a criar uma nova identidade a partir dessa ideia da pureza visual do racionalismo. E resgatar os trabalhos das artesãs no nordeste do país é trazer mulheres trabalhadoras de uma classe [economicamente] mais baixa. A gente passou a excluir essa outra possibilidade de manifestação artística, que foi definida, ao longo do tempo, como baixa cultura. Eu faço esse cruzamento no meu trabalho”, conta a artista visual.
Ana Maria Tavares é representada em todo o mundo pela Galleria Continua, e expõe atualmente em Paris sua individual “Sortir du Silence: Au-delà de la Modernité”, que pode ser visitada até 14 de junho.
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