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“Para quem fazemos uma obra?”, questiona Ana Maria Tavares, artista brasileira que expõe em Paris

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O lugar do público nas obras modernistas, principalmente na arquitetura, as disputas de classe e outras questões sociais são contempladas na obra da artista visual brasileira Ana Maria Tavares, que expõe atualmente em Paris sua individual “Sortir du Silence: Au-delà de la Modernité” (“Sair do Silêncio: para além da Modernidade”, em tradução livre).

A artista visual brasileira Ana Maria Tavares expõe em Paris. Sua individual "Sortir du Silence" pode ser visitada até 14 de junho na Galleria Continua.
A artista visual brasileira Ana Maria Tavares expõe em Paris. Sua individual "Sortir du Silence" pode ser visitada até 14 de junho na Galleria Continua. © Gaspar Pini
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Andréia Gomes Durão, da RFI

Com quatro participações em Bienais de São Paulo no currículo, além das bienais de Havana, Pontevedra, Istambul e Singapura, a artista expõe nos mais renomados museus do Brasil e do mundo, e suas obras integram importantes coleções nacionais e internacionais, como a do Museu de Arte Moderna de São Paulo, mas também do Kröller-Müller Museum, na Holanda, e do Museu de Belas Artes de Houston, nos Estados Unidos.

Clique na foto principal para assistir a entrevista na íntegra.

O modernismo é uma temática constante na produção de Ana Maria, em que ela aborda o movimento, mas com grande ênfase na arquitetura.

“É muito importante retomar a história para tentar ver as brechas, as coisas que não foram muito bem elaboradas, e não foram elaboradas por motivos políticos também. E retomarmos isso. Vivemos um momento de muitas mudanças atualmente no Brasil. Em que o racismo, por exemplo, é um assunto muito presente, muito atual. Eu vou buscar, por meio da arquitetura, as origens de tudo isso”, explica a artista.

Com isso, suas obras desconstroem conceitos da arquitetura modernista. “Por mais que a obra seja complexa, a pergunta é muito simples: para quem fazemos arquitetura? E a grande questão que eu tento apontar no meu trabalho é essa dissociação do projeto moderno inaugural, que é Brasília. [...] Esse projeto foi implantado sem considerar a população, sem considerar os problemas sociais que nós sempre tivemos. Nós fomos deixando isso de lado, adiando. Então, no meu trabalho, eu tento retomar”, continua Ana Maria.

Obra da artista visual brasileira Ana Maria Tavares.
Obra da artista visual brasileira Ana Maria Tavares. © Allison Borgo / Galleria Continua

“Juntar coisas que o modernismo separou”

A artista visual afirma que seu trabalho busca “trazer uma consciência crítica para o observador”, para que este possa “juntar coisas que o modernismo separou”. “O processo de modernização acontece primeiro com uma imagem que se cria desse país, e essa imagem foi a arquitetura. Eu trago o ornamento para dentro [das obras], exatamente para incluir aqueles que foram excluídos desse processo”, ela critica.

Ana Maria aponta a ausência de ornamentos na arquitetura modernista como uma evidência desse processo consciente e tendencioso de exclusão, e ousa promover esse “diálogo (antes) impossível” ao resgatar elementos da cultura popular.

Obra da artista visual brasileira Ana Maria Tavares.
Obra da artista visual brasileira Ana Maria Tavares. © Allison Borgo / Galleria Continua

 

“No começo do século 20, o arquiteto austríaco [Adolf] Loos escreve o manifesto Ornamento e Crime, que serve de base para um pensamento de exclusão. O barroco é completamente excluído [no modernismo]. E se começa a criar uma nova identidade a partir dessa ideia da pureza visual do racionalismo. E resgatar os trabalhos das artesãs no nordeste do país é trazer mulheres trabalhadoras de uma classe [economicamente] mais baixa. A gente passou a excluir essa outra possibilidade de manifestação artística, que foi definida, ao longo do tempo, como baixa cultura. Eu faço esse cruzamento no meu trabalho”, conta a artista visual.

Ana Maria Tavares é representada em todo o mundo pela Galleria Continua, e expõe atualmente em Paris sua individual “Sortir du Silence: Au-delà de la Modernité”, que pode ser visitada até 14 de junho.

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