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“É muito simbólico um festival de cinema brasileiro na Europa valorizar a música”, diz Nelson Motta em Paris

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Convidado de honra da 25ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, o produtor musical, escritor, jornalista e compositor Nelson Motta foi surpreendido com uma acolhida calorosa do público na noite de terça-feira (4), durante a abertura do evento, ao apresentar o filme “Elis & Tom – só tinha que ser com você”, do qual foi roteirista.

O compositor e produtor musical Nelson Motta, durante entrevista em Paris.
O compositor e produtor musical Nelson Motta, durante entrevista em Paris. © Elcio Ramalho / RFI
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“Fiquei muito emocionado, ia chegar atrasado, mas deu tempo. Eu estava muito nervoso e não pretendia falar, mas o pessoal aplaudiu tanto que eu tive de falar alguma coisa e agradecer”, lembrou Nelson Motta.

Diante de uma sala lotada, foi projetado na tela do cinema parisiense L’Arlequin o filme documentário que relembra todo o processo de concepção, realização e gravação de um disco emblemático reunindo dois dos maiores nomes da música do país, a cantora Elis Regina e o maestro Tom Jobim.

“É um filme super importante da música brasileira e para a música do mundo porque é um documentário sobre um disco extraordinário que o maior compositor brasileiro e a maior cantora gravaram em 1974”, ressalta Nelson sobre a obra dirigida por Roberto de Oliveira e Tom Job Azulay.

“O encontro era improvável porque eles nem se gostavam. Claro, reconheciam o valor supremo do outro. Não era o que eles estavam querendo, mas ao longo das filmagens se desenrola um romance, com suspense, emoção, ironia, ódio, amor, e tudo com duas divas da música. O happy end é fabuloso”, afirma.

Nelson Motta volta ao Festival neste sábado (8) para apresentar ao público parisiense “Vale Tudo com Tim Maia”, em versão adaptada para o cinema de uma minissérie documental de três capítulos dedicada ao “pai” do soul brasileiro.

“O Tim Maia é um fenômeno brasileiro, uma explosão de talento, de música e de humor”, diz o autor da biografia O som e a fúria de Tim Maia” sobre o cantor carioca. Nelson Motta assina a direção da minissérie documental com Renato Guerra, e tanto no livro quanto na minissérie procurou destacar toda sua admiração pela “genialidade” do artista.

“Tim Maia inventou novos gêneros musicais quando misturou o samba, a bossa-nova, o samba-canção com o funk, soul e baião. Ele criou um novo gênero musical", afirma.

O humor também foi um traço importante de sua personalidade, destaca o jornalista e escritor: "Além de um dos maiores cantores da música brasileira é também um dos grandes comediantes da cultura brasileira. O humor dele era muito peculiar, agressivo e muito sofisticado também. Era um humor tão pessoal e abusado, que ele se tornou um ícone da liberdade no Brasil”.

Apresentado como um homem de “facetas múltiplas” pela organização do Festival de Cinema de Paris, Nelson Motta foi escolhido como convidado de honra do evento para valorizar uma programação repleta de filmes dedicados a outros grandes nomes da música brasileira: Miúcha, Belchior e Jair Rodrigues.

“Eu vejo a música brasileira como a nossa maior contribuição para a alegria e a beleza do mundo”, reage Nelson ao ver a produção cinematográfica explorar cada vez mais a riqueza musical do país. “Nós somos um país de quinta, mas com uma música de primeira. Nossa música sempre se afirmou pela qualidade e não pelo exotismo. A música brasileira entrou para o mundo com os grandes nomes do jazz americano, Frank Sinatra ou Ella Fitzgerald. O melhor do melhor abraçou a bossa-nova”, recorda.

Críticas a Bolsonaro

Na entrevista à RFI, realizada no apartamento que pertence à família do ex-produtor André Midani, seu grande mentor e “padrinho”, Nelson Motta também falou do novo momento para a cultura brasileira com a mudança de governo, não sem antes criticar com vigor o ex-presidente Jair Bolsonaro, chamado por ele de “grosseiro, insensível e que acusava os artistas de serem aproveitadores”.  

“A música e a cultura brasileiras são fundamentais, é para o nosso bom nome no exterior, isso vende produto brasileiro e dá prestígio internacional. E essa ‘bestapreferiu se tornar um pária internacional e arrastar o Brasil junto para esse lamaçal de ódio”, disse, lembrando que os artistas foram oposição ao ex-governo desde a eleição, e se tornaram alvos de Bolsonaro.

“Ele se vingou dos artistas. Um idiota, se vingou do Brasil, que perdeu milhões e milhões de dólares com a indústria cultural parada. Mas a cultura resistiu e contribuiu decisivamente para botar para fora esse ‘vagabundo’ e para ter um novo tempo de liberdade com esse novo governo que respeita a cultura e sabe que ela dá muito dinheiro, emprego, bem-estar e o bom nome do Brasil no mundo”, acrescenta.

O produtor e compositor sugere que os brasileiros adotem uma postura de desprezo em relação aos quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro, que comparou ao período da ditadura militar (1964-1985).

“Nós devemos desprezar e esquecer esses anos. Esses foram os verdadeiros anos de chumbo. Foi pior do que a ditadura, muito pior porque mais ignorante, mais boçal. Mas isso tudo acabou e agora estamos voltando à normalidade simplesmente. Foi simbólico um festival de cinema brasileiro aqui na Europa valorizando a música popular, que foi também perseguida, todos os dias, por esse governo que se foi”, conclui.

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