Governo brasileiro deve usar PL das Fake News para resposta emergencial sobre regulação da internet
Publicado em:
Ouvir - 06:05
Após os ataques visando as instituições brasileiras em 8 de janeiro, organizados e transmitidos pelas redes sociais, o governo Lula elegeu como prioridade a regulamentação das plataformas digitais. Tema de grande complexidade, o governo pretende dar uma resposta em dois tempos, usando o projeto de lei 2630, conhecido como PL das Fake News, para os pontos mais urgentes, explicou o secretário de Políticas Digitais, João Brant, em entrevista à RFI.
As cenas de invasão e violência vistas nas sedes dos Três Poderes em Brasília impuseram a regulamentação das redes sociais na pauta urgente do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O tema vem sendo discutido nacional e internacionalmente nos últimos anos devido à ameaça a democracia causada por movimentos criados nas plataformas digitais.
Responsável por esta discussão no governo, João Brant afirma que o governo analisa os pontos mais urgentes para serem tratados dentro do PL que já está em discussão no Congresso.
"O governo está nesse momento tentando separar as questões emergenciais e que devem ser enfrentadas de imediato, que é o discurso que pode ser considerado conteúdo ilegal, a incitação a crimes contra o Estado democrático de direito, crime de terrorismo nas redes", assinalou Brant, durante sua passagem por Paris.
O PL das Fake News foi apresentado no Senado e agora deve ser votado na Câmara, onde tem como relator o deputado Orlando Silva (PCdoB - SP), que tem discutido com o governo alguns pontos possíveis de ajuste no texto.
"O Parlamento se diz pronto para votar o projeto. Ele não traz todas as respostas que precisamos para tratar a questão da desinformação, mas é um bom começo", considera Brant.
Debate de fôlego sobre ação das plataformas
O secretário sublinha que o governo pretende, na sequência, abrir o debate sobre a regulação da atividade das plataformas digitais.
"[Precisamos de um debate sobre] todo o tema dos algoritmos e de como é que as plataformas respondem ao problema da desinformação. Mas esse debate precisa ser feito com tempo, com fôlego. Precisa ouvir todos os atores envolvidos e a sociedade, para que a gente possa enfrentar o discurso de ódio e a desinformação, proteger os direitos humanos, e também a liberdade de expressão, proteger a privacidade e os dados."
Neste ponto, o governo brasileiro tem olhado com atenção a lei de mercados e serviços sociais aprovada na União Europeia.
"Acho que a Europa acerta ao trazer para a lei uma avaliação de risco sistêmico sobre o funcionamento das plataformas. Eles querem que haja uma avaliação permanente quanto ao funcionamento das plataformas. Os algoritmos afetam negativamente a determinados direitos, tanto para crianças e adolescentes, como questões relacionadas a discursos cívico e democracia. Esse elemento me parece chave", detalha Brant.
Em Paris para a conferência da Unesco sobre regulamentação das redes sociais, o secretário defendeu a criação de regras para os algoritmos de recomendação, de maneira a não estimular discursos de ódio ou desinformação.
"Precisamos fazer com que as plataformas não tenham só a obrigação de lidar com esses conteúdos. [Precisamos que elas tenham] de fazer pequenas reformulações no seu funcionamento para que ela deixe de entregar tantos problemas assim para a sociedade", finalizou.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro