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Após morte de Bento 16, papa Francisco seguirá seus projetos sem ceder às pressões, diz teólogo brasileiro

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A morte do papa emérito Bento 16 encerrou um ciclo de dez anos de convivência entre dois papas no Vaticano. Milhares de pessoas ao redor do mundo acompanharam a cerimônia de despedida do alemão Joseph Ratzinger, na quinta-feira (5), celebrada por seu sucessor, Francisco. O diretor do Departamento de Teologia da PUC do Rio de Janeiro, padre Waldecir Gonzaga, assistiu a todo o ritual à distância e faz um balanço para a RFI sobre os rumos da Igreja Católica.

O papa Francisco diante do caixão de Bento 16 nesta quinta-feira, 5 de janeiro de 2023.
O papa Francisco diante do caixão de Bento 16 nesta quinta-feira, 5 de janeiro de 2023. AP - Alessandra Tarantino
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O padre Waldecir Gonzaga viveu fora do Brasil durante 15 anos e conheceu pessoalmente João Paulo 2°, Bento 16 e o papa Francisco. Ele apreciou que a missa tenha sido conduzida pelo cardeal Giovanni Battista Ré e que Francisco tenha se concentrado no pontifical, como dizem os teólogos. "O papa fez uma homilia bastante simples, colocando Bento 16 a partir da 'palavra de Deus' que foi proclamada", explicou Gonzaga. "A partir dali, ele deu algumas indicações do valor da figura de Bento 16 enquanto papa e teólogo", disse. 

Na avaliação do padre brasileiro, um dos aspectos que deve ter chamado a atenção de todos que estiveram na Praça São Pedro – bispos, cardeais e representantes de governo – foi a presença constante perto do caixão do bispo que foi secretário de Ratzinger, Monsenhor Georg Gänswein. "Os dois tinham uma amizade muito, muito grande, muito profunda", observou Gonzaga. 

Durante a missa, enquanto o papa Francisco orava, nas redes sociais muitos internautas faziam comentários sobre o papa morto no último sábado (31), aos 95 anos. Alguns prestavam homenagem ao "grande intelectual" e teólogo que foi Bento 16, apesar de seu notório conservadorismo. Outros criticavam o fato de ele ter renunciado ao pontificado em 2013.

O diretor do Departamento da PUC do Rio de Janeiro lembra que o chefe da Igreja Católica tem todo o direito de renunciar à missão, de acordo com a sua consciência. "Eu acredito piamente no que disse Bento 16 quando afirmou que tinha forças espirituais e forças intelectuais, mas não tinha mais forças físicas para exercer aquelas funções", recorda.

O bispo alemão Georg Gaenswein, fiel colaborador durante décadas de Bento 16, beija o caixão do papa emérito.
O bispo alemão Georg Gaenswein, fiel colaborador durante décadas de Bento 16, beija o caixão do papa emérito. AP - Vatican Media

Gonzaga enfatiza que um papa não pode renunciar por pressão externa, apenas diante de sua própria consciência. "E o papa Bento 16 foi um homem que defendeu muito o valor da consciência", destaca. O professor de teologia da PUC também pondera que ele não foi o único a abdicar do trono papal na história da Igreja, "o que muita gente acabou descobrindo só agora". 

"Não houve fraqueza, pelo contrário, eu acredito que ele teve que ter uma força gigante para ter esta coragem. Eu não sei se um outro teria esta força", disse Gonzaga, para quem o papa alemão tomou esta decisão para o bem da Igreja. "É difícil agradar a todo mundo realmente. Então, crítica sofreu o Cristo, João Paulo 2°, Bento 16, Paulo 6° e, agora, crítica sofre Francisco também", aponta.

Francisco sob pressão 

Aos 86 anos, o pontífice argentino se locomove com dificuldade, como se viu durante o sepultamento de seu predecessor. A cada vez que se levantava, Francisco buscava o apoio de sua bengala. Com a morte do papa emérito, é provável que o argentino sofra pressões de setores ultraconservadores para renunciar. Mas o padre Waldecir Gonzaga não acredita que isso vá acontecer agora.

"O papa vai seguir os passos dele", diz o religioso. Ele observa que Francisco continua governando a Igreja, tem o Sínodo e outros projetos para realizar. "O rumo da Igreja vai por aí, embora Deus possa chamá-lo a qualquer momento", nota.

Quanto a uma eventual aceleração das reformas, que tanto irritam os cardeais ultraconservadores, a tendência é de manutenção do status quo. "Não acredito que ele queira, vamos dizer assim, acelerar nada, porque ele sabe, inclusive, que a Igreja precisa amadurecer determinados pontos antes de tomar decisões", opina o brasileiro.

"Nós temos os fiéis, então o senso comum dos fiéis fala muito; temos os bispos, cardeais, os teólogos no mundo e temos a relação com a Igreja oriental, com os ritos orientais dentro dela", prossegue. "Eu acredito muito nisso: ele vai continuar no caminho dele e vai deixando Cristo fazer aquilo que é. O espaço é de Cristo, e ele acenou isso lá atrás", conclui o padre.

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