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Filme sobre povo Pankararu teve estreia mundial em Paris

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O filme Rama Pankararu, que teve estreia mundial no último Festival de Cinema Brasileiro de Paris, traz um foco na comunidade indígena do sertão pernambucano, mas propõe um debate mais amplo sobre questões relacionadas a muitos povos originários do país.

Cartaz do filme Rama Pankararu.
Cartaz do filme Rama Pankararu. © Captura de tela
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Rama Pankararu foi produzido pela Copa Filmes e é dirigido por Pedro Sodré, que co-assina o roteiro com Bia Pankararu, protagonista e fio condutor da obra que mistura ficção com a realidade vivida pela comunidade indígena.

A escolha do diretor Pedro Sodré pela etnia Pankakaru foi definida após ter visto o documentário “Do São Francisco ao Pinheiros”, assinado pelos seus amigos João Cláudio de Sena e Paula Morgado, antropóloga da USP. “O filme me inspirou e decidi mostrar a etnia Pankararu”, conta Pedro.

Depois do lançamento de seu primeiro longa “Rio Mumbai”, o jovem cineasta optou por voltar ao propósito que o fez escolher a sétima arte. “Voltei às origens do que pretendo fazer no cinema, o ‘cinema-verdade”, ou seja, um filme de ficção ancorado na realidade, com pessoais reais e que vivem seus próprios personagens”, contou.

A ideia de construir um roteiro com os próprios personagens foi facilitada pelo encontro com Bia Pankararu, indicada para o trabalho de produção, mas que logo passou a ser protagonista do filme e co-roteirista.

"Minha função maior foi decidir o que a gente queria falar. Foi como se Pedro trouxesse o esqueleto do filme, e eu recheei com as histórias, com os conflitos, e com a verdade do que acontece no território”, assinala Bia. “Quis que ela também assinasse 100% o roteiro”, afirmou Pedro na entrevista à RFI.  

O cineasta Pedro Sodré e a produtora e roteirista Bia Pankararu nos estúdios da RFI.
O cineasta Pedro Sodré e a produtora e roteirista Bia Pankararu nos estúdios da RFI. © RFI

O ponto de partida sugerido por Bia para o filme foi o de contar sua vida de homossexual em uma aldeia indígena. “Foi o início do projeto e de alguma forma nos norteou. Mas isso mudou drasticamente quando no dia 31 de outubro de 2018, logo após o 2° turno das eleições presidenciais, incêndios criminosos atingiram uma escola infantil e um posto de saúde”, lembra Pedro.

Os ataques contra os serviços públicos para a comunidade indígena ampliaram o escopo da obra. “Nós percebemos que tínhamos uma ferramenta e uma oportunidade enorme nas mãos. Trazer a minha vida de mulher indígena, sertaneja, mãe, lésbica, profissional de saúde e que está dentro da comunidade, era uma coisa. Mas quando resolvermos trazer a questão dos incêndios, resolvemos falar e dar protagonismo às questões sociais e política para ser protagonista, mais do que a minha própria vida, que vai norteando todos esses assuntos que vivemos no dia a dia”, conta Bia.

“Trazer a questão social e política do filme é a nossa maior contribuição em termos de debate”, acrescenta.

Diversidade sexual

Com uma linguagem que transita entre ficção e documentário, Rama Pankararu aborda diversas temáticas “difíceis”, como diz a própria protagonista, como as injustiças sociais e o desmanche das políticas públicas dos povos indígenas. “Uma pessoa que nasce indígena no Brasil, já nasce na resistência”, ressalta Bia.

Mas houve também preocupação de mostrar cenas com as belezas naturais do território, como os cânions e também as riquezas culturais e tradições como a Corrida de Umbu, que celebra a resistência da comunidade Pankararu.

O tema da diversidade sexual também é muito presente na obra, com o objetivo de romper um tabu para muitos povos indígenas. “Na prática Pankararu, nossos encantados nos ensinam que o mais importante é o que a gente faz. Se você dentro da sua comunidade faz o bem, é prestativa, pouco importa o que você deixa de fazer e com quem você se relaciona, desde que você seja uma pessoa de coração bom”, afirma a protagonista. “A gente não tinha ideia de céu, inferno e pecado. Isso não é da nossa tradição, da nossa cultura”, justifica.

Aprendizado

Para o diretor Pedro Sodré, fazer o filme propõe mais do que dar visibilidade para a cultura, tradições e problemáticas de uma comunidade indígena.

“Para mim foi um grande aprendizado fazer esse filme. No Brasil, e no mundo também, temos uma visão equivocada do que são os povos originários. Costumamos fazer estereótipos. Antes de fazer o filme, nem tinha ideia de que existem mais de 300 povos indígenas no Brasil”, revela. “Eu gosto de fazer filmes, descobrindo-os, como se eu fosse o primeiro espectador. Para mim foi e continua sendo um processo de aprendizado do meu próprio país”.    

Rodado com poucos recursos e contando com a dedicação e colaboração da própria comunidade, Rama Pankararu teve estreia mundial em Paris e deve ser apresentado em muitos festivais internacionais até estrear no Brasil, em data ainda não definida.

“O filme é um grande dedo numa ferida exposta. Um grande convite ao debate. Esperamos estreá-lo no Brasil, mas também espero que esteja logo nas salas de cinema e ganhe o mundo”, diz Bia, esperançosa.

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