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Reportagem

Festival de cinema indígena em Paris mostra novos olhares sobre luta pela existência humana

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O racismo, os efeitos do aquecimento global sobre o futuro do planeta, os problemas de saúde ligados ao uso de agrotóxicos, a repressão e o apagamento de culturas pela evangelização. Esses são alguns dos temas abordados no festival de filmes indígenas Echoes, que acontece em Paris, a dois passos do Arco do Triunfo. A partir de olhares indígenas, as produções tocam em temas centrais de luta pela sobrevivência humana.

Cena do filme "A Febre da Mata", dirigido por Takumã Kuikuro.
Cena do filme "A Febre da Mata", dirigido por Takumã Kuikuro. © Divulgação
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Cristiane Capuchinho, da RFI

O evento, organizado pelo centro britânico People’s Palace Project, acontece desde 2021 em Londres. Neste ano, pela primeira vez, o festival é realizado também em Paris, em uma parceria com a rede Amazonie Immersive.

A curadoria, feita pelos cineastas Takumã Kuikuro, Graci Guarani e Ziel Karapotó, reuniu produções que pudessem mostrar diferentes linguagens e histórias, evidenciando o universalismo da luta por direitos e pela existência.

O envenenamento de pessoas e da natureza pela pulverização de agrotóxicos por avião é abordado no curta “O Veneno me Alcançou”, de Bih Kenzo. A emergência climática é o eixo central do curta “A Febre da Mata”, do cineasta Takumã Kuikuro, que mostra as consequências das queimadas.

Em Londres, foram projetados no ICA (Institute of Contemporary Arts) 18 filmes, representando 13 etnias. Em sua primeira vez na França, o festival tem versão mais curta: com nove filmes projetados entre segunda (22) e terça (23) no cinema Publicis, da avenida Champs Élysées.

“São produções que tensionam, que trabalham as culturas, os povos, os corpos indígenas, de uma forma potente”, detalha Ziel Karapotó. “São narrativas que atravessam e transbordam as relações indígenas e tocam em temas universais, saindo dessa bolha em que geralmente enquadram os filmes indígenas.”

Os curadores do festival de filmes indígenas Echoes. Da direita para a esquerda: Ziel Karapató, Graci Guarani e Takumã Kuikuro.
Os curadores do festival de filmes indígenas Echoes. Da direita para a esquerda: Ziel Karapató, Graci Guarani e Takumã Kuikuro. © Paula Siqueira/Person's Palace Project

Sofisticação

Bandeiras de luta, como o direito à terra e à cultura, aparecem em linguagens que vão muito além do documentário etnográfico, gênero que por décadas enquadrou as produções relacionadas a povos originários e comunidades tradicionais.

O curta “O Verbo Fez-se Carne”, de Ziel Karapotó, é uma vídeo-performance sobre a violência da evangelização indígena. Na tela, o artista em trajes tradicionais manuseia uma Bíblia enquanto ouvimos uma mistura de áudios de pastores pregando para comunidades indígenas, cantos gregorianos e sons de porcos.

“As bandeiras estão ali postas de formas inteligentíssimas. A sofisticação da linguagem faz parte dessa polifonia criativa das comunidades indígenas”, destaca Graci Guarani.

Diretora das séries “Falas da Terra”, da Globo, e “Cidade Invisível”, da Netflix, a cineasta Graci Guarani estreia seu primeiro longa-metragem, “Horizonte Colorido”, em Paris. O filme mostra a história de uma menina artista, filha de duas forças da resistência indígena que encontra na arte e na sabedoria ancestral a possibilidade de transformar a realidade.

Multiplicidade de vozes

Os filmes escolhidos para a projeção europeia montam um painel de diferentes etnias, culturas e contextos dos povos indígenas no Brasil. Ao mesmo tempo, mostram uma multiplicidade de autores indígenas.

O espaço desses artistas é recente no cenário nacional e ainda restrito a temas diretamente relacionados às comunidades tradicionais.

"Esse espaço para o cinema indígena é algo muito recente, tem pouco mais de uma década. Estamos começando a penetrar nesses nichos, e ainda temos uma série de obstáculos. É algo conquistado por nossos questionamento sobre o processo de colonização, sobre o racismo estrutural", afirma o cineasta Ziel Karapotó, que participou da realização da série "Falas da Terra". 

Contudo, os cineastas reclamam o espaço para criações fora de nicho.

"Somos capazes de sermos autores de nossas histórias, mas também somos capazes de sermos autores de qualquer história e o mercado audiovisual brasileiro hoje não nos vê como profissionais capazes de contar outras histórias", denuncia Karapotó.

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