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Reportagem

Documentário rodado na pandemia entre o Brasil e os EUA concorre no Cinélatino em Toulouse

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Em plena pandemia, no ano em que tudo mudou radicalmente com a implementação de medidas sanitárias, duas amigas decidem se comunicar por vídeo-cartas entre dois hemisférios: uma nos Estados Unidos e a outra no Brasil. Vai e Vem (2022), um trabalho experimental de Fernanda Pessoa e Chica Barbosa, concorre na categoria longa-metragem documentário no festival CinéLatino, em Toulouse. A RFI Brasil conversou com uma das realizadoras para entender o contexto em que o filme foi rodado.

Durante a pandemia de Covid-19, duas amigas decidem se comunicar por vídeo-cartas entre dois hemisférios americanos: uma nos Estados Unidos e a outra no Brasil.
Durante a pandemia de Covid-19, duas amigas decidem se comunicar por vídeo-cartas entre dois hemisférios americanos: uma nos Estados Unidos e a outra no Brasil. © divulgação
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Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Toulouse

As protagonistas contrapõem duas formas diferentes de patriotismo e de conservadorismo. “As duas estavam passando pela mesma situação, uma pandemia global, ambas isoladas, não podendo sair, mas havia também o contraste das políticas públicas que os dois países estavam passando”, explica Chica Barbosa, que veio à França para a apresentação do filme. “Nos Estados Unidos, apesar de o [Donald] Trump ter falado muita besteira, houve uma preocupação e cuidados com a pandemia, para que a vacina saísse mais rapidamente. Enquanto no Brasil, foi um crime de não ter assumido que havia uma pandemia e uma irresponsabilidade em relação às vacinas, sendo que muita gente morreu por isso”, lamenta.

As duas amigas se filmavam e também registravam outras mulheres que lutam por um mundo melhor, livre do machismo, do racismo, do colonialismo e de qualquer forma de discriminação. Essas mensagens gravadas em casa são prova de suas inquietudes e da criatividade necessária para fugir do isolamento.

“Quanto às cartas, tínhamos algumas regras. A principal era que a gente ia se corresponder inspiradas numa mulher do cinema experimental baseadas no livro que a gente estava pesquisando, mas era livre, tínhamos três semanas para nos corresponder”, conta Chica Barbosa.

 

A diretora Chica Barbosa em Toulouse para a apresentação do filme Vai e Vem no Festival Cinélatino.
A diretora Chica Barbosa em Toulouse para a apresentação do filme Vai e Vem no Festival Cinélatino. © Maria Paula Carvalho

 

Filmes da pandemia

De acordo com a crítica especializa, “Vai e Vem” não é apenas um “filme da pandemia”, como o cinema produziu à exaustão durante o auge do coronavírus. Até 2021, os festivais de cinema refletiram a proliferação deste tipo de produção caseira, que colocava em evidência o vazio e a reclusão.

Fernanda Pessoa e Chica Barbosa usaram esses obstáculos para constituir uma nova linguagem. E sem a necessidade de contextualização do tempo, as histórias podem ser compreendidas através de uma colagem de cacos da realidade, dispersos durante a crise sanitária. “O filme foge um pouco da narrativa mais tradicional de documentário. Como é inspirado no cinema documental, nos inspiramos nas estéticas dessas mulheres e uma carta é muito diferente da outra. As de mulheres que aparecem no filme eram as que estavam ao nosso redor”, explica.

Passados mais de três anos desde o início da pandemia, a diretora comemora a retomada dos festivais e atividades culturais, que durante muito tempo foram excluídos da agenda. “A pandemia pode estar distante, no sentido de estarmos em contato, a desconexão perdeu o sentido porque podemos nos aproximar. Os festivais ficaram virtuais por dois anos, não tinha essa possibilidade de estarmos numa sala de cinema juntos e isso trouxe um respiro do pesadelo que tinham sido os anos anteriores”, comenta. “Mas, por outro lado, têm coisas que não mudaram”, completa Chica Barbosa.

“No filme, estamos nos inspirando por mulheres que tratam o cinema nos anos 1960, 1970 sobre a liberdade sexual feminina, sobre desconstruir o espaço doméstico, que foi muito colocado como o espaço da mulher, aborto, questões que hoje nos questionamos se realmente mudaram. Ainda sofremos muitas opressões e os crimes cometidos nesses anos pandêmicos não foram contestados ainda”, conclui.

Para ver a entrevista na íntegra, clique na foto principal.

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