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Reportagem

"É importante reafirmar nossas histórias latino-americanas", diz cineasta premiado em festival de curtas na França

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O filme “Takanakuy”, primeiro curta-metragem do consagrado diretor de arte peruano Gustavo Bockos, mais conhecido como Vokos, radicado em São Paulo, recebeu menção especial do júri da competição internacional do festival do Curta-Metragem de Clermont-Ferrand, encerrado no sábado (4). 

Gustavo Bockos "Vokos", diretor de “Takanakuy”.
Gustavo Bockos "Vokos", diretor de “Takanakuy”. © Rachel Tanugui Ribas
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Ficção em preto e branco, “Takanakuy”, leva o espectador às montanhas remotas do Peru, onde povoados andinos têm seus próprios códigos de organização e regras de vida. Entre eles, Vokos descobriu, já adulto, a existência dos festivais de luta chamados “Takanakuy”. 

Uma vez por ano, em 25 de dezembro, os moradores fazem um acerto de contas no braço, com o objetivo de iniciar um novo ano livre de rancores e culpas. “Eles usam a violência como catarse para criar a paz e esperar a chegada de um período de novas alegrias, sempre juntos”, conta o cineasta. 

Partindo de uma experiência pessoal, a de ter sido criado por mulheres e nunca ter conhecido seu pai, o cineasta explora aspectos da masculinidade nesse contexto que reflete “a cultura real do Peru”. 

No curta, Fausto, um menino que está entrando na puberdade, vive só com o pai, um homem distante, bruto e violento que não dá atenção ao garoto. Fausto encontra conforto para a ausência da mãe e sua solidão nos momentos compartilhados com Chaska, um rapaz da vizinhança que se preocupa com ele e tem respostas para suas inquietações de pré-adolescente. “Só de ver a relação de amizade entre os dois meninos, o pai de Fausto pressupõe que Chaska teria um interesse homossexual no filho, o que nunca aparece no filme", destaca o diretor. 

Vokos disse ter ficado surpreso com a recompensa do júri do concorrido festival francês. "Muitos amigos brasileiros me apoiaram no sentido de ter talentos brasileiros na equipe do filme", afirmou, citando Pepe Mendes, que "fez uma direção de fotografia impressionante", e Fabrício Ide, coautor do roteiro, entre outros colegas. "Foi bonito porque conseguimos levar todos esses talentos brasileiros para passar duas semanas juntos no Peru", recorda. "É importante reafirmar nossas histórias latino-americanas, fiquei muito orgulhoso de trabalharmos juntos", acrescentou.

Para o cineasta, a menção especial do júri também representa uma recompensa para a língua quechua, um idioma que resiste há muitos anos; "Ter tido a oportunidade de ter contato com essas pessoas que se mostraram tão abertas e nos deram confiança para levar adiante esse projeto foi lindo", concluiu Vokos. 

Curta brasileiro premiado por estudantes

O curta "Escasso", da carioca Clara Anastácia, com codireção de Gabriela Gaia Meirelles, ficou com a menção especial do júri estudante de Clermont-Ferrand. A protagonista do filme é Rose, uma passeadora de pets interpretada por Anastácia, que também assina o roteiro. Rose encontra uma casa aberta no meio da pandemia e resolve morar nela. 

A diretora, que cresceu numa comunidade muito pobre do Rio de Janeiro, parte de um conceito que tem desenvolvido em sua pesquisa universitária e cinemátografica, o “melodrama decolonial”. Com uma boa dose de humor e de indignação, o filme discute território, ocupação, identidade, fé, culinária, entre outras tematicas. 

Ao todo, 157 curtas do mundo inteiro estiveram em competição neste ano no Festival de Clermont-Ferrand.

 

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