Em 40 anos de existência, a RFI transmitiu cerca de 25 mil horas de programação em português para o Brasil. Nessas quatro décadas, o noticiário pulsou no compasso dos acontecimentos do mundo, da Guerra da Malvinas e do massacre de palestinos nos campos de refugiados de Sabra et Chatila no Líbano, em 1982, até a Guerra na Ucrânia em 2022, passando pela queda do Muro de Berlim, pela Guerra ao Terror e pelas primaveras Árabes, sem esquecer da pandemia de Covid-19.
No momento da criação da redação brasileira da RFI, o mundo dançava ao som de Thriller de Michael Jackson, que viria a ser o LP mais vendido no mundo. Na Europa, Helmut Kohl chegava ao poder na Alemanha. O novo líder alemão e o socialista francês François Mitterrand, eleito em 1981, seriam os artesãos da reconciliação europeia.
No Brasil, as primeiras eleições diretas para governador desde o golpe militar consolidavam a abertura política e o fim da ditadura, três anos depois. Maria Emília Alencar foi escalada para ir ao Brasil em março de 1985 para a cobertura da posse de Tancredo Neves, que não aconteceu. A jornalista ficou dez dias cobrindo a doença do presidente eleito. “Quando eu peguei o avião para voltar foi o dia que ele morreu. Eu fiquei sabendo que ele tinha morrido ao chegar em Paris e não pude cobrir a morte do Tancredo”, lembra.
FHC, Lula e Dilma Rousseff
Com a redemocratização brasileira, as relações entre a França, a Europa e o Brasil se reaqueceram. Fernando Henrique Cardoso em 1996, Lula em 2005 e Dilma Rousseff em 2012 vieram a Paris para visitas de Estado e foram destaque na programação da RFI. Em vários momentos, a RFI conseguiu entrevistas exclusivas com esses e outros líderes brasileiros, que também eram traduzidas e complementavam o noticiário sobre o Brasil das outras redações da Rádio França Internacional. A presidente Dilma Rousseff enfrentava o processo de impeachment e já estava afastada há dois meses e meio do Palácio do Planalto, quando foi entrevistada por Marcia Bechara e denunciou que “junto com o impeachment sem crime, há componente misógino”.
Provavelmente o líder brasileiro mais entrevistado pela RFI é o cacique Raoni, que foi o único recebido por todos os presidentes franceses desde François Mitterrand até Emmanuel Macron. Em 2015, aos 85 anos, ele participou da COP21 de Paris para “fazer a Aliança do Guardiães da Mãe Terra, falar sobre o ecocídio e pedir uma lei mundial para a proteção da natureza”.
Noticiário internacional
Na cobertura do noticiário internacional da RFI Brasil, cada jornalista, colaborador ou ouvinte tem seus momentos inesquecíveis. Milton Blay, um dos pioneiros e segundo editor-chefe da redação brasileira, recorda de dois acontecimentos que mudaram o curso da história recente: a queda do Muro de Berlim, em 1989, e os atentados de 11 de setembro de 2001.
A eleição de Barack Obama, o primeiro presidente negro da história do país, foi coberta por Maria Emilia Alencar. Em Nova Orleans, a enviada especial aos Estados Unidos, foi abordada por uma mulher negra. “Ela me perguntou você está contente? Foi um momento de muita emoção e positivo.”
Para muitos ouvintes e rádios parceiras da RFI, acontecimentos em Paris, como os atentados de 2015, na França ou na Europa, noticiados ao vivo pelos jornalistas da redação brasileira são os mais memoráveis. Oziris Marins, diretor de jornalismo do grupo Bandeirantes do Rio Grande do Sul e apresentador do Jornal Gente destaca o Brexit, um evento recente de grandes consequências para a Europa. “A RFI nos traduzia isso tudo para que pudéssemos entender o que estava acontecendo”, diz Marins.
Cobertura cultural
Um dos pontos altos da programação da RFI é a cobertura cultural, com entrevistas com artistas brasileiros de passagem ou radicados em Paris. Paulo Antonio Paranagua, que é um grande especialista de cinema brasileiro e latino-americano, fez centenas de gravações nos 20 anos em que trabalhou na RFI, mas ainda se emociona com a lembrança da entrevista que fez no estúdio da rádio em Paris com o Grande Otello. “Foi um prazer extraordinário porque todo mundo criticava o Grande Otello, mas quando ele estava na frente do microfone ele se transformava. Esse momento para mim foi fantástico”, garante Paranaguá.
Nesses 40 anos da RFI, franceses que admiram a cultura brasileira e falam português também integraram a programação como o músico Bernard Lavilliers, que viveu um tempo no Brasil, ou a editora Anne Marie Métaillié, uma das mais importantes divulgadoras da literatura brasileira na França.
Entrevistas com os músicos Tom Jobim, Gilberto Gil, Gal Costa e Alceu Valença; o arquiteto Oscar Niemeyer, o fotógrafo brasileiro, radicado na França desde os anos 1960, Sebastião Salgado; o cineasta Cacá Diegues; o pintor Cícero Dias, compadre de Picasso, que além de seus quadros entrou para a história pelo ato de resistência de divulgar o poema Liberdade de Paul Éluard durante a Segunda Guerra; e o escritor Jorge Amado, que a partir de 1985 passava uma parte do ano em seu apartamento de Paris, onde tinha tranquilidade para escrever, estão entre as gravações memoráveis preservadas no arquivo da RFI. Para ouvir todas essas entrevistas, clique no botão áudio.
Acompanhe a série de podcasts sobre os 40 anos da RFI
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