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Radar econômico

Reindustrialização da França vai precisar de mão de obra estrangeira, adverte governo Macron

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No momento em que a União Europeia acerta os ponteiros para reformar a política migratória no bloco, o governo francês também prepara uma nova lei de imigração, que poderá responder à demanda de setores da economia que sofrem com a falta de mão de obra no país. Ministros do presidente Emmanuel Macron têm reiterado que a reindustrialização da França, um objetivo da presidência, vai precisar passar por uma maior regularização de trabalhadores estrangeiros – pelo menos nas áreas sob forte tensão.

Presidente francês, Emmanuel Macron, visita indústria farmacêutica Aguettant, em junho de 2023. No segundo mandato, líder promete 'reindustriallizar' o país.
Presidente francês, Emmanuel Macron, visita indústria farmacêutica Aguettant, em junho de 2023. No segundo mandato, líder promete 'reindustriallizar' o país. REUTERS - ERIC GAILLARD
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Em setembro, o ministro da Indústria, Roland Lescure, evocou que só na sua pasta, o país vai precisar de 1,3 milhão de pessoas nos próximos 10 anos e a França será obrigada a fazer uma “seleção econômica” da imigração que recebe, conforme as necessidades no mercado de trabalho. “Um monde de indústrias só funcionam graças à mão de obra estrangeira”, frisou.

Depois, foi a vez da ministra da Solidariedade e da Família, Aurore Bergé, afirmar que a aprovação do projeto de lei é uma questão de “pragmatismo, de realismo e de maior eficiência” da economia francesa.

“Estamos falando de empregos na metalurgia, por exemplo, justamente uma área que sofreu com a desindustrialização, mas que continua a ter que empregar e tem muita dificuldade para recrutar”, aponta o chefe da Divisão das Migrações Internacionais da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), Jean-Christophe Dumont, à RFI. “Os trabalhadores locais veem esses empregos como tendo pouco futuro. Nesses setores, encontramos, proporcionalmente, um número alto de operários imigrantes.”

Setores com vagas abertas 

Desde a retomada após o choque da Covid-19, áreas como hotelaria, turismo, transportes, construção, segurança e agricultura estão igualmente sob tensão. Vagas mais qualificadas, como às ligadas à saúde e à tecnologia, também penam a ser preenchidas.

Trabalhadores temporários marroquinos a cada ano colhem maçãs em fazenda na região francesa de Bouches-du-Rhône. (18 de julho de 2002)
Trabalhadores temporários marroquinos a cada ano colhem maçãs em fazenda na região francesa de Bouches-du-Rhône. (18 de julho de 2002) AFP - BORIS HORVAT

Dumont observa que uma das principais barreiras para a abertura dos postos para os estrangeiros é o temor da burocracia, a começar pelo desconhecimento da legislação trabalhista para os imigrantes e as equivalências educacionais entre os países. As empresas temem, ainda, serem responsabilizadas por eventuais ilegalidades no processo de contratação de um trabalhador estrangeiro. 

“Quando eles têm a escolha, obviamente eles vão dar preferência aos franceses. Mas quando há situações de penúria, eles percebem que há recursos humanos com alto valor agregado a quem eles podem recorrer”, salienta o especialista da OCDE. “Só que está cheio de profissionais cujos diplomas ainda não são reconhecidos, em especial para profissões muito regulamentadas na França. O país está mal colocado para facilitar a equivalência de diplomas ou propor uma formação complementar, quando a equivalência não é perfeita”, constata.

Segundo a associação Each One, especializada na inclusão profissional de refugiados e imigrantes, 62% das pequenas e médias empresas francesas estão com dificuldades para empregar, mas só um terço demonstra abertura para os estrangeiros. 

“A questão é conseguirmos levantar o freio, os estereótipos, e acompanhar as empresas para que elas passem a ver pessoas que poderão recrutar não como imigrantes, mas como talentos que elas precisarão observar em alguns aspectos específicos, como talvez a língua. Precisamos reforçar a visão de que isso é, acima de tudo, um investimento positivo para a empresa – e essa convicção deve ser espalhada por cada andar da empresa”, explica Théo Scubla, fundador da Each One.

Curso na França

Para facilitar esse caminho, o primeiro passo para o imigrante deve ser se qualificar nos moldes franceses, sugere Scubla.

“Primeiro, no que chamamos de savoir être, para eles adquirirem os códigos da vida na França e reforçarem o conhecimento do idioma. Depois, direcionamos para as profissões desejadas, que podem ser pouco ou muito qualificadas, conforme a necessidade das empresas”, sinaliza. “Para cada curso, já estamos em contato com uma empresa que está potencialmente interessada, o que nos permite de garantir emprego para praticamente todas as pessoas formadas.”

A médica centro-africana Ginna Lievre trabalha no hospital da cidade francesa de Argentan, no oeste do país, como pediatra. (12 de outubro de 2011)
A médica centro-africana Ginna Lievre trabalha no hospital da cidade francesa de Argentan, no oeste do país, como pediatra. (12 de outubro de 2011) AFP - KENZO TRIBOUILLARD

O projeto de lei sobre a imigração será apresentado pelo governo no Senado francês no dia 3 de novembro. A oposição de direita e extrema direita tem pressionado pela eliminação do artigo 3 do texto, relativo à legalização dos trabalhadores irregulares nas áreas com falta de mão de obra local. Os partidos conservadores temem que a aprovação desta medida signifique um sinal verde para mais imigração ilegal.

“Sem mão de obra estrangeira, há setores que não aguentam”, reage a ministra Bergé. “Os presidentes de empresas e de grandes federações profissionais estão nos pedindo essa medida”, argumentou.

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