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Radar econômico

Alta da pobreza na França leva associações de caridade ao limite de suas capacidades

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As filas cada vez maiores de pessoas à espera de um prato de comida diante de associações de caridade refletem um problema que se transformou em uma bola de neve na França: o aumento da pobreza. Um número crescente de franceses que viviam no limite do orçamento agora depende de instituições como os bancos alimentares para conseguir fazer três refeições ao dia, todos os dias.

Universitários recebem alimentos durante uma distribuição de organizada pela associação de estudantes L'Alternative, em Paris, em 29 de março de 2023.
Universitários recebem alimentos durante uma distribuição de organizada pela associação de estudantes L'Alternative, em Paris, em 29 de março de 2023. AFP - ALAIN JOCARD
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O resultado é que os organismos de assistência também se encontram em uma situação preocupante: a inflação fez disparar os custos dos alimentos e das operações, devido à alta dos preços dos combustíveis e da luz. “As crises sucessivas que tivemos – a Covid, a guerra na Ucrânia, a inflação – impactaram o orçamento das famílias e levaram pessoas que não estavam numa situação de precariedade alimentar, ou que estavam no limite do orçamento delas, a entrarem na precariedade”, explica Laurence Champier, diretora da Federação Francesa dos Bancos Alimentares. “A inflação não explica tudo, mas foi um acelerador. Para se ter uma ideia, no âmbito da nossa associação, quando o preço da energia subiu, chegamos a um aumento de € 16 milhões a mais nos nossos gastos.”

Uma das associações mais emblemáticas da França, a Restos du Coeur anunciou que teria de deixar de atender a cerca de 150 mil pessoas até o início de 2024 – depois de, só no primeiro semestre, registrar 200 mil beneficiados a mais do que o previsto. O caso da Restos du Coeur está longe de ser uma exceção.

“Os problemas que temos visto não são casos isolados: os bancos alimentares estão todos com dificuldades de abastecimento e, do outro lado, o aumento da precariedade alimentar na França se tornou regular, desde 2008. Eram 780 mil pessoas assistidas naquele ano e hoje temos 2,4 milhões que dependem de nós”, complementa Champier.  

Plano contra a pobreza

Na semana que vem, o governo francês vai lançar um plano de combate à pobreza – que atinge 9,2 milhões de pessoas na França, ou 15% da população. Uma pesquisa da associação Secours Populaire com o instituto Ipsos verificou que 53% dos franceses não conseguem mais economizar e 18% – uma alta de 3% em relação a 2022 – se acostumaram a viver com a conta bancária no vermelho.

As filas por um prato de comida são preenchidas cada vez mais por pessoas que têm um trabalho fixo, algo inédito, mas também mães solteiras, aposentados e estudantes universitários. No centro social Maison Blanche, no norte de Paris, a reportagem da RFI encontrou o brasileiro Rafael, que chegou na França há um ano e se surpreendeu com o que viu.

“Você não imagina que encontraria uma fila de 300 estudantes em pleno mês de agosto [no auge das férias de verão], esperando uma refeição na França. É um país rico, mas estou vendo que a situação está complicada”, disse o jovem. “A gente vê que está difícil para todo mundo.”

Compras limitadas e queda nas doações

Uma prova é que o número de doações no país estagnou no ano passado – algo que não acontecia havia 10 anos. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee), o preço dos alimentos subiu 11% em agosto, na comparação com o mesmo período do ano passado. Assim, a alimentação, o segundo maior gasto das famílias, se transformou em uma variável de ajuste do orçamento, aponta Champier.  

“As pessoas compram menos, preferem produtos mais baratos, restringem as compras a partir de um certo momento do mês – por exemplo, não compram mais produtos de higiene porque o dinheiro acabou aquele mês”, salienta. “Muitas simplesmente não compram mais nada que não seja de alimentação.”

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