Acessar o conteúdo principal
Radar econômico

Na primeira visita à América Latina, Macron vai ao Brasil em busca de ampliação de parcerias

Publicado em:

Mais de 10 anos depois da última visita oficial de um presidente francês ao Brasil, Emmanuel Macron desembarca na próxima terça-feira (26) em Belém, onde será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos três dias de viagem, França e Brasil esperam um impulso das parcerias bilaterais, com a expectativa de assinatura de pelo menos 10 contratos em áreas como energia, tecnologia e segurança.

O presidente francês, Emmanuel Macron (à esquerda), e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Eliseu, em Paris, em 23 de junho de 2023.
O presidente francês, Emmanuel Macron (à esquerda), e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Eliseu, em Paris, em 23 de junho de 2023. AFP - LUDOVIC MARIN
Publicidade

Apesar das afinidades entre os dois líderes, divergências importantes mancharam a reaproximação de ambos os países desde a eleição de Lula. Os quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro, na sequência do mandato-tampão de Michel Temer, marcaram um resfriamento inédito desta relação de mais de 200 anos de amizade, alçada ao nível de parceria estratégica desde 2006.

Macron, no poder desde 2017, demonstrou interesse limitado pela América Latina no seu conjunto: ele é o único presidente francês a não ter realizado nenhuma visita oficial aos países da região, jejum que agora será rompido no Brasil.

“Antes tarde do que nunca. Eu diria que é uma visita necessária, em que ele estará acompanhado de uma delegação de empresas francesas, organizada pelo movimento das empresas da França em parceria com a CNI, afinal tem um aspecto econômico bilateral muito importante nesta viagem: o Brasil é o principal mercado de investimentos diretos da França em países emergentes”, frisa Stéphane Witkowski, presidente do Bale Conseil e respeitado consultor sobre o Brasil ao meio empresarial francês.

is
Trocas de farpas entre Emmanuel Macron e Jair Bolsonaro levaram a França e o Brasil a um resfriamento inédito das relações bilaterais. AFP Photos/POOL/Jacques Witt

Se, por um lado, a volta ao poder de Lula em 2023 foi celebrada por Paris, desde então o posicionamento antagônico entre o petista e Macron sobre o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, além de outros temas da geopolítica internacional como a guerra na Ucrânia, não favoreceram uma retomada tão frutuosa quanto a imaginada. Em janeiro, a presidência francesa chegou a anunciar o encerramento das negociações do tratado com o Mercosul – bloqueadas, em grande parte, pela oposição aberta de Paris.

Oposição francesa ao acordo com o Mercosul

Witkowski, que também preside o Conselho de Orientação Estratégica do Instituto de Altos Estudos da América Latina (IHEAL-Paris), afirma que ao contrário do meio agrícola, os industriais franceses não veem a hora de o texto ser ratificado.

“Eu tenho a convicção de que os dois presidentes são inteligentes e entendem as preocupações de cada lado. Macron hoje diz que se opõe ao acordo da maneira como ele está colocado, mas quando ele foi eleito, estava totalmente a favor deste tratado”, ressalta. "Do ponto de vista dos interesses da França a longo prazo, o acordo é importante. Muitas empresas querem que ele aconteça, pelas oportunidades que abre em infraestrutura, comércio, energia, indústria – na França como em outros países, como Espanha, Alemanha ou Portugal”, aponta.

As recentes manifestações de agricultores europeus contra o acordo somadas à proximidade das eleições parlamentares europeias, em junho, fazem que com que “não tenha clima” para o presidente francês voltar a se pronunciar em favor do texto, reconhece uma fonte da diplomacia brasileira, garantindo que esse imbróglio “não azeda” as relações entre os dois líderes.

Embora os franceses estejam entre os maiores empregadores estrangeiros no Brasil, com mais de 1,1 mil empresas francesas instaladas no país, a balança comercial bilateral é baixa e relativamente estável há vários anos. Foram € 8,4 bilhões em 2023, o que coloca o Brasil no 34º lugar na lista de parceiros comerciais da França. No sentido inverso, os franceses são ocupam a 27ª posição entre os fornecedores do Brasil.

Potencial na economia verde

Atualmente, os franceses são os quartos maiores investidores estrangeiros diretos no Brasil, de perfil diversificado. O potencial de ampliação é grande, em especial nos setores ligados à economia verde, com conversas sobre projetos de produção de hidrogênio e em energias renováveis, além de gás e até nuclear.

Presidente Emmanuel Macron aposta na indústria ligada à transição energética para dar dinamismo à economia francesa. Na foto, ele visita a futura fábrica de baterias elétricas ProLogium em Dunkerque, no norte do país. (12/05/2023)
Presidente Emmanuel Macron aposta na indústria ligada à transição energética para dar dinamismo à economia francesa. Na foto, ele visita a futura fábrica de baterias elétricas ProLogium em Dunkerque, no norte do país. (12/05/2023) AFP - PASCAL ROSSIGNOL

A França é um player mundial importante, mas a concorrência internacional é cada vez maior – com destaque para o avanço da China, maior parceira comercial do Brasil, na economia da sustentabilidade. “Faltava um impulso político, e espero que não seja apenas uma visita e seja uma ação mais estruturada, com um programa bilateral ativo, a participação de ministros e instituições – inclusive porque a estratégia chinesa na América Latina deveria ser um argumento suplementar para a França querer fechar o acordo com o Mercosul”, observa Witkowski. “Se ele não for concluído positivamente, os chineses vão ocupar ainda mais esse espaço.”

Está no radar a assinatura de um contrato entre a Origem Energia e a gigante francesa Engie, para viabilizar a estocagem subterrânea de gás natural na bacia de Sergipe. Atualmente, o gás é reinjetado no subsolo devido à falta de infraestruturas para escoá-lo.

Agenda no Brasil

Depois de Belém, sede da COP30 em 2025, Lula acompanhará Macron em visita à base naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro, onde são finalizados dois submarinos da Marinha em cooperação técnica com a Naval Group francesa, além de um terceiro a propulsão nuclear. Outros dois submarinos convencionais já foram entregues.  

Em seguida, o líder francês viaja para São Paulo, onde participa de um fórum empresarial na Fiesp, com cerca de 300 empresários dos dois países, e encerrará a viagem com uma visita de Estado à capital federal. Em Brasília, Macron será recebido com honras por Lula e visitará o Senado.

François Hollande foi o último presidente francês a ser recebido no Palácio do Planalto, em 12 de dezembro de 2013.
François Hollande foi o último presidente francês a ser recebido no Palácio do Planalto, em 12 de dezembro de 2013. REUTERS

A viagem acontece no ano em que o Brasil exerce a presidência rotativa do G20. Paris apoia as prioridades da agenda brasileira: combate à pobreza e à fome e aumento dos investimentos na transição ecológica. O último presidente francês que esteve no Brasil foi o socialista François Hollande, em dezembro de 2013.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.