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Radar econômico

Produtos com valor agregado são tendência para a exportação brasileira na Europa

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Com mais de 100 empresários presentes no Salão Internacional de Alimentação - SIAL Paris 2022, a missão brasileira no evento - formada principalmente por micro e pequenas empresas - veio com a preocupação clara de mostrar que sustentabilidade, rastreabilidade e produção orgânica se incorporaram definitivamente aos seus negócios e que elas estão prontas para entrar ou aumentar a sua participação no mercado europeu.

Das cerca de 100 empresas brasileiras no SIAL Paris 2022, 20% apresentaram produtos orgânicos e/ou sustentáveis para a exibição na rodada de negócios.
Das cerca de 100 empresas brasileiras no SIAL Paris 2022, 20% apresentaram produtos orgânicos e/ou sustentáveis para a exibição na rodada de negócios. © RFI/ Paloma Varón
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Por Paloma Varón, da RFI 

Para o consumidor final europeu, o valor agregado é muito importante, como atesta Thais dos Santos, CEO da empresa Du Brésil au Monde. 

"O que a gente tem buscado é trazer produtos do Brasil com valor agregado, fugir um pouco das commodities e poder contribuir com uma outra economia: mostrar que é possível ter uma economia circular, trabalhar de outra forma, olhando para a nossa sócio-biodiversidade e agregando valor. Pensando em ajudar a economia local a melhorar", afirma a CEO da empresa, que há quatro anos trabalha com a exportação de produtos brasileiros para a Europa. 

Dos Santos destaca a importância da conservação dos biomas brasileiros. "A nossa maior luta e nossa maior contribuição hoje é devolver a autoestima para o produtor, e mostrar que em todos os nossos biomas, aquela árvore vale mais se ela estiver em pé, do que o dinheiro que eles ganham eventualmente de maneira mais fácil cortando-a apara fazer plantação de soja, por exemplo."

"Queremos mostrar para o produtor local, para os ribeirinhos, para as comunidades locais, que eles são diretamente responsáveis pela preservação e o valor que a preservação desse bioma pode trazer para a gente: tanto pelo meio ambiente como também para ele, financeiramente", explica Thais. 

Comércio justo e sustentabilidade

"O meio ambiente é uma preocupação global. A gente não tem mais como escapar. Apesar de estarem sofrendo com a inflação, em países como a França, os europeus são muito conscientes e preocupados em receber produtos que tenham o valor agregado da rastreabilidade, do comércio justo e do respeito ao meio ambiente", sublinha a CEO da empresa Du Brésil au Monde. 

A gerente de internacionalização da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que organizou a missão brasileira, Sarah Saldanha confirma a tendência. 

"Nós mapeamos três compradores franceses para estar com as empresas brasileiras, principalmente, a partir das nossas observações. Aquelas interessadas em produtos orgânicos, produtos naturais ou produtos que falem da biodiversidade da alimentação brasileira. E, aproveitando essa característica da delegação brasileira mobilizada pela CNI, no estande nós contamos um pouco sobre as indicações geográficas do Brasil. Vinho, espumantes, queijos, café, cachaça... são produtos que têm essa linha de sustentabilidade que é bastante valorizada no mercado europeu", afirma. 

Consumo de orgânicos

De acordo com os empresários do setor, a busca por produtos que contribuem para melhorar a saúde é uma tendência cada vez mais forte, favorecendo e impulsionando as vendas de produtos orgânicos. Os empresários brasileiros já perceberam e estão investindo maciçamente setor. Segundo a plataforma Statista, o consumo de orgânicos no mundo foi de US$ 120 bilhões em 2020.

Em 2021, o mercado de orgânicos brasileiro teve crescimento de 12%, com vendas de R$ 6,5 bilhões. No ano anterior, em 2020, o setor apresentou expansão de receita de 30% em relação a 2019, com faturamento de R$ 5,8 bilhões. Em 2020, as exportações corresponderam a R$ 1,1 bilhão, ou 18,9% da receita total.

A castanha de baru, fruto do baruzeiro, árvore nativa do cerrado localizado no Planalto Central do Brasil, é um dos produtos apresentados no SIAL Paris 2022 pela empresa Du Brésil au Monde.
A castanha de baru, fruto do baruzeiro, árvore nativa do cerrado localizado no Planalto Central do Brasil, é um dos produtos apresentados no SIAL Paris 2022 pela empresa Du Brésil au Monde. © RFI/ Paloma Varón

Em Paris, 20% das empresas brasileiras presentes na feira trouxeram na bagagem seus produtos orgânicos e/ou sustentáveis para exibição e rodada de negócios. É a maior participação de empresas deste gênero desde que o SIAL começou em 1964. O empresário Maurício Matos, CEO da B.You Super Foods, é um deles.

"Apresentamos produtos 100% naturais, orgânicos, veganos, kasher, com todas as certificações e os selos que os consumidores mundo afora estão demandando hoje", conta. 

Com centro de distribuição em Roterdã, na Holanda, a B.You Super Foods tem grande penetração nos mercado europeu e do Oriente Médio, e apresenta como principal produto o açaí orgânico do Pará.

"A gente só trabalha com produtos brasileiros naturais e orgânicos, vindos de áreas certificadas. Até porque a maioria do açaí vem do extrativismo, então ele já é naturalmente orgânico. Mas, hoje em dia, para você poder falar que é, você tem que fazer todo um processo de certificação e auditoria", completa Matos. 

O embaixador do Brasil em Paris, Luís Fernando Serra, também acredita que o Brasil precisa agregar valor aos produtos exportados para se posicionar melhor no mercado francês e europeu. "Precisamos diversificar a nossa oferta de produtos e agregar valor a todos eles, porque a pauta ainda é dominada pelas commodities, como soja, minérios e petróleo". 

Para Serra, o mercado europeu é protecionista, mas é possível contornar isso. "O melhor antídoto é ter uma rastreabilidade absoluta, segura, completa para justamente identificar produtos de regiões que não foram desmatadas. E eu acho que se poderia pensar também em levar os europeus para verem o nosso sistema de rastreabilidade, para que eles possam confiar neste sistema", aponta. 

Segundo o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, a Missão do Brasil no SIAL pode render mais de R$ 200 milhões em exportações nos 12 meses seguintes à feira.

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