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Radar econômico

Euro valendo o mesmo que o dólar reflete temor de recessão na Europa

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A queda do valor do euro, cotado ao nível mais baixo em 20 anos em relação ao dólar, reflete os temores de que a União Europeia entre em recessão no segundo semestre. A moeda única europeia sofre os efeitos da alta das taxas de juros nos Estados Unidos e da inflação mundial, mas também paga o preço da guerra na Ucrânia. 

A moeda única europeia sofre os efeitos da alta das taxas de juros nos Estados Unidos e da inflação mundial, mas também paga o preço da guerra na Ucrânia.
A moeda única europeia sofre os efeitos da alta das taxas de juros nos Estados Unidos e da inflação mundial, mas também paga o preço da guerra na Ucrânia. © Bruno Domingos/Reuters
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A perda se acentuou desde o começo do conflito, com -9,4% desde o início do ano. Agora, euro e dólar estão com o mesmo valor – uma despencada para a moeda única europeia, na comparação com 2020, quando era negociada por cerca de US$ 1,20. O conflito exacerbou fraquezas estruturais da economia alemã, motor do bloco e altamente dependente das importações de gás e petróleo russos. As incertezas quanto ao abastecimento nos próximos meses, em especial no inverno europeu, contribuem para fazer o euro cair.

“Os mercados financeiros têm em mente um cenário de catástrofe, no qual a Rússia poderá parar totalmente de vender gás para os países europeus, o que provocaria uma recessão bastante pesada em países como Alemanha, Hungria, Áustria, República Tcheca, países altamente dependentes do gás russo”, explica o economista Henri Sterdyniak, do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE). “E os outros, como a França, seriam atingidos por tabela, ao serem abalados pela recessão na zona do euro. Hoje, esse é o cenário mais provável.”

Batalha de alta dos juros

Enquanto isso, o dólar vai às alturas. A sequência de aumentos dos juros americanos pelo Fed atrai investimentos em dólar, uma situação que penaliza a economia mundial. Para controlar a inflação, mas também para concorrer com a moeda americana, o Banco Central Europeu (BCE) tende a acompanhar elevando a taxa básica no bloco – entretanto, com muito mais cautela, já que qualquer impulso significativo poderia levar a zona do euro para uma nova crise de dívidas.

Alguns países, como a Itália, verão suas dívidas despontarem a cada novo aumento dos juros – os primeiros em 11 anos, numa região que havia se acostumado a conviver com índices negativos. Agora, o BCE programa um acréscimo ainda em julho e outro deve ocorrer em setembro. 

A movimentação agrada aos mercados financeiros, mas não é suficiente para conter a desvalorização face à moeda americana: a aposta é de que o Fed vai continuar uma subida agressiva, o que torna os investimentos no dólar mais lucrativos.

“Com certeza, é preocupante para a Europa. Os mercados financeiros desconfiam da situação econômica na zona do euro, consideram que os salários não estão acompanhando os aumentos dos preços”, sublinha Sterdyniak. Nesta semana, a OCDE confirmou que a desaceleração econômica se acentua nos países da organização e, em especial, na zona do euro.

“Os mercados também avaliam que o Banco Central Europeu (BCE) permanecerá extremamente prudente e que as taxas de juros americanos ficarão clara e perenemente maiores, portanto será melhor comprar dólares do que euros – ainda mais com o dólar subindo. Esse movimento será difícil de parar”, adverte o economista.

Impulso à inflação

O resultado é que a cotação desfavorável dificulta ainda mais uma situação já delicada para os europeus, que pagam mais caro para importar e negociar contratos, uma vez que o dólar é a moeda de referência. O câmbio desfavorável pressiona os preços já exorbitantes da energia, dos combustíveis e das matérias-primas, e conduz as famílias a limitar os gastos – amplificando o espectro recessivo. 

A cotação mais baixa que o euro atingiu foi logo nos primeiros dias da criação da moeda única, em 2002, quando chegou a valer US$ 0,88. Mas essa situação não durou muito: em dezembro do próprio ano, a moeda europeia ultrapassou a americana e, desde então, nunca foi cotada a menos de US$ 1. 

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