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Planeta Verde

Crise energética impõe transição ecológica às feiras de Natal na França, que serão menos iluminadas

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A crise energética impulsionada pela guerra na Ucrânia, que obriga os europeus a economizarem energia nestes meses de frio, não poupa as festas de Natal. Na França, cidades por todo o país são obrigadas a encontrar soluções para diminuir o consumo – em um exercício que tende a instalar práticas mais ecológicas daqui para a frente.

Neste ano, Feira de Natal de Estrasburgo usa 20% menos luzes do que nos anos anteriores.
Neste ano, Feira de Natal de Estrasburgo usa 20% menos luzes do que nos anos anteriores. AP - Jean-Francois Badias
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Lúcia Müzell, da RFI

A troca das lâmpadas incandescentes pelas de LED nas decorações já vinha se generalizando nos últimos anos, mas por razões financeiras. A mudança corta em pelo menos seis vezes o consumo energético, num período em que, em algumas localidades do país, começa a anoitecer por volta de 16h30 no inverno.

Neste Natal, cidades grandes e pequenas são obrigadas a diminuir o tempo em que elas ficarão acesas, para cumprir o objetivo fixado pelo governo francês de reduzir 10% da energia consumida, em dois anos. Serão menos horas por dia, por um período mais curto, concentrado no mês de dezembro e não mais de meados de novembro até janeiro.

O impacto econômico é baixo, mas o valor simbólico é importante, em um momento em que os franceses baixaram a temperatura das suas próprias casas para fazer a sua parte neste esforço coletivo pela redução do consumo, e que a inflação corrói o poder de compra das famílias.

"Eu acho que é muito importante que a gente se preocupe de verdade com o nosso planeta, inclusive no Natal. Acho que foi uma boa ideia”, disse Pauline, turista alemã, enquanto apreciava a avenida Champs Elysées, em Paris, decorada para as festas. "Durante o dia, eu acho que nunca foi necessário ter as luzes. À noite, sim, mas durante o dia não deveria ter."

Turistas alemãs Pauline e Lea Marie, de 20 e 21 anos, aprovaram a iniciativa de Paris e diminuir o tempo de iluminação da avenida Champs Elysées. (29/11/2022)
Turistas alemãs Pauline e Lea Marie, de 20 e 21 anos, aprovaram a iniciativa de Paris e diminuir o tempo de iluminação da avenida Champs Elysées. (29/11/2022) © Lúcia Müzell/RFI

A enfermeira brasileira Priscila Meira, de passagem pela Cidade Luz, concordava. "A gente veio à noite para poder curtir e é realmente muito linda. Em relação ao horário de funcionamento, acho que é justificável, mesmo diminuindo o tempo para o turista”, afirmou. "Acho que é muito válido porque desperta a consciência que nós temos de ter diante da crise que está tendo aqui na cidade e no país”, avalia.

"Eu entendo, até porque não faz muita diferença. A gente não fica acordada até 1h da manhã aqui. Está tudo muito bonito e nem percebi que tem menos luz”, complementou a sobrinha de Priscila, Ana Luísa, de 14 anos.

Enfermeira Priscila Meira e a sobrinha, Ana Luísa, acham que a redução da iluminação em Paris "não muda nada" para o turista e aumenta sensibilização para a crise energética.
Enfermeira Priscila Meira e a sobrinha, Ana Luísa, acham que a redução da iluminação em Paris "não muda nada" para o turista e aumenta sensibilização para a crise energética. © Lúcia Müzell/ RFI

Estrasburgo se adapta à ‘sobriedade energética'

O desafio foi de peso para a mais famosa feira de Natal da França, a de Estrasburgo, na fronteira com a Alemanha. Administrada por uma prefeita ecologista, a cidade quer dar o exemplo.

O evento se repete há 450 anos e atrai mais de 2,5 milhões de visitantes a cada edição, ansiosos para viver o encanto do Natal sob os quilômetros de guirlandas que enfeitam a cidade. Desta vez, porém, eles terão menos tempo para admirar as decorações, que permanecerão montadas por uma semana a menos do que nos anos anteriores.

Além disso, a partir de 23h os arranjos luminosos serão desligados, em vez de meia-noite, e o imenso pinheiro natalino será pela primeira vez desligado durante a madrugada. O ano de 2022 terá 20% menos luzes do que o habitual.

“De fato, não é fácil. A gente busca um equilíbrio entre responsabilidade e magia. Mas tem soluções que são muito simples: podemos não só colocar menos luzes, como melhor distribuí-las, retirando daqueles lugares onde tem muitas e colocando onde tem poucas”, explicou o responsável pela organização da “Capital do Natal”, Guillaume Libsig. “Nós mantivemos a quantidade de pontos luminosos sobre o pinheiro, mas para compensar, reduzimos os horários em que estarão iluminados. Quando não tiver mais ninguém nas ruas, ele não precisa continuar aceso”, destaca.

Libsig não dispõe de dados sobre o consumo – uma auditoria energética inédita da decoração de Natal está sendo realizada. Outra importante fonte de economias é o fim do aquecimento dos 300 estandes da feira, em cumprimento à Lei Clima e Resiliência, adotada pela França em 2021. A nova regra passou a proibir a calefação de espaços ao ar livre, como restaurantes e cafés.

"O Natal é um exemplo muito interessante de como podemos fazer as coisas evoluírem. Nós estamos em um período que nos leva a picos de consumo excessivo, mas os verdadeiros valores desta data são a convivialidade, a solidariedade, o encontro em família e com os amigos. São momentos que podemos chamar de ‘naturais’, que vêm de uma época muito anterior às telas, em que gostávamos de nos encontrar à luz de velas, como nos contam os nossos avós”, relembra. "Não tem nada a ver com esse excesso de tudo que temos hoje. Então, se vamos até as origens dessa lógica do Natal, é totalmente coerente com a noção de ecorresponsabilidade.”

Cidades menores chegam a cancelar ‘luzinhas'

Que o digam as pequenas cidades, que esperam pelo fim do ano para participar do tradicional concurso “vilarejos iluminados”. A cidadezinha Les Monts-d’Andaine, por exemplo, tem apenas 1,7 mil habitantes, mas também se adaptou ao contexto nacional. As iluminações não funcionarão mais pela manhã e serão desligadas integralmente às 23h.

Mas outras, como Boussy-Saint-Antoine, de 8 mil habitantes, decidiram ser ainda mais drásticas e simplesmente abandonar as decorações que consomem energia neste ano. A escolha foi feita por cerca de 10% dos municípios franceses, segundo a Associação dos Prefeitos da França, diante da perspectiva de um aumento ainda maior nas contas de luz e do gás em 2023.

A Agência Francesa para a Transição Ecológica (Adème) ressalta que “qualquer esforço conta”. A expectativa é que as medidas tomadas no contexto excepcional de 2022, que deverá se repetir no próximo ano, agora passem a ser a nova norma – não apenas para responder a uma crise, mas por responsabilidade climática.

Os objetivos ambientais da França para 2050 implicam em uma queda de 40% do consumo energético no período, incluindo o fim do uso de fontes não renováveis. Hoje, cerca de 40% dos imóveis franceses ainda são aquecidos a gás.

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