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O Mundo Agora

Europa se prepara para viver um inverno 'à brasileira'

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Acredite se quiser: a Europa se prepara para passar um inverno à brasileira! O que isto significa? Um inverno brasileiro, pelo menos em termos do extremo sul do nosso país e também de suas regiões montanhosas, quer dizer que as temperaturas dentro das casas e dos recintos fechados se aproximam das temperaturas externas.

Em vários países a população está estocando lenha para o inverno, assim como no Brasil se estoca madeira e carvão para enfrentar o custo abusivo do gás de cozinha.
Em vários países a população está estocando lenha para o inverno, assim como no Brasil se estoca madeira e carvão para enfrentar o custo abusivo do gás de cozinha. AFP - SHAUN CURRY
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Flávio Aguiar, analista político

Ao contrário da maioria dos países europeus e até mesmo de nossos vizinhos uruguaios, argentinos e chilenos, a maioria das casas e edifícios no Brasil, mesmo nas regiões onde o inverno é mais rigoroso, não dispõe de qualquer sistema de aquecimento. Ou, se o tem, se limita a aquecedores individualizados no quarto, ou salamandras e lareiras decorativas nos ambientes sociais.

Na Europa, a calefação é a regra. Mas ela é alimentada a gás ou eletricidade, e ambas fontes de energia estão cada vez mais caras.

A guerra na Ucrânia, e as tensões em torno das sanções econômicas impostas pela União Europeia à Rússia, seguindo a orientação dos Estados Unidos e do Reino Unido, têm propiciado anúncios de que a situação energética na Europa vai piorar muito no inverno que se aproxima no hemisfério norte. As sabotagens nos gasodutos russos que ligam a região de São Petersburgo ao norte da Alemanha elevaram a temperatura do problema, ao mesmo tempo congelando mais ainda as expectativas quanto ao frio do inverno. A autoria dos atentados a bomba que danificaram o gasoduto ainda em operação permanece sem esclarecimento, com suspeitas mútuas e acusações veladas entre os países do Ocidente, aliados da Ucrânia, e o governo de Moscou.

O caso da Alemanha, país que até há pouco era dos mais dependentes do gás russo, e ainda depende dele, ilustra bem o drama. Em setembro, o país registrou uma elevação brusca da taxa inflacionária anual de 7 para 10%. A situação fica mais dramática se observarmos que, em relação aos custos da energia, esta taxa foi para 44% e, quanto aos alimentos, para 19%.

Os governos europeus vêm tomando medidas para minorar os problemas decorrentes, buscando também uma difícil coordenação entre suas iniciativas, visando uma redução continental de 15% no consumo de energia ao lado de uma redução geral de custos. De modo geral, elas preveem, com diferentes intensidades, duas frentes de ação:

A primeira é a redução do consumo de energia, impondo limites de temperatura ao aquecimento dos ambientes públicos e mesmo privados. No caso de locais públicos, a limitação envolve determinar quais deles serão aquecidos. Por exemplo: em alguns países não haveria mais aquecimento de corredores de passagem ou de ambientes menos frequentados. Além disso, os termômetros seriam ajustados para não ultrapassar os 19 graus, mesmo em ambientes privados. Ficam de fora destas medidas hospitais, escolas e asilos de idosos.

A segunda frente diz respeito aos subsídios gerais durante os meses de inverno nos custos da energia para lares de baixa ou até média renda, conforme o país. Na Holanda esses subsídios devem se estender às pequenas empresas.

Medidas colaterais preveem redução de impostos sobre o consumo de energia e o congelamento de preços para 2023. Este tipo de medida deve também se estender ao transporte público. Na Espanha o transporte ferroviário regional será gratuito pelo menos até o final deste ano. Na Alemanha, conforme a cidade, há uma política de redução de preços no transporte regional e municipal. 

Há quem critique esta política de subsídios, dizendo que ela compromete a redução do consumo. Porém, isto não tem detido os governos em adotá-las.

Há também efeitos paradoxais. As usinas a carvão, consideradas perigosas para o meio-ambiente, vem sendo reabilitadas. O novo governo sueco, de direita, declarou que vai retomar a construção de usinas nucleares. Ao mesmo tempo, a convenção do Partido Verde alemão, tradicional inimigo da energia atômica, aprovou o apoio à manutenção em funcionamento de duas das três usinas nucleares no país até abril de 2023. E em vários países a população está estocando lenha para o inverno, assim como no Brasil se estoca madeira e carvão para enfrentar o custo abusivo do gás de cozinha. 

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