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Esporte em foco

Roland-Garros: Com Bia Haddad, Brasil volta a acreditar no tênis nacional

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No meio da multidão de Roland-Garros, eis que passa a tenista n° 1 do mundo. O torcedor brasileiro Bernardo Bonkoski mal podia acreditar no que via, e palpita momentos antes do início do jogo pelas semifinais: “Olha a Iga [Swiatek]! Pena que hoje não vai dar ela, hoje vai dar Brasil”. Ao final, não deu Brasil. Mas a performance da tenista brasileira Beatriz Haddad Maia, que lutou até o fim contra a atual campeã do Aberto da França, deixou a torcida mais orgulhosa do que triste.

A tenista brasileira Bia Haddad disputou partidas longas, de mais de 3 horas, em Roland-Garros. Foto da partida contra a russa Ekaterina Alexandrova. Em 3 de junho de 2023.
A tenista brasileira Bia Haddad disputou partidas longas, de mais de 3 horas, em Roland-Garros. Foto da partida contra a russa Ekaterina Alexandrova. Em 3 de junho de 2023. © Pierre-René Worms/RFI
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Maria Paula Carvalho, de Roland-Garros

Afinal, com os resultados de Bia, o Brasil começa a sonhar novamente em ganhar títulos em Grand Slams. E para muitos que vieram a Paris nessa época, assistir a um torneio desse nível é a realização de um sonho.

“É a minha primeira vez aqui em Roland-Garros. É incrível, é um sonho! A gente cresceu vendo pela televisão. É uma sorte ter uma brasileira podendo beliscar mais uma final. Quem sabe…”, arriscava o torcedor mineiro. “São mais de 20 anos sem ter um brasileiro numa semifinal de um Grand Slam. Quando o Guga chegou, eu tinha 8, 10 anos, e a memória afetiva é muito grande”, conta ele à RFI.

Bernardo Bonkoski, na foto com a camisa do Brasil, veio a Paris torcer pela tenista Bia Haddad Maia, em Roland-Garros. Em 8 de junho de 2023.
Bernardo Bonkoski, na foto com a camisa do Brasil, veio a Paris torcer pela tenista Bia Haddad Maia, em Roland-Garros. Em 8 de junho de 2023. © RFI

Esse é o sentimento de muitos brasileiros atualmente, que compartilham a vontade de acreditar novamente no tênis nacional e poder torcer nesses grandes eventos.

Conhecer Roland-Garros foi uma oportunidade que Júlio Kalil, leiloeiro de Ribeirão Preto, não quis perder. Nem que isso significasse mudar a data do casamento e passar a lua de mel em Paris. A RFI conversou com o casal antes do confronto entre Bia e a polonesa Iga Swiatek. “É a nossa lua de mel", conta. "Foi meio por acaso, mas quando a gente tinha planejado o casamento, ia ser uma semana depois, aí eu falei para a minha agora esposa, vamos fazer na semana do Roland-Garros. A gente tinha comprado o ingresso da semifinal, eu até trouxe essa bandeirinha pequena, vai que a Bia vai para a semifinal. E ela foi”, surpreende-se.

“Que bom que deu sorte de ver a Bia, vamos torcer agora”, completa Marília Múcio, agrônoma.

O leiloeiro Júlio Kalil e a agrônoma Marília Múcio escolheram passar a lua de mel em Roland-Garros, para torcer pela tenista brasileira Beatriz Haddad. Em Paris, em 8 de junho de 2023.
O leiloeiro Júlio Kalil e a agrônoma Marília Múcio escolheram passar a lua de mel em Roland-Garros, para torcer pela tenista brasileira Beatriz Haddad. Em Paris, em 8 de junho de 2023. © RFI

Torcer como fazíamos nos tempos de Guga, campeão de Roland Garros em 1997, 2000 e 2001. Ou da precursora de Bia em Grand Slams, Maria Esther Bueno, três vezes vencedora em Wimbledon e quatro do US Open, entre os anos de 1959 e 1966.

"No caminho certo"

“A gente trabalha muito duro para estar nesses momentos. Desde quando eu comecei a minha carreira e agora mais ainda com essa equipe”, faz questão de destacar Bia Haddad Maia, que sempre elogia o trabalho feito com seriedade. “A gente trabalha muito duro, acredita muito na nossa mentalidade, no nosso padrão de jogo, no nosso físico. Então, quando a gente fala de estar quebrando algum tabu ou uma conquista de alguns anos, mostra que o nosso trabalho está no caminho certo”, avalia a atleta.

Bia é treinada pelo técnico Rafael Paciaroni, com apoio do preparador físico Rodrigo Urso e do fisioterapeuta Paulo Cerutti.

O jogo de Bia contra a número 7 do mundo, a tunisiana Ons Jabeur, foi mais um teste de técnica e de nervos para a brasileira. A RFI acompanhou a partida ao lado do brasileiro Marcos Torini, engenheiro de Belo Horizonte, que vibrava na arquibancada da mítica quadra Philippe-Chatrier, em Paris. A partida foi disputada na quarta-feira (7), quando Bia viveu pela primeira vez na carreira a experiência das quartas de final do torneio feminino de Roland-Garros.

“É fantástico! Eu acho incrível que, depois de tantas décadas, uma brasileira esteja jogando nas quartas de final aqui em Roland-Garros, é muito especial. É bom para o tênis brasileiro”, observa Torini. “Guga foi uma marca para o tênis e acho que a Bia agora está dando uma força de novo para o Brasil no cenário internacional. E acho que tem muito para fazer no país, tem potência para fazer mais”, acredita.

Ao final da partida, após a vitória de virada da brasileira por 2 sets a 1 (parciais de 3/6, 7/6 e 6/1), ele estava em êxtase. “Ah! Eu estou feliz demais. [Ela] mereceu, jogou muito”, acrescentou entre aplausos calorosos da plateia.

“Estou feliz, estamos na semifinal, a Bia é uma guerreira, monstra, jogou demais”, comemorava também Robson Bicalho de Almeida, procurador do Estado de Minas Gerais. Eu nunca esperei, acho que nem ela, ganhar de uma jogadora tão boa quanto a Ons Jabeur. Eu estou emocionado de vê-la tão confiante”, acrescentou. “Ela é uma guerreira, ela vai em todas as bolas e não desiste”, destacou, antes de entoar o coro de “Olê Olê Olá Biaaaa Biaaa”, que ressoava no estádio.

A torcida de Beatriz Haddad ultrapassa fronteiras. “Eu gosto muito de tênis e a partida está muito intensa”, diz o mexicano Edson. “E eu torci pela Maia quando ela esteve em Guadalajara, em um torneio, e desde então torço por ela. E também pelo continente”, afirmou à reportagem.

“Incentivo à nova geração”

Nesta edição 2023 de Roland-Garros, Bia Maia chegou à semifinal, tendo sido vencida pela polonesa Iga Swiatek. E como será que a torcida reagiu à derrota?  “A sensação é boa porque, acima de tudo, a Bia passa a incentivar uma geração de novos brasileiros e de crianças que vão levar o esporte para a frente”, acredita Antônio Guimarães, administrador de empresas de São Paulo. “Ela é uma guerreira. A gente sai um pouco frustrado, mas muito feliz de ela ter ido tão longe”, observa.

Natália Jorge, também de São Paulo, dizia estar orgulhosa. “Para mim é só alegria. Desde Maria Esther Bueno nenhuma brasileira esteve nessa posição, na semifinal de Roland-Garros, é fantástico. Acho que a Bia evoluiu muito nesse último ano. Principalmente no jogo mental, pois potencial e talento ela sempre teve. Eu fico ansiosa para os próximos passos e muito, muito orgulhosa”, finaliza a torcedora.

Bia Haddad ao vencer a espanhola Sara Sorribes Tormo por 2 sets a 1, quando passou às quartas de final de Roland-Garros. Em 5 de junho de 2023.
Bia Haddad ao vencer a espanhola Sara Sorribes Tormo por 2 sets a 1, quando passou às quartas de final de Roland-Garros. Em 5 de junho de 2023. REUTERS - LISI NIESNER

“O sonho não é levantar troféu, é ajudar pessoas”

Com o fim de Roland-Garros, Bia Haddad pretende descansar, antes de encarar a temporada dos torneios de grama. Ela diz focar agora no aprendizado que uma competição como essa deixa para um atleta. A jogadora afirma saber o quanto suas conquistas significam para os brasileiros e, principalmente, para as meninas que sonham com uma carreira no tênis.

“A gente sabe da dificuldade, tem muita gente que sofre bastante no Brasil, a gente sabe que não é fácil correr atrás do nosso sonho”, admitiu em sua última coletiva de imprensa no evento. “Eu sou uma pessoa privilegiada. Eu vivo daquilo que eu amo, que é um esporte, que é uma competição. Isso para mim é uma honra gigantesca e eu sei quantas pessoas no Brasil sofrem”, repetiu. “Ter que acordar 3 ou 4 horas da manhã, deixar o filho e ir atrás de comida e trabalhar. Toda a violência que a gente vive no nosso país. Eu sei que é difícil e isso me traz consciência para os momentos duros de um jogo”, explica. “Eu vou seguir sempre fazendo o meu melhor para poder inspirar pessoas. O meu maior sonho não é levantar trofeu, é ajudar pessoas por meio do tênis, principalmente as meninas”, finaliza a agora grande estrela do esporte brasileiro.

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