Acessar o conteúdo principal
A Semana na Imprensa

Cegueira da França no continente africano favoreceu golpe no Níger, diz ex-diplomata

Publicado em:

Nas bancas esta semana, as revistas francesas se debruçam sobre dois assuntos que movimentaram o debate público no país. De um lado, a revista Le Point abre espaço para o diplomata aposentado e colunista Gérard Araud comentar o fracasso da política externa da França no continente africano e seu recente colapso na região do Sahel. De outro, a revista do L'Obs interroga as interferências e possíveis impactos da Inteligência Artificial (IA) no campo da indústria da música.

Destaque na imprensa francesa desta semana para o golpe de Estado no Níger, assim como para a inteligência artificial que é cada vez mais criticada por artistas e músicos.
Destaque na imprensa francesa desta semana para o golpe de Estado no Níger, assim como para a inteligência artificial que é cada vez mais criticada por artistas e músicos. © Fotomontagem com fotos AP/John Minchillo/ Sam Mednick
Publicidade

 

Não foi por falta de aviso. O experiente diplomata francês Gérard Araud lembra, durante longo artigo esta semana na revista Le Point, que já havia antecipado a atual revolta no Níger há cerca de um ano e meio atrás, quando defendia vigorosamente que a França de Emmanuel Macron deveria abandonar definitivamente o Mali, e a região conhecida como Sahel, logo abaixo do Saara, composta por seis países, respectivamente Senegal, Mali, Níger, Chade, Burkina Faso e Mauritânia. Araud denuncia a "cegueira da França no continente africano" e espera que o golpe no Níger "sirva de alerta".

"Naquela época, tínhamos acabado de ser expulsos do Mali. Burkina Faso veio em seguida e agora é a vez do Níger", lembra o diplomata aposentado. "A cada vez, os golpistas se aproveitam dos sentimentos antifranceses que se espalham entre a população para apresentar seu golpe como uma libertação do colonizador; a bandeira russa é agitada em frente à nossa embaixada, que se tornou uma fortaleza sitiada", escreve Araud. "Não vamos culpar os russos, que estão simplesmente tirando proveito da situação", avalia. "Vamos culpar a nós mesmos por não entendermos que uma era estava chegando ao fim", sublinha o ex-embaixador à revista Le Point.

Para Araud, os jovens africanos não suportam mais sentir "um cheiro de colonialismo no ar". "Eles comparam a governança corrupta e ineficiente à França, da qual suas elites estão muito próximas. Nosso país se tornou o bode expiatório de todas as suas frustrações. Eles até rejeitam o francês porque eles mesmos não têm mais acesso à educação que lhes permite aprendê-lo", afirma o especialista.

Para ele, a França deveria apostar na discrição neste conflito no Níger: "Não cabe a nós decidir qual forma de regime é melhor para um país", ressalta. "No século 21, a influência de um país não se baseia em armas ou em seu antigo império colonial. Deveríamos ter percebido isso há muito tempo", conclui Araud.

Frank Sinatra e Jay-Z "recriados" pela IA

Já a revista do L'Obs questiona a inteligência artificial na indústria musical, lembrando o músico francês Sylvain Richard que, sem querer, "recriou a voz do rapper Jay-Z usando inteligência artificial (IA), com um resultado incrivelmente confiável". "Lançada no final de março, a música explodiu nas redes sociais norte-americanas, acumulando mais de 6 milhões de ouvintes e provocando um debate em todo o mundo da música sobre a apropriação do estilo do rapper", publica a revista. 

"O fato é que a experimentação está aumentando. Os engenheiros de som mais espertos estão se divertindo com os códigos, com Frank Sinatra fazendo cover de "Toxic", de Britney Spears, por exemplo", lembra a revista.

O DJ francês David Guetta chegou a causar furor ao transmitir uma faixa techno em um show com a voz do rapper Eminem recriada pela IA. Segundo o L'Obs "às vésperas de uma grande batalha jurídica, o setor está em turbulência, muito mais em relação aos direitos autorais e aos possíveis impactos econômicos, do que em relação à tecnologia". 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.