De problemas familiares a políticas públicas fracassadas: revistas analisam causas de revolta na França
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As revistas francesas desta semana analisam as causas da violência e do caos na França após a morte do jovem Nahel, assassinado por um policial durante um controle rodoviário, em 27 de junho, em Nanterre, na região parisiense. Durante quase uma semana, o país foi palco de saques, depredações, incêndios e agressões contra prefeitos.
"Como chegamos a este ponto?", se questiona Le Point. A revista busca as origens do problema nas relações intrafamiliares, lembrando que Nahel, de 17 anos, "não conhecia o pai" e que, assim como ele, na periferia de Paris, 20% das famílias são monoparentais, e 17% delas têm apenas a mulher como responsável pelos filhos. Em Nanterre, cidade onde o jovem foi morto, esse número chega a 27%. "As mães, corajosas e presentes, são constantemente excedidas pelos apelos da rua", afirma a revista.
Frustração, salários baixos, desemprego mais alto do que em outros lugares: L’Express atribui a responsabilidade da revolta à ineficácia das políticas públicas dos últimos 40 anos destinadas aos bairros menos favorecidos da França.
Territórios esquecidos e polarização
Estes territórios foram "esquecidos" pelos socialistas, após anos de planos de ajuda à periferia que não funcionaram, e passaram a ser alvo de campanhas da esquerda radical, com seus discursos contra a "França imperialista" e seus combates antirracistas. Mas o problema, para a revista, é que nos últimos dez anos, a esquerda abandonou "sua promessa republicana original: mudar a vida" das pessoas.
A mesma constatação é feita pela revista L’Obs. Para a publicação, a esquerda não soube organizar uma manifestação massiva, como os democratas americanos após a morte de George Floyd. Enquanto isso, a direita e a extrema direita conseguiram instalar Marine Le Pen e seus pedidos pela instauração de um "estado de emergência" e a mobilização do Exército no centro dos debates.
A polarização "é sem dúvida o pior risco para o país", afirma a revista. Para L’Obs, a saída para o poder público agora é "desarmar o detonador" da crise: "a relação surda e brutal entre uma polícia que se militarizou e uma geração de jovens vistos como suspeitos".
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