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Justiça francesa mantém prisão preventiva de policial que matou adolescente em subúrbio de Paris

A Corte de Apelação de Versalhes decidiu, nesta quinta-feira (6), manter em prisão preventiva o policial acusado de matar o adolescente Nahel, 17 anos, durante uma blitz em Nanterre, no subúrbio de Paris. O assassinato, que ocorreu em 27 de junho, desencadeou uma série de tumultos em toda a França. Na noite de quarta-feira (5) para quinta-feira (6), cerca de 20 pessoas foram detidas e 81 incêndios ou tentativas ocorreram no país.

A audiência de Florian M. ocorreu na Corte de Apelação de Versalhes
A audiência de Florian M. ocorreu na Corte de Apelação de Versalhes © JACQUES DEMARTHON / AFP
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O policial Florian M., 38 anos, foi indiciado por homicidio doloso (com intenção de matar) no dia 29 de junho, dois dias após o drama. Nesta quinta-feira, a Justiça confirmou a decisão do juiz de instrução de Versalhes, na região parisiense, de prorrogar a sua detenção. O advogado de Florian, Laurent-Franck Liénard, disse que a decisão "era um pesadelo" para seu cliente.

O inquérito que apura as circunstâncias da morte de Nahel continua em andamento. Em depoimento à Corregedoria, órgão encarregado de investigar os crimes da polícia, Florian negou ter pronunciado a frase "você vai tomar uma bala na cabeça", que pode ser ouvida no vídeo filmado por um pedestre, que viralizou nas redes, e alimentou os tumultos.

O relatório completo do depoimento do policial pôde ser consultado pelo jornal Le Parisien. De acordo com as informações, o policial, explicou em seu depoimento que estava em seu nono dia de trabalho consecutivo e como supostamente errou o tiro que levou à morte do jovem.

De acordo com Florian, às 8h da manhã em Nanterre, ele e um outro colega de moto abordaram a Mercedes amarela que Nahel dirigia, do lado do passageiro. Eles acionaram suas sirenes e pediram ao adolescente e aos outros dois ocupantes do carro que parassem para um controle. O jovem então acelerou, segundo o policial, "a toda velocidade, atingindo de 80 a 100 km/h". 

"Desliga, desliga"

Algumas centenas de metros mais longe, os dois policiais teriam conseguido se aproximar do carro, que ficou bloqueado em um engarrafamento. O policial então correu até a Mercedes e, ao chegar perto do vidro do motorista, sacou sua arma.

Ele então se posicionou na altura do para-brisa do lado do motorista com o revólver na mão direita. Em seu depoimento, Florian explicou que adotou uma posição que o permitiria atirar no braço ou no corpo de Nahel em caso de necessidade. Seu colega teria se posicionado na altura do vidro do motorista.

Em seguida, o policial francês teria gritado "Desliga, desliga", pedindo ao jovem que desligasse a ignição do carro. Uma outra voz, que poderia ser a de Nahel, diz: "Sai da frente!" Uma terceira voz, que pode ser a do colega de Florian, teria dito: "você vai levar uma bala na cabeça." A perícia ainda deverá confirmar essas informações.

Jovens quebram porta de vidro em Nanterre, na periferia de Paris. Os protestos começaram no dia 27 de junho, após o assassinato do jovem Nahel por um policial
Jovens quebram porta de vidro em Nanterre, na periferia de Paris. Os protestos começaram no dia 27 de junho, após o assassinato do jovem Nahel por um policial AP - Michel Euler

Tiro por engano?

O policial conta ter se sentido "acuado" entre a calçada e uma mureta situada atrás dele. Ele temia que Nahel acelerasse, com seu colega pratimente com o corpo dentro do carro. Florian conta, então, que decidiu atirar para evitar que o adolescente atropelasse alguém ou arrastasse seu colega.

Florian afirmou que seu objetivo não era "atirar em ninguém", e muito menos no peito de Nahel. Ele visou a parte de baixo do corpo do adolescente, mas errou na mira quando ele acelerou o carro. Para justificar o tiro, o policial afirma ter pensado que o corpo de seu colega estava dentro do veículo. O outro policial não corroborou essa versão, dizendo que apenas seu braço estava no carro.

No vídeo, fornecido pela polícia rodoviária e analisado no processo, são ouvidas cinco ou seis buzinadas e um barulho de motor. A autópsia mostrou que o tiro mortal que atingiu Nahel no peito primeiro atravessou o para-brisas e o pulso do adolescente.

"Ordem e calma"

Nesta quinta-feira (5), o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que "a primeira resposta ao drama é a ordem, a calma e, em seguida, trabalhar nas causas profundas dos tumultos", os mais graves no país desde 2005.

A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, pediu "tempo", para fazer um diagnóstico da origem da violência. "Não devemos nos precipitar com 'clichês' para dar falsas explicações", disse. A extrema direita francesa atribuiu o drama a um "problema de imigração."

(Com informações da AFP)

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