China registra deflação pela primeira vez em mais de dois anos
Ao contrário das principais economias do mundo, que lutam contra a inflação, a China entrou em deflação nesta quarta-feira (09) pela primeira vez em mais de dois anos, pressionada pelo baixo consumo interno. A deflação é o oposto da inflação, ou seja, a queda dos preços de bens e serviços.
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Se inicialmente esse fenômeno pode parecer bom para o poder de compra, a deflação é uma ameaça à economia, porque em vez de gastar, os consumidores estão adiando as compras na esperança de mais cortes de preços.
Devido à falta de demanda, as empresas são obrigadas a reduzir suas produções, congelar contratações ou demitir trabalhadores e aceitar novos descontos para vender seus estoques, o que pesa na lucratividade, já que os custos permanecem os mesmos. O presidente do Instituto Asia Centre, Jean-François Di Meglio, conversou com a RFI sobre a queda dos preços na China.
“O que acontece na China hoje é a explosão de uma bolha que tem sido construída ao longo dos anos. Em 2015, houve uma queda forte da bolsa valores e a palavra deflação chegou a ser mencionada. Mas foi extremamente peculiar, porque o país estava em um momento de crescimento, em que todo mundo acreditava na capacidade econômica da China. É um crescimento baseado em um efeito de riqueza, que, por consequência, é fundado de um lado nas exportações e do outro no valor dos bens imobiliários. Mas este último sofreu uma grande baixa”, explicou o especilista em China.
Di Meglio destacou ainda que a pandemia foi encarada de forma diferente pelos chineses. A China atuou de forma mais livre na exportação de seus produtos, quando estes eram imprescindíveis para o resto do mundo. “Em contrapartida, quando há uma demanda mais baixa no exterior ou uma crise de confiança, é preciso imprimir bem menos moeda local, o que define a deflação”, acrescentou.
Plano de retomada
Questionado se o governo chinês deveria propor um plano de retomada para a economia, Di Meglio responde que não. “Existe um histórico, eventos que aconteceram em 2008 e 2009, quando houve a crise financeira mundial. A China, para se prevenir, preparou um plano de retomada e pagou muito caro. Em dois anos, o país injetou o equivalente a 10% do seu PIB para imprimir dinheiro, somente para aquecer a economia. E hoje, isso significa que essa bolha criada pela injeção de moeda começa a se desfazer, porque há menos confiança, e menos imóveis são vendidos”, ele explicou.
O Índice de Preços ao Consumidor na China, principal indicador da inflação, caiu 0,3% em julho em um ano, de acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (BNS). Analistas ouvidos pela agência Bloomberg antecipavam queda nos preços (-0,4%), após inflação zero no mês anterior. A título de comparação, a inflação na França foi de 4,5% em junho, e de 3% nos Estados Unidos no mesmo período.
(Com informações da AFP)
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