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Missão da Cedeao deixa o Níger sem encontrar líder dos golpistas; sanções começam a ser aplicadas

A delegação enviada pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) a Niamey em busca de uma solução para a crise deixou o país sem ter se encontrado com o líder da junta militar que tomou o poder nem com o presidente detido Mohamed Bazoum. A Nigéria decidiu cortar o fornecimento de energia ao Níger, que depende em 70% da eletricidade gerada no país vizinho.

Manifestantes protestam contra a França em Niamei, Níger (3/8/23).
Manifestantes protestam contra a França em Niamei, Níger (3/8/23). © AFP
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A missão, liderada pelo ex-presidente nigeriano Abdulsalami Abubakar, buscava alcançar uma "resolução amigável" após o golpe contra o presidente democraticamente eleito, Mohamed Bazoum, afirmou o chefe de Estado da Nigéria, Bola Tinubu, que atualmente lidera a Cedeao.

A delegação, que chegou à capital na noite de quinta-feira (3), deixou o país pouco antes da uma da manhã desta sexta-feira (4), sem ter saído do aeroporto, conforme relatou do correspondente regional da RFI, Serge Daniel.

Antes de embarcar no voo especial fretado pela Presidência da Nigéria, um membro da delegação afirmou: "Passar uma noite em Niamey não seria mais necessário".

A Cedeao impôs fortes sanções a Niamey e deu aos golpistas até domingo para restabelecerem o presidente Bazoum em suas funções, após sua destituição em 26 de julho, sob ameaça de uso da "força".

Em um comunicado televisionado, os militares nigerinos prometeram uma "resposta imediata" a "qualquer agressão ou tentativa de agressão contra o Estado de Níger" pela Cedeao.

A organização da África Ocidental, que suspendeu as transações financeiras com Níger, afirmou que está se preparando para uma operação militar, embora tenha ressaltado que essa é a "última opção na mesa".

Os chefes militares dos países da Cedeao estão reunidos em Abuja, na Nigéria, até sexta-feira, incluindo o representante do Senegal, e estão dispostos a intervir caso o ultimato não seja respeitado.

O presidente Bazoum disse nesta quinta-feira em uma coluna no The Washington Post que o golpe terá "consequências devastadoras para a região e o mundo inteiro" se for bem-sucedido.

Manifestações pró-golpe

Milhares de pessoas expressaram apoio nesta quinta em Niamey aos autores do golpe de Estado de 26 de julho que derrubou Bazoum. Desde então, o mandatário permanece sob custódia dos golpistas.

Os manifestantes foram convocados pelo movimento M62, uma coalizão de organizações da sociedade civil, no dia do 63º aniversário da independência do Níger da França, a ex-potência colonial que mantém 1.500 soldados no território do país para ajudar no combate aos grupos armados extremistas.

"Abaixo a França!", "Viva a Rússia, viva [Vladimir] Putin!", gritaram alguns manifestantes na capital do Níger, país produtor de petróleo e urânio.

"Estamos interessados apenas na segurança, venha da Rússia, China ou Turquia", declarou um dos manifestantes, o empresário Issiaka Hamadou. "Simplesmente não queremos os franceses, que nos roubam desde 1960", acrescentou.

Desde o golpe liderado pelo ex-comandante da guarda presidencial, o general Abdourahaman Tiani, as relações com a França e outros países ocidentais passam por um momento de grande tensão.

Em seu comunicado televisionado, os militares denunciaram vários acordos de defesa com Paris, entre eles os vinculados ao "estacionamento" de tropas francesas no Níger e ao "estatuto" dos militares que participam da luta contra os jihadistas.

Além disso, os golpistas anunciaram que "encerrariam" as "funções" de seus embaixadores na França, Estados Unidos, Nigéria e Togo.

Retirada de estrangeiros   

Pouco antes dessa decisão ser tomada, o embaixador de Níger nos Estados Unidos, Kiari Liman-Tinguiri, havia alertado à AFP que "se Níger entrar em colapso, todo o Sahel entrará em colapso e se desestabilizará".

"A junta deve reconsiderar, perceber que isso não pode ter êxito e evitar um sofrimento inútil e inevitável para nosso povo e devolver o poder", advertiu.

Os Estados Unidos, juntamente com a França, eram os principais aliados ocidentais de Níger e também têm cerca de mil militares destacados no país.

Seu presidente, Joe Biden, pediu a "libertação imediata" de Bazoum e sua família.

Na quarta-feira, os Estados Unidos ordenaram a retirada de seu pessoal não essencial na embaixada em Niamey, e o Reino Unido fez o mesmo nesta quinta-feira.

Desde terça-feira, a França fretou cinco aviões para uma operação de retirada que foi concluída nesta quinta-feira.

O ministro francês das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, informou que 1.079 cidadãos franceses e estrangeiros "estão agora em segurança".

Sanções

A Nigéria decidiu cortar o fornecimento de energia ao Níger, que depende em 70% da eletricidade gerada no país vizinho.

O Banco Mundial, que liberou 1,5 bilhão de dólares em ajuda ao Níger em 2022 (R$ 7,3 bilhões na cotação atual), anunciou a suspensão de pagamentos "para todas as operações e até novo aviso".

Os golpistas enviaram um representante ao Mali e a Burkina Faso, dois países também liderados por militares golpistas e que enfrentam a violência jihadista.

Em um comunicado conjunto, os governos de Burkina Faso e Mali afirmaram que qualquer intervenção armada seria considerada "uma declaração de guerra" e provocaria a saída dos países da Cedeao.

Em Niamey, o general Tiani declarou, em discurso exibido na televisão na quarta-feira, que rejeita as sanções e se nega "a ceder a qualquer ameaça".

"Rejeitamos qualquer interferência nos assuntos internos do Níger", afirmou.

Por sua vez, a Rússia, que havia pedido na segunda o "retorno à legalidade", defende o diálogo "para evitar o agravamento da situação".

(com AFP)

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